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DIÁRIO DAS SESSÕES N.° 199
Sr. Presidente: No decurso desta legislatura ocorreram acontecimentos dolorosos e da maior transcendência política e social que perturbaram profundamente a tranquilidade e a confiança no rumo em que vínhamos caminhando há muito tempo. O Sr. Presidente Salazar, com prudência e firmeza, de tal maneira conduzia os destinos da Nação que há muito o País se habituara a confiar nos rumos por ele traçados. Fomos a certa altura tràgicamente surpreendidos pela verificação de que as estações da vida, tal como as estações do ano, são irreversíveis e pela verificação de que a eternidade não é um atributo do homem, mesmo quando ele excede a craveira normal da humanidade. A árvore majestosa ruiu, deixando aberta uma clareira sinistra. Foi como um sismo que ameaçasse os próprios alicerces do edifício magnífico que com mão sábia e pacientemente foi levantando ao longo dos tempos. A perturbação nas consciências e nos espíritos foi geral, desde os lares mais humildes aos dos mais qualificados responsáveis. Das preces de milhões de portugueses ascenderam ao alto os rogos ardentes pelo seu restabelecimento e regresso às altas funções que exercia. Neste fecho de sessão, entendo que devemos prestar as nossas homenagens ao ilustre enfermo, a essa figura egrégia da nossa história, honra da nossa bandeira, cuja ausência da cena política portuguesa constitui hoje e constituirá durante muitos anos uma imensa saudade nacional.
Vozes: —Muito bem, muito bem
O Orador: — Sr. Presidente: Ainda não nos tínhamos refeito do abalo sofrido pela doença do Sr. Presidente Salazar quando de novo um golpe difícil nos atingiu. Fomos privados da presença do Sr. Prof. Dr. Mário de Figueiredo, por motivo' de doença que o fez recolher ao hospital. Faço aqui, Sr. Presidente, tendo a certeza de que sou acompanhado por todos, os mais ardentes votos pelo regresso ao seu lugar nesta Casa, onde a sua figura de traços severos, mas que encobria um coração transbordante de ternura, se moldou por forma imperecível.
Vozes: —Muito bem, muito bem!
O Orador: — Sr. Presidente: O Sr. Presidente da República, nos desvairados momentos que atravessámos, conseguiu manter intacta a sua lucidez, exacta a consciência das suas responsabilidades, inabaláveis a sua coragem e espírito de decisão. E por esta forma ele acrescentou àquela imagem paternal que se tinha entranhado na alma amorável do povo português os traços fortes do Chefe, mas de um Chefe que não oprime nem esmaga, de um Chefe em cuja resposta aos acontecimentos a Nação crê e confia.
Vozes: —Muito bem, muito bem!
O Orador: — E a resposta que ele deu ao trágico acontecimento da doença do Dr. Salazar foi a designação imediata do seu sucessor como Presidente do Conselho. Chego aqui a um ponto, Sr. Presidente e Srs. Deputados, que para mim é muito melindroso. Eu tenho, por temperamento, o maior respeito pelo poder constituído, e esta minha atitude é incompatível com a lisonja e com o panegírico. Todavia, seria, sem dúvida, faltar à justiça não prestar essa mesma justiça à decisão do Sr. Presidente da República e ao homem que em boa hora escolheu para suceder a Salazar. O Prof. Marcelo Caetano, pelo seu passado, pelo seu saber de experiência feito, pelo alto prestígio que conquistou no exercício de elevadas funções públicas, pela sua categoria intelectual, constitui uma esperança, mais que uma esperança, uma garantia da continuidade do renascimento nacional.
Vozes: —Muito bem, muito bem!
O Orador: — Devemos-lhe o nosso apoio e amparo incondicional.
Vozes: —Muito bem, muito bem!
O Orador: — Livre-nos Deus da ganga das pequenas coisas inferiores que separam e enfraquecem. Procuraremos manter entre nós a união indispensável para que efectivamente os homens que nos governam vejam fortalecida a consciência da sua missão pelo nosso amparo e apoio.
Vozes: — Muito bem, muito bem!
O Orador: — Sr. Presidente: Devo agora uma palavra a V. Ex.ª, mas antes não quero deixar de agradecer ao Sr. Deputado Castro Fernandes as palavras de gentil amizade com que quis sensibilizar-me na alocução que há pouco proferiu. Sr. Deputado Castro Fernandes, muito e muito obrigado.
Sr. Presidente: Ascendeu V. Ex.ª à presidência efectiva desta Assembleia por motivo do doloroso acontecimento da falta de saúde do Sr. Dr. Mário de Figueiredo. A atenção de V. Ex.ª, sempre desperta a tudo o que passava nesta Assembleia, a sua intuição rápida e aguda das situações e até o descontraído bom humor com que de vez em quando esmalta os debates nesta Assembleia justificaram o vivo interesse pela figura de V. Ex.ª, não só dentro da Assembleia, mas em todo o País.
Não quero ver encerrada esta sessão sem primeiro lhe testemunhar o meu reconhecimento pela extrema boa vontade com que V. Ex.ª procurou aligeirar o fardo das minhas funções de leader. Sem ela, suponho que soçobrariam os meus já frágeis e cansados ombros.
Vozes: — Não apoiado!
O Orador:—Sr. Presidente, vem de muito longe o nosso encontro na vida. Pudemos seguir durante muitos anos os caminhos nem sempre soalheiros e nem sempre rectilíneos da vida política, sem que nunca o veneno das insinuações amáveis e o cepticismo que às vezes dominam os homens pudessem ensombrar a nossa amizade e entendimento. É-me grato, neste momento, recordar esta nossa peregrinação pelos caminhos acidentados da vida política, mas felizmente chegámos até aqui resistindo a todos os acidentes. Eu quero renovar os meus agradecimentos pelo entendimento e colaboração que V. Ex.ª me dispensou, desejar-lhe muita saúde e afirmar-lhe que estes meses em que tive de procurar a colaboração de V. Ex.a nesta Assembleia constituirão sempre, na memória do meu coração, felizmente ainda resistente, a melhor e a mais grata das recordações.
Srs. Deputados: Vamos separar-nos, e eu não queria partir sem lhes testemunhar também o meu reconhecimento pelo ambiente de carinho, pela sensibilizante vontade de facilitar a minha missão e dizer-lhes quanto admirei a vossa dedicação a esta instituição política e o vosso sentido das responsabilidades. Vamos separar-nos, mas continuamos sempre unidos numa estreita solidariedade e comunhão de aspirações e esforços, na comunhão das verdades fundamentais do nosso ideário político e