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DIÁRIO DAS SESSÕES N.° 199
Há dias encontrei alguém a quem Deus fez a mercê de conceder abundantes bens materiais. Reparando na sua tremenda ausência de juízo sobre o momento que estamos a viver, avisei-o:
Segues no cortejo. E vais sentado. Mas olha que as rodas partem-se e és baldeado no chão. Apeia-te já e pega em armas, como eu. Não te fies nas ajudas que dás ao próprio inimigo, imaginando que ele te poupará. Desce, ilumina o teu querer. Faz da tua abundância um meio lícito de combate, praticando o bem que puderes. E julga-te, ao mesmo tempo, pobre, pois sentirás assim a comoção da vanguarda que luta pelo enobrecimento da riqueza e da pobreza, para que uma não exclua a outra e ambas alcancem a sua dignidade com inteligência e compreensão.
Não sei ainda se o meu interlocutor já se decidiu a marchar ao toque do meu aviso, mas espero-o nas fileiras com fé na fé de o salvar.
Pior do que os comunistas são os progressistas, que lhes aceitam a mão estendida, julgando captá-los e serem captados para um convívio de fraternidade. Redobradamente piores e redobradamente cegos, visto que se afirmam cristãos e desse modo se iludem, podendo iludir outros cristãos.
Um dos recentes chefes comunistas, o mesmo que, em referência aos católicos, havia já afirmado: «conversemos com eles enquanto não os enterramos», ao aludir à necessidade de formar a geração do comunismo desde a infância, «pois é preciso orientá-la e temperá-la na juventude, cuidando para que em seu meio não existam moralmente taras», colocou, com terrível insistência, entre as «taras» a combater particularmente as decorrentes da religião, que impede — segundo declarou — o crescimento espiritual dos homens.
Essas expressões, aliás rudes e assaz elucidativas, ficaram ligadas ao Novo Programa, de 1961, do Partido Comunista. Essas expressões e tantas outras, entre as quais a seguinte: «No projecto do programa atribui-se grande importância à formação nos soviéticos de uma concepção do mundo científico e progressista».
Acresce que os programas do Partido Comunista são sagrados — salvo seja —, ou melhor, são para serem cumpridos à risca e a rigor.
E fala-se então de diálogo com os comunistas, como se o diálogo fosse possível.
Para haver diálogo é preciso haver boa fé recíproca, condição de ouvir e de responder em termos inequívocos, espírito de lealdade plena e, sobretudo, ideias e princípios susceptíveis de diálogo.
Os cristãos que pensam em entregar o poder temporal aos comunistas, ficando com o espiritual, não passam de traidores no salto, ou de agitados na perda do senso, ou de vítimas no transe da ilusão.
Misturem as pombas com os milhafres e os lobos com os cordeiros e, dentro em pouco, desaparecerão os cordeiros, ficando os lobos de ventre nutrido, e as pombas deixarão de voar, comidas pelos milhafres de asa redonda.
É a juventude — a juventude enredada no processo comunista, ou na trama progressista, ou na teia anarquista, ou delirante na contestação total, na embriaguez de destruir, na evasão pela droga?
Para onde vai essa juventude?
E que fazem os adultos?
Estão unidos para barrarem já os horizontes à loucura desses jovens, a fim de transformarem os próprios horizontes nas únicas perspectivas terminantemente aceitáveis?
Há pouco tempo, em Paris, foi a revelação da revolução. Uns tantos estudantes — uns tantos e não sei quantos — não se limitaram a alterar a ordem e a desrespeitar a autoridade. Implantaram a desordem em locais e edifícios que tomaram de assalto, estragando valores apreciáveis, incendiando outros, e atirando pragas e pedras.
Chegaram a pensar — e isto é espantosamente horroroso — em ir ao Museu do Louvre e retirar de lá, para lhes servirem de escudos com as medidas convenientes, quadros de raro valor, sem se importarem de que na refrega os quadros se perdessem.
Como hão-de existir preciosidades antigas ou novas para estes moços, se as únicas coisas preciosas para eles são o gosto da violência, a raiva contra a ordem estabelecida, a destruição de tudo e de todos — a concepção diabólica do nada?
Dizem-me que entre nós se verificaram já certos actos de revolta e até o arvoramento do retrato de um traidor que traiu a Pátria.
Mas nem a Universidade, nem a Igreja podem servir de baluartes para traidores contra a Pátria, e muito menos para traidores vomitarem fogo dos baluartes, contando com as leis e os tabus que os protegem.
Estamos nas fronteiras de Portugal de além-mar empenhando vidas e esforços. O inimigo ou ê traidor ou é mercenário. Vamos consentir no meio de nós ilhas de mercenários e de traidores?
Vi que o autor da legenda citada no princípio do meu discurso, depois deste passo vibrante de razão e indignação, se recolhia, como quem está moendo uma mágoa e precisa de considerar em que ponto vai o grão da sua dor.
A seguir acrescentou:
Em política tenho sido como um dia nos trópicos. Levaram tempos a dizer-me: és novo. De repente, buzinaram-me: és velho.
Assim, a idade da minha maturação, porventura a mais activa e mais útil, desenvolveu-se em termos de luta sem ajudas, e nem por isso deixei de ser fiel aos princípios.
Em dada altura fui vítima de condenáveis licenças jornalísticas. Recorri aos tribunais. Estava já o caso averiguado e os difamadores iam ser julgados, quando surgiu uma amnistia.
O Poder tem o direito de perdoar, mas não deve perdoar os crimes que ofendem a honra de cada qual. Não passei procuração ao Poder para perdoar em meu nome. E se, em face do perdão que não concedi, me entregasse ao desforço pessoal, não beneficiaria, certamente, de amnistia nenhuma. As injúrias e as difamações não devem ficar de pé por meio de actos de clemência que não derivem da vontade dos próprios ofendidos. Acresce que as sociedades e os regimes podem dissolver-se sob a pressão das difamações maquinadas pelas forças da subversão.
Em determinadas publicações, designadamente importadas, afia-se com particular e ofegante insistência a ideia de participação de todos na vida pública. Da participação de todos, nem que a participação directa acabe por ser a de alguns. Estamos sob a ofensiva dos aos: participação, confrontação, contestação, alienação, negação. Assim, quando nos referimos à participação de todos, temos e teremos de acentuar de cada vez mais e bem, na teoria e na prática: de todos os verdadeiros e bons portugueses.