24 DE FEVEREIRO DE 1968 2543
acondicionamento terão ainda que apresentar embalagem decente e condigna, e que, infelizmente, nem sempre assim sucede com os nossos produtos.
Outro factor, a meu ver, igualmente importante para se conseguir o fim em vista, é o da propaganda nos locais ou regiões aonde esses produtos se destinam. Sem uma propaganda bem orientada e de vistas largas, dificilmente um produto, novo ou velho, poderá conquistar ou manter posição de relevo no mercado. Basta atentar-se na propaganda da Coca-Cola, Pepsi-Cola, Seven-Up, e te., produtos por de mais conhecidos no Extremo Oriente e que, no entanto, não cessam de despender verbas consideráveis com a sua propaganda.
O mesmo acontece com as diversas marcas de cigarros americanos e ingleses lançados no merendo oriental.
De igual modo os vinhos, conservas e queijos franceses e italianos são, a- cada passo, anunciados nos jornais das principais cidades do Oriente, - como sejam Hong-Kong, Tóquio, Manila. Banguecoque, etc., em grandes parangonas e com resultados positivos.
Presentemente, no Extremo Oriente, excluindo Macau. dos nossos produtos, infelizmente, quase se não fala, por serem, na sua maioria, desconhecidos: como honrosa excepção citarei os vinhos Mateus Rose, Sondem em e Macieira, que, de quando em vez, aparecem anunciados na imprensa de Hong-Kong, ignorando se o serão também nas outras cidades atrás referidas.
É de facto lamentável que tão pouco se tenha feito, e, como português, entristece-me verificar o desinteresse dos industriais e produtores portugueses pêlos mercados do Extremo Oriente, onde a nossa permanência de quatro séculos, em situação especialíssima, poderia ter assegurado uma posição de relevo que não soubemos ou não quisemos aproveitar.
Mas talvez ainda- não seja tarde; o mercado é imenso, e as suas possibilidades, praticamente ilimitadas.
Impõe-se o apoio e auxílio do Estado e uma conjugação racional de esforços por parte dos industriais e produtores portugueses para se conseguir o fim em vista.
Com engenho, boa vontade e perseverança conseguiremos também ocupar o lugar que nos compete no mercado mundial.
Disse.
VOZES: - Muito bem, muito bem!
O orador foi muito cumprimentado.
O Sr. Calapez Gania: - Sr. Presidente e Srs. Deputados: AS coutas gerais do Estado de 1966 e o seu notável parecer situam-se, uma vez mais, naquela linha de continuidade que tem dignificado a nossa administração e contribuído para prestigiar esta, Câmara. Antes de me referir a alguns dos seus aspectos, permita-me V. Ex.ª, Sr. Presidente, que apresente as minhas respeitosas homenagens ao ilustre Deputado Sr. Engenheiro Araújo Correia, distinto relator deste parecer. Quero agradecer-lhe, especialmente, a clareza da sua análise, que permite, até aos profissionalmente não preparados para essa árdua tarefa, com a compreensão dos diversos problemas económicos nacionais.
Sobre este ano de 1966 soube S. Ex.ª alertar-nos quanto à relevância representada pelo acréscimo verificado nas receitas totais, que quase atingem 20 milhões de contos, com 16 942 496 contos para as receitas ordinárias, e ao pequeno desenvolvimento do produto interno bruto.
Parece-nos que o esforço tributário exigido pêlos acontecimentos de África não poderá, só por si, explicar tais anomalias.
Porque, de harmonia com os pareceres dos anos anteriores, a dizerem-nos que «tudo leva, pois, a crer que os financiamentos de guerra também concorrem para a melhoria do produto e não foram sem proveito económico os gastos de tão elevadas somas», temos de encontrar n explicação das insuficiências e atrasos nos instrumentos de produção.
Também, quanto a nós, é este o magno problema, agora agravado pela sangria das correntes migratórias, internas e externas. E, sendo o capital humano o mais alto potencial de desenvolvimento do País, não podemos assistir à sua sistemática delapidação sem sentirmos a mais grave preocupação. Por isso, louvamos o Sr. Deputado Nunes Barata pela oportunidade e necessidade dos esclarecimentos que, sobre esta matéria e com tanto brilho, está a trazer a esta Assembleia. Damo-lhe todo o nosso aplauso e temos a certeza de que tão importante e exaustivo trabalho encontrará a melhor receptividade nos departamentos responsáveis. Porque, além do mais, a nossa juventude, que tão corajosamente tem defendido e honrado o nosso querido Portugal, não poderá continuar a encontrar, no seu regresso e para satisfação das suas legítimas aspirações, só aberto o caminho da emigração.
De tudo isto, Sr. Presidente e Srs. Deputados, se tira a ilação de que não podemos continuar a considerar o esforço da guerra que nos impuseram como algo de transitório na sua repercussão económica. Os sacrifícios de ordem económica não podem ser suportados, indefinidamente, por sobrecargas fiscais, pelo que se torna necessário fazer «depressa c em força» a sua adaptação a nossa estrutura económica.
Em boa hora o Governo, por intermédio do III Plano de Fomento, enfrentou tal conjuntura c programou as soluções. Mas, para que não sofra delongas na sua aplicação, é necessário dar aos serviços os meios suficientes, admitindo até para a sua obtenção seguir caminhos diferentes dos habitualmente trilhados.
Há que ter em conta- que é muito alto o juro que se paga pela perda emigratória de grande parte cia nossa população activa!
Não podemos continuar a exportar «músculo» quando tanto necessitamos de cérebros aptos em corpos sãos para o nosso desenvolvimento.
Sr. Presidente e Srs. Deputados: Depois destas considerações e fiel à linha de rumo - factor humano - que as enforma, permitam-me VV. Ex.ªs. que mo debruce sobre alguns capítulos cãs contas gerais do Estado.
Por condicionalismo pessoal, não posso deixar de me referir & situação angustiante vivida pela maioria dos habitantes da minha querida província do Baixo Alentejo.
Tendo, embora, os lavradores as suas explorações situadas na zona metropolitana de maior dimensão e que melhores possibilidades oferece, atónitos, verificam, na sua grande maioria, que ano após ano piora a sua situação económica. É tudo isto, basicamente, porquê? Por, erradamente, seguirem, por não haver outra opção, determinado tipo cultural.
Assim, temos, numa área total do mais de l milhão de hectares, somente 200 000 com aptidão agrícola para as culturas arvenses mais usuais. No entanto, a ocupação actual das referidas culturas atinge os 650 000 ha, donde resulta, pelo menos, um desequilíbrio cultural numa área aproximada de 350 000 ha.
Desde sempre se verificou tal assimetria, mas, no presente, tudo se precipitou mais rapidamente, porque desapareceu o precário equilíbrio existente quando se deixou de ter ao dispor barata e abundante mão-de-obra.
O recurso à máquina foi, na maior parte dos casos, mais uma ilusão e só restou a esperança do auxílio estatal, por