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2078 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 110

estrutura de certo modo sofisticada pelo longo decurso de dezenas, de anos, se transformasse miraculosamente de um instante para o outro, adquirindo sem mais delongas a fisionomia que pretende imprimir-se-lhe, que deve imprimir-se-lhe em obediência à letra e ao espírito da nova lei orgânica que se lhe outorgou. Por isso os impacientes não deverão desesperar por não assistirem no Plano, de facto, a transformações súbitas ou tão vertiginosas como a sua impaciência reclamaria.
O período de 30 dias atrás referido terá sido talvez necessário, mas não suficiente, para preparar o começo da execução do decreto-lei. Permitiu, pelo menos, que sobre ele fossem feitas, tempestivamente, considerações de vária ordem, indicando-se os motivos pelos quais muitos viam a execução daquele diploma com as mais sérias apreensões.
Em contrapartida, os impacientes, pelas transformações súbitas e vertiginosas, puderam considerar dispensável aquele prudente aviso, pois as ditas transformações vieram antes que tivessem tempo para desesperar.
É certo que não houve ainda possibilidade de elaborar, ou pelo menos de publicar, os regulamentos a que atrás se alude como necessários e que o próprio decreto-lei impõe no seu articulado. (Note-se, contudo, que o primeiro regulamento da Mocidade Portuguesa foi aprovado cerca de sete meses depois do decreto-lei que criou a Organização.)
É também certo que não houve ainda ocasião para formar o conselho consultivo previsto no artigo 14.º, cuja importância, aliás, foi especialmente realçada e que me parecia poder ter, nesta fase inicial, certa utilidade.
Mas nenhum destes factos entravou a actuação dos que têm hoje à sua responsabilidade a execução da reforma preconizada em 12 de Novembro de 1966.
Através de reuniões de trabalho da direcção da Mocidade Portuguesa com os seus actuais e futuros colaboradores e de algum expediente interno, têm sido produzidas as indispensáveis considerações ou indicações sobre o espírito do diploma, para que, à luz do seu artigo 61.º, se possam considerar eliminados os regulamentos antigos (e ainda não substituídos), que com aquele espírito colidem.
Confirmou-se assim, por exemplo (o que do texto legal já se aduzia), que na Mocidade Portuguesa já não há filiados. Há simplesmente rapazes, ou alunos, subordinados de certa forma a um departamento que se chama Mocidade Portuguesa. E não sei por que não adoptou antes a designação de «beneficiários», expressão já consagrada pela Previdência e que ficaria muito bem, em face do vasto desenvolvimento que agora se pretende dar à acção social escolar, e até em conformidade com as expressões escolhidas para o texto do artigo 30.º do diploma.
Já se não fala também em farda, fala-se em trajo, e pensa-se até, quem sabe, como elemento de identificação, numa simples gravata de riscas, como é do uso nalgumas universidades estrangeiras.
Quanto à bandeira de D. João I, começa já a entender-se que há conveniência em substituí-la por outra ou outras talvez relacionadas com centros de actividades circum-escolares, que são parte integrante dos estabelecimentos de ensino e nada têm de Mocidade Portuguesa, nome, aliás, que já não figura sequer nas fichas ou impressos destes centros.
É bem compreensível, aliás, que, não havendo, filiados da Mocidade Portuguesa, não têm cabimento na orgânica, que terá de basear-se no Decreto-Lei n.º 47 311, nem bandeiras, nem fardas, nem hinos, nem saudações, nem tudo o mais que tanto vinha incomodando os mais progressivos e evoluídos.
Aqueles e outros condimentos que comprometem só se tornam, aliás, necessários quando se pretende guiar e educar uma massa mais ou menos vultosa de jovens e se deseja, através de um movimento de juventude, criar neles o culto da Pátria.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Aliás, os que se incomodam com aqueles comprometedores condimentos são os mesmos, normalmente, que se afligem com a formação nacionalista da juventude, por recearem, como a U. N. E. S. C. O., que essa formação dificulte a solidariedade internacional. São os mesmos que consideram puro desperdício de pessoas e dinheiro a luta em África e fazem diligências para ficarem comodamente por cá, enquanto os outros se batem.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Mas, por ora e pela falta dos textos legais cuja publicação se aguarda e que terão de ser não só complementares, como esclarecedores dos aspectos menos bem definidos no diploma-base, a situação na Mocidade Portuguesa actual é ainda algo confusa sobre aquelas matérias.
É, pois, muito provável que, enquanto se não deteriorarem com o tempo, nós vejamos, por alguns anos mais, fardas e bandeiras da antiga Mocidade Portuguesa numa ou noutra oportunidade especial e, sobretudo, nos salões nobres que por este País abundam, servindo, em dias de sessão solene, de moldura decorativa às clássicas e torcidas mesas de mogno.
Recorde-se, em todo o caso, que a Mocidade Portuguesa, como vem sendo explicado por quem de direito, ao longo dos meses já decorridos, termina nos delegados distritais. Quer isto dizer que é actualmente e apenas constituída pela direcção, pelos conselhos consultivo e administrativo, inspectores orientadores e delegados distritais.
É, portanto, um departamento oficial onde só há adultos, e isso mais realça a inadaptação às suas actuais características do nome juvenil que inadequadamente conserva, mas que lhe permite poder continuar a utilizar como sede o Palácio da Independência.
Como se sabe, foi este adquirido, em 1940, por subscrição dos portugueses radicados no Brasil, para nele se instalar a Organização Nacional criada em 1936 e que, pela sua estrutura, mereceu aos nossos irmãos de além-Atlântico o maior carinho e aplauso.
É do conhecimento de VV. Ex.ªs que, como um dos primeiros graduados que fui da Mocidade Portuguesa, faço parte da sua Liga dos Antigos Graduados. Mas talvez seja só do conhecimento de poucos que fui um dos seus cinco fundadores, há 26 anos, facto que revelo com manifesto prazer.
Presentemente, contam-se por largas centenas os associados da Liga dos Antigos Graduados e, quaisquer que sejam os seus sectores de actividade e os lugares hierárquicos que neles ocupam, sempre se orgulham da sua qualidade de antigos graduados da Mocidade Portuguesa e sempre revelam firmeza e coerência nas suas atitudes, em inteira conformidade com a formação recebida na Organização Nacional a que pertenceram.
Este numeroso e coeso número de portugueses (muitos dos quais já com notória experiência da vida e com bons serviços prestados à Nação) entendeu que não poderia, colectivamente, alhear-se de alguns dos problemas fun-