O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

26 DE FEVEREIRO DE 1971 1743

mente lamentável -, ou então que resolveu reduzir a um estado de segredo o que, de modo algum, se poderá comparar a um segredo de Estado!

Escudado nos ensinamentos da sabedoria popular, convém lembrar que não é transigindo com o mal que se serve o bem, princípio este que importa ter presente por parte de todos quantos têm à sua guarda as portas da cidadela da Nação, para que, por deliberação ou negligência ou adormecimento da vontade, as não deixem escancaradas, de modo que o inimigo, qual cavalo de Tróia e sob a capa de um satanismo cívico, por elas penetre e se instale comodamente.

E depois de fazer este ligeiro comentário de desaprovação ao silêncio até agora mantido pelo Ministério da Educação Nacional quanto ao meu requerimento de 14 de Janeiro, e a fim de procurar a verdade onde ela se encontre e fazer justiça a quem a mereça, volto a requerer que me sejam fornecidos, com a maior urgência, os elementos solicitados no referido requerimento, até porque, infelizmente, o assunto não perdeu actualidade e haver necessidade de dar à parte sã dá Nação o clima de confiança a que tem jus e de que tanto carece para se opor à desordem que parece querer alastrar.

O Sr. Barreto de Lara: - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Grave pecha, que estigmatiza e cáustica, perigosamente até, a vida nacional, é o desconhecimento que na metrópole existe das províncias portuguesas de além-mar.

E a realidade desta verificado sempre foi, e desde' longa data, motivo forte da minha inquietação.

Exactamente por isso, não poucas foram já as vezes que acentuei nesta Câmara, lídima representante do povo, que ao menos aos seus pares se possibilitassem tantas idas ao ultramar quantas as necessárias, a benefício de seu esclarecimento e abrindo-se-lhes a perspectiva, e amarrando-os à obrigação de serem arautos da verdade e da realidade ultramarina.

Inimigos da Pátria não os ha só no estrangeiro, e serão até talvez os mais inofensivos. Para esses bastaria até o tiro do canhão ou o disparo de morteiros.

Bem piores silo os que se acolhem aos redutos da fortaleza, beneficiando das condições de cidadania e procuram minar a resistência da Nação, ora fazendo-se arautos de profecias a soldo de idolatrias que colocam ao serviço de inconfessados interesses e desígnios, ora sob a invocação da defesa de direitos humanos ofendidos, que são afinal os seus mentores os primeiros a querer calcar.

E para estes haverá que, sem demora, preparar, metódica e conscienciosamente, toda uma frente de tomba e, conhecedora e consciente, apta a esclarecer e devidamente apetrechada a uma luta intermitente e sem desfalecimentos a todo o momento e em todos os lados.

Uma equipa pronta a expulsar do convívio da Nação todos os que, passando a seu Iodo, lhe segredem palavras de desânimo. Como aconselhava e avisava esse grande patriota, tão incompreendido nos últimos anos da sua vida, que foi o general Norton de Matos, a quem aqui presto a maior homenagem, aã sua tão célebre exortação aos «novos de Portugal».

Mós acentuo que idas ao ultramar não significam viagens de turismo, com o espartilhamento oficioso e indesejável em programas cujo ponto de ordem soo almoços e jantares e viagens paisagísticas. Pois assim se frustraria de antemão o propósito e o objectivo dos visitas.

Antes verdadeiras visitas da estudo e trabalho, deixando-se a cada visitante tempo disponível para observar, para falar, para participar em conferências ou em mesas-redondas, tão ao sabor da moda, e com quem muito bem entendessem, e roda livre na procura de programas que melhor se ajustassem ao aclaramento das suas bem legítimas interrogativas. Porque só conhecendo, e para conhecer é (necessário chegar ao cerne, se pode atingir a verdade. E só a verdade é signo da vitória na luta em que está empenhada toda a Noção.

Mas o desejo não se queda só por aqui. A ambição é tão grande que almejaria programa semelhante alargando a todos os portugueses. Sem qualquer excepção. Pelo menos, uma visita a Angola. E refiro a Angola, não por ser Deputado por aquele círculo, pois, já o acentuei, o sou pela ou da Nação, e esta ó que é o fulcro de todo o meu pensamento.

Antes, e sim, porque, numa óptica de realidade, é dessa enorme província que terá de irradiar, e no mais curto prazo possível, o futuro de toda a vida nacional. Pois, realisticamente, e minimizando até por agora a sua posição ideal de centro geográfico do País, e apenas sob o prisma de uma mera problemática materialista, à luz d« um plano de investimentos nacionais, Angola é exactamente o ponto onde se abrem não só as mais risonhas perspectivas de aplicação de valores humanos e imateriais, mas ainda, e mais, da obtenção rápida do seu fértil e profícuo rendimento. E além de que dessa aplicação e da centralização geográfica do País resultará, inevitável e decisivamente, a consolidação da unidade nacional.

Mas o meu desejo, repito, era que todos os portugueses pudessem um dia visitar Angola. Para sentirem o ar cálido dos seus dias e para se inebriarem com os matizes coloridos de tons quase irreais dos seus pores do Sol. prelúdio da poesia luarenta das suas noites. Mas principalmente para avaliarem o clima de trabalho viril e austero que ali se vive e muito em particular para ganharem uma verdadeira noção de «espaço» e do «enorme».

Para que de vim e do core se inteirassem da incomensurável capacidade das suas potencialidades económicas e humanas e do seu enraizamento em carinho e afabilidade, que, antes de lhes tolher a virilidade, a motiva e incentiva. E para que, por momento só que fosse - e tanto bastaria -, comungassem da mesma fé dos homens de Angola, e recolhidamente com eles rezassem preces ao bom Deus.

Preces de gratidão pelo mundo de perspectives que se lhes abrem, preces ainda na busca de coragem e ajuda para que a Nação não esmoreça e leve de vencida, mais uma vez e a exemplo de tontos outros momentos de que é tão fértil a nossa história», o sem-fim de dificuldades que a cobiça de outros levanta e propicia.

Para que aferissem da capacidade realizadora produtiva e de sacrifício doa gentes de Angola; para que sentissem e sopesassem, na verdadeira medida e no local próprio, a verticalidade das suas atitudes, tão depressa exigentes, rebeldes e recalcitrantes, soberbos até nas suas críticas, mas logo não menos rápidos nos seus encantadores encómios e elogios, uns e outros sempre no denominador comum da necessidade de lutar contra o tempo, realizando depressa, mais depressa ainda e sempre mais depressa

Desejo irrealizável o meu, repito, e bem o sei. Mas que ao menos se registe nos anais da Assembleia esta ambição desmedida, que envolve afinal uma outra maior ambição: que Portugal finalmente conheça Portugal.

Bem certo que o desconhecimento hoje se encontra em certa medida atenuado, exactamente a partir da propaganda que da realidade ultramarina passaram a fazer os soldados que regressam do ultramar, cumprida a sua missão de soberania.