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2 DE MARCO DE 1968 2595

Quando, em 4 de Março de 1960, se procedeu à abertura das propostas do concurso internacional para a construção da ponte de Lisboa, apenas um dos concorrentes - a United States Steel, Co. - preenchia o requisito de assegurar o financiamento externo. A este seria, portanto, feita a adjudicação provisória da obra, em 28 de Maio de 1960.

O custo respectivo seria financiado por meio de empréstimos a conceder, respectivamente, pelo Export Import Bank of Washington e pela Banque Séligman, de Paris.

Porém, no firmamento da política americana a estrela da- administração Eiscnhower empalidecia.

A 9 de Novembro Kennedy é eleito presidente; a 20 de Janeiro seguinte presta juramento. Com ele a geração da "nova fronteira" conquista o poder nos Estados Unidos c em breve virá jogar todo o peso do apoio da grande nação americana na campanha anticolonialista em que se pretendia envolver Portugal "e mesmo, para bem operar a divisão das forças adversas, quase só Portugal".

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Em Nova. Iorque a O. N. U. votara mais uma voz contra nós (15 de Dezembro de 1960).

Mas a campanha antiportuguesa, conquanto fosse "por assim dizer oficializada nas Nações Unidas, dispunha fora delas os bens órgãos de divulgação c de acção subversiva".

A prová-lo, em 22 de Janeiro desse ano de 1961, à l hora e 30 minutos, dava-se o assalto ao Santa Maria. Era apenas a primeira etapa, a "apresentação do problema" À escala mundial, segundo a mais para estratégia leninista.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Daí em diante, a cronologia dos golpes desferidos contra Portugal passará a crepitar amiudada-inente nos teletipos da imprensa de todo o Mundo.

Quando, em 4 de Fevereiro seguinte, termina a aventura pirata do Santa Maria, com a entrega do paquete pelas autoridades brasileiras ao adido naval da embaixada portuguesa, e por este ao representante da empresa armadora, o nosso ilustre e venerando colega Dr. João do Amaral, mal suspeitaríamos estar apenas a algumas horas do assalto ao presídio de Luanda, o primeiro acto de terrorismo organizado no território de Angola.

A 13 de Fevereiro, a U. R. S. S. Ameaça fazer nova intervenção no Congo, como consequência da morte do Luinumba.

"Literalmente a África arde; arde mesmo nas adjacências da fronteira portuguesa" - diz Salazar. Mas não só a África.

"A União Indiana, para se refazer do prestígio abalado tomou afincadamente na O. N. U. a chefia da oposição afro-asiática contra Portugal, na esperança de. multiplicando as dificuldades pêlos vários territórios portugueses, sentir maiores facilidades para as suas pretensões quanto a Goa. E não só quanto a Goa, mas quanto ao leste africano em que tem postos os olhos."

De 10 a 15 de Março seguinte repetem-se na reunião do Conselho de Segurança os ataques contra Portugal, que terminam com a resolução sobre n situação de Angola.

Sincronizado com a discussão da O. N. U., e obedecendo ao mesmo comando, irrompe, a partir do dia 14 com "feroz sanha assassina, o terrorismo nas matas, fazendas c povoações do distrito de Uíge".

E a 18 desse trágico mês de Março, conformo escreve textualmente Theodore Sorensen, o insuspeito biógrafo e conselheiro de Julm Kennedy, "Portugal, nosso aliado na O. T. A. N., teve de enviar, precipitadamente, tropas para Angola, para reprimir uma revolto, apoiada por africanos, amigos da América".

Era a guerra. A dura, longa, traiçoeira, enervante guerra subversiva que nos era imposta. O rastilho imprudentemente ateado em Nova Iorque, onde os Estados Unidos, desde Março de 1961, passaram a apoiar ostensivamente o grupo afro-asiático votando com a Rússia contra Portugal, deflagrara agora no Norte de Angola, pouco depois na índia, passaria à Guiné e a Moçambique.

A 13 de Abril Salazar assumiu a pasta da Defesa Nacional: "andar rapidamente e em força é o objectivo que vai pôr à prova a nossa capacidade de decisão" - afirma.

Com essa decisão histórica, a Nação c o seu Chefe, nesse momento quase sem apoio e decerto com a incompreensão de tantas nações amigas do Ocidente - "orgulhosamente sós" - empreenderam o duro e longo caminho da resistência que levará à vitória. Por quanto tempo? Indefinidamente, rematará Salazar.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Não faltaram depois, como até aí, as resoluções condenatórias da O. N. U., nem o crime, sancionado com o veto da Rússia, da dolorosa invasão de Goa pela União Indiana, ou o alastramento da guerrilha a novas frentes, nem as tentativas falhadas de subversão interna, o recrudescimento da acção das centrais de Pequim. Moscovo, Aora, Conacry ou Argel.

No entanto, pelo caminho dos adversários c dos amigos que nos voltaram então as costas também o tempo assinalou o desgaste, os actos de atrição e as desilusões, as próprias colunas partidas: o desastre da baía dos Porcos e a crise dos mísseis de Cuba. o Vietname, o alastramento da influência comunista na África equatorial e no Mediterrâneo, a demissão de Jânio Quadros e a queda de Goulart, a morte do Sr. H. no Congo e o crime de Dálias . . .

Lentamente, a compreensão do Ocidente quanto aos seus verdadeiros interesses, face à estratégia envolvente que o inimigo contra ele dispõe no sentido de dividir-lhe as forças vai-se afirmando.

A ameaça comum da guerra subversiva aproximou os países da África austral, mais que nunca solidários na defesa e cônscios das vantagens de uma cooperação regional intensa em matéria económica e social.

Apesar da guerra que desabou sobre as nossas fronteiras distantes e do assédio internacional que sustentamos, o Governo não vacila, a Nação progride, os Portugueses lutam mas não cedem.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - E a ponte de Lisboa?

Sem hesitações - apesar da gravidade dos acontecimentos internos e internacionais, que, outrora só por si teriam sido suficientes para cilindrar governos ou derrubar um regime - assistimos ao contrato do Governo Português para execução da obra (25 de Fevereiro de 1961), à aprovação do projecto definitivo, que correspondeu à adjudicação definitiva em 9 do Maio de 1962, ao contrato com o Eximbank em 21 de Agosto seguinte, no início da obra em 5 de Novembro. Seis meses antes do prazo celebrámos a sua inauguração solene.

Nessa manhã de Agosto, ao som do "Aleluia" de Haendel, completou-se o esforço de um século debruçado sobre a empresa de aproximar, por sobre o largo Tejo, as duas metades do Portugal continental.