16 DE DEZEMBRO DE 1970 1183
tencialidades no grande porto do Lobito, com estaleiros navais a produzir para a Nação e para o estrangeiro.
Por toda a parte se multiplicam as escolas e as oficinas, crescem as unidades industriais.
A corrida ao ensino é um dos grandes triunfos dos últimos tempos.
As estatísticas revelam números surpreendentes! 100 000 para 400 000, o aumento de alunos do ensino primário na década de 1960-1970. Percentagens semelhantes no ensino médio e 1500 alunos a frequentar o ensino superior.
Este fenómeno provoca justificados receios.
Pensa-se que muito falta fazer para garantir aos jovens africanos uma futura actividade compatível com a preparação que estão a fazer.
Mas exprime-se esse pensamento com uma ansiedade exigente.
Angola está a fazer muito, mas exige muito mais de si própria. Não perdoa àqueles que a servem mal; queixa-se dos inoperantes e dos desregrados.
Em todas as sedes de distrito foram trazidas ao nosso convívio as entidades mais representativas da vida activa da província, tanto no sector público como privado.
Bateram-nos no ouvido algumas fantasias de quem precisava tanto vir à metrópole como nós precisamos de ir ao ultramar; falou-se em voz alta e em voz baixa, mas sempre a linguagem da Pátria intangível, aquém e além-mar. Surgiram ideias quase intraduzíveis, mas válidas na sua pureza. Entre alvitres e palpites, muitas ideias sãs e conceitos judiciosos.
É claro que quem só pode ver em ângulo, arrisca-se muito quando pretende ver em redondo.
De qualquer modo, nas concepções mais arriscadas do cidadão evoluído ou na simplicidade daquele que ainda ignora que há muito é servido por um Conselho Legislativo, cabe um mundo de sonhos e boas intenções.
E é ainda com boa intenção que se pede melhor programação para alguns investimentos, com crítica mordaz à improvisação. Fala-se muito na necessidade de crédito a longo e médio prazo.
Com a consciência das potencialidades angolanas, patentes nas suas inúmeras riquezas, os mais animosos pretendem ganhar uma dianteira que os furte à cobiça dos nossos artificiosos delatores.
Sente-se que são precisos muitos mais brancos para levar a cabo a tarefa em que a colaboração dos nativos é preciosa, mas manifestamente insuficiente, sobretudo na especialização. A palavra «povoamento» está na ordem do dia, mas, efectivamente, reconhece-se que é preciso preparar o ambiente para o povoamento que se deseja.
Citam-se factos e números, exige-se mais e mais, e às vezes, sem saber de quem.
Compreende-se este estado de ansiedade numa hora tão decisiva. Não deve o Governo Central ou local ignorar ou desacompanhar este estado de espírito, já que ele traduz a vitalidade de uma raça mais uma vez despertada para grandes tarefas. Certamente acompanha, numa acção moderadora, os impulsos deslocados das realidades que nem sempre estão à vista.
Depois deste exame, desta auscultação, informação e estudo, é fácil acreditar-se na paixão inspirada por uma África que já se estimava e admirava muito.
É fácil ficar-se preso e acreditar sem reservas na África das florestas do Maiombe, dos petróleos de Cabinda e Luanda, do ferro de Cassinga, dos diamantes da Lunda, do cobre, do manganês, do enxofre, dos calcários asfálticos. Na província que está a fazer mais de 500 km de estrada asfaltada por ano; na Angola do café, do algodão, do açúcar e do sisal; dos homens de rija têmpera que ali mourejam, dos europeus que se fizeram africanos porque não são racistas, dos africanos, que querem ser europeus, já que a cor os não impede de serem portugueses de Angola, onde nasceram sob a bandeira de Portugal.
Também por isso se deseja que a acção meritória dos sindicatos locais ganhe forma e amplitude numa Previdência ao nível metropolitano, para que se atinja, por essa via, junto de algumas empresas, uma equiparação ao exemplar comportamento daquelas que já actuam preocupadas com uma acção social integrada aio pensamento dos nossos dias.
É no encadeado deste raciocínio que se procura isolar a posição faltosa dos que sirvam mal os interesses da Nação em Angola, com apatia, excesso de burocracia ou falta de dedicação.
Mas fica uma confiança sem reservas em tantos governadores e outros dignos servidores da Administração, que nos deixaram a certeza de uma dedicação e operante actividade, que são motivo de gratidão e tranquilidade para todos os portugueses que olham a África com os olhos da alma.
Havemos de confessar que a resistência física e até a sensibilidade de todos os componentes da caravana foram agredidas por tanta grandeza, tantas atenções dispensadas e tão chocantes lições recebidas.
Também daí a nossa gratidão ao Sr. Governador de S. Tomé e Príncipe e restantes autoridades da província pelo oportuno e aliciante repouso que nos proporcionaram.
Naquele magnífico jardina equatorial, tudo é perfeito na sua arrumação, normas, disciplina, vitalidade e gentileza. Só uma coisa salta aos olhos como falta grave e com uma responsabilidade difícil de localizar: é que a esmagadora maioria dos metropolitanos, da mesma maneira que desconhece os encantos do Mossulo, em Luanda, ignora que está ali um dos mais belos recantos do Mundo, embora o mundo não desconheça o seu delicioso café.
Esta viagem foi amplamente justificada em cada distrito de Angola, mas só a descoberta que alguns fizemos desse S. Tomé que já não tem desterrados, para só ter gente de bem, flores e frutos, era motivo de júbilo e gratidão.
Gratidão que endereçamos a S. Ex.ª o Ministro do Ultramar, aos Exmos. Governadores das províncias e dos distritos.
Gratidão pelas gentilezas recebidas dos nossos ilustres colegas de Argola e de S. Tomé e Príncipe.
Para estes, também, as mais vivas felicitações pela honra que lhes cabe na representação de parcelas tão promissoras e tão indestrutìvelmente integradas na Pátria portuguesa.
Vozes: - Muito bem!
O orador foi cumprimentado.
O Sr. Peres Claro: - Sr. Presidente: Durante vários anos fui, nesta Casa, orador assíduo sobre uma taxa fiscal que ofendia muito a economia da minha terra e psicologicamente marcava a sua gente. Abolida finalmente essa anomalia, por decisão ministerial de há poucos meses, entendo que devo aqui deixar também uma palavra de congratulação, sobretudo por se ter conseguido juntar e pôr de acordo as pessoas mais interessadas no caso. Eu disse aqui várias vezes que a abolição da taxa ad valorem que onerava as mercadorias saídas pelo porto de Setúbal era também um acto de inteligência e de boa política e que, quando os responsáveis pela sua existência pudessem um dia calmamente conversar sobre ela, não deixariam de logo o reconhecer. E foi o que sucedeu. Congratulo-me com a decisão governamental - repito - e ainda com o papel desempenhado pela comissão local