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26 DE FEVEREIRO DE 1971 1745

Delineou-se assim e projectou-se assim, que, uma vez executado o esquema, possam vir a ser aproveitados 150 mil hectares de solos agricultáveis por meio de um eficiente sistema de rega, e 350 mu hectares para abeberamento de gados, através de uma inteligente e regular distribuição de água, em zonas de pasto fértil, sim, mas que, exactamente, mercê da irregularidade aquífera, tolhia a um razoável aproveitamento.

Em Angola as dimensões são assim: executado o esquema, torna-se, pois, possível o aproveitamento de nada menos que, repito, meio milhar de hectares de temas, não s& e, benefício dos autóctones, mas ainda a toda uma legião de agricultores e criadores de gado, pequenos, médios e grandes, que queiram integrar-se na programação estabelecida.

Soo imprevisíveis, ao momento, os resultados, mas cálculos feitos, e por deficiência, situam a possível rentabilidade entre 25 a 30 vezes mais que a anterior. Notável também a antevisão da possibilidade de um aumento populacional marcante na zona, com a inerente criação de centros populacionais importantes. E ocupar é sempre vencer pela paz.

O outro ponto que dominou os planificadores do esquema do Cunene foi, como disse, a força energética, promovendo-se a instalação no troço superior do rio de uma potência de 275 000 V, com uma capacidade de produção de cerca de 1000 GWh. E no troço inferior, desde o Calueque à foz, podem ainda vir a produzir-se mais 5800 GWh, incluindo-se es quedas do Ruacaná.

A energia que hoje abastece o Sul de Angola, desde Sá da Bandeira a Moçâmedes, como se sabe, tem como principal fonte abastecedora a central da Matais, a qual, embora instalada com uma potência razoável, acusa em certos períodos do ano notáveis irregularidades, exactamente mercê da irregularidade nos caudais do rio Cunene.

Ora, o grande armazenamento, que pelo "esquema Cunene", se vai obter na barragem do Gove e já em fase de construção adiantada (e para dar ordem de grandeza se dirá que é três vezes superior ao volume acumulado pelo Castelo do Bode), vem possibilitar, para já, o aumento de energia da central da Matala em cerca de dezasseis vezes mais do que a capacidade produtora actuou. Este aumento de produção de energia, como é natural, projecta-se directamente na economia de todo o Sul de Angola. Todavia, como se prevê a hipótese de "pelitizaçãoo" do minério de Cassinga e como a produção da energia da Matala será então fortemente afectada pelo aumento do consumo que aquela operação acarreta, logo se encarou também, ainda dentro do plano do "esquema Cunene", o aproveitamento da Jamba-Ia-Mina, que virá aumentar a produção energética em cinco vezes mais do que a da Matala.

Exactamente porque beneficia de uma queda que poderá atingir os 100 m.

Nesta primeira fase do esquema do Cunene está prevista ainda a execução de mais dois aproveitamentos energéticos: a barragem do Calueque, no princípio da queda que o rio tem de vencer até à sua foz, e o aproveitamento da queda do Ruacaná. Por este último obter-se-á um royalty, mercê do aproveitamento energético que vão fazer os nossos vizinhos, sendo eles, todavia, que suportam e financiam todo o investimento.

Acentue-se que não houve qualquer alienação da nossa parte, pois no troço entre o Calueque e o Ruacaná existem 150 m de queda, e sendo este troço exclusivamente nacional, pode vir a ser aproveitado quando o entendermos oportuno, vindo ainda a beneficiar também da distribuição das quedas aproveitáveis mo troço internacional do rio, entre Portugal e a República da África do Sul.

Vê-se, assim, que, ao invés de os interesses portugueses terem sido afectados ou menosprezados, foram, afinal, intransigente e benèficamente defendidos.

Há que compreender, porém, e em toda a sua extensão, o cerne do problema, e que se traduz da enormidade de perspectivas que se abrem ao desenvolvimento de todo o Sul de Angola.

Pois, e de facto, é a regularizarão do rio Gove que abre a perspectiva de produção de mais energia para o Sul de Angola, não só pelo aumento de produção da Matala, mês ainda quando for comprovada a insuficiência desta pelo aproveitamento da Jamba-Ia-Mina.

E é esta regularização que permitirá também o bombeamento de 20 m3 por segundo, destinados à rega de 20 000 ha e ao abeberamento de gados por uma extensão de 100 000 ha, cuja projecção é relevante no desenvolvimento económico-social, sobretudo nas regiões do Quiteve ao Humbe.

E junto à fronteira poder-se-ão ainda aproveitar 150 m de queda. Uma vez e meia superior à do Ruacaná. O que não se faz para já, embora esteja previsto para o futuro, dada a distância dos pontos de consumo, mas, repito, que se levará a efeito dentro do esquema logo que hajam motivos que justifiquem esse aproveitamento. E oxalá breves sejam.

Assim saibamos nós, Portugueses, compreender o intenso trabalho desenvolvido e as perspectivas que se abrem pelo aproveitamento do Cunene no desenvolvimento do Sul de Angola, perspectivas que abrangem não só a promoção económico-social das populações que, abandonado o nomadismo, aí se poderão instalar, por passarem a dispor de excelentes condições de fixação e de que antes não dispunham, mas ainda pela abertura daquela zona a grandes massas populacionais, que, na perspectiva de passarem a dispor de infra-estruturas eficientes, encontrarão razões bastantes para aplicarem os seus capitais e o seu trabalho, continuando a regar a terra com o seu suor, aceitando o desafio que o futuro nos faz e seguindo na rota que o dedo do infante D. Henrique apontou como destino da Nação.

Infelizmente, este grandioso plano está na ignorância da maior porte dos portugueses, e só será da sua ciência quando a imprensa estrangeira, bem orientada na sua política destrutiva de tudo quanto queiramos construir, nos acusar de estarmos a atentar contra a paz mundial, por planificarmos, estruturarmos e criarmos a todos os portugueses, tenham eles a etnia, que tiverem, condições de vida onde antes as não haviam.

Tenho pensado muitas vezes no gravame que representa para a vida nacional a falta de propaganda, sistemática, metódica, em suma, bem organizada, que dê a conhecer Portugal aos Portugueses, como já acentuei. Em vez de se deliciarem em belas obras históricas, bem melhor seria que só mostrasse por vilas, aldeias e cidades a todos os portugueses a notável obra em que estamos empenhados. E começando nas escolas. Atrasámo-nos? Perdemos gerações? Sem dúvida. Mas isso não significa que nos deixemos amarfanhar e amortecer, e não encaremos e colaboremos na verdadeira revolução que estamos a levar a cabo, e que nos limitemos n adormecer a sombra dos louros da consciência tranquila. É que, tal como a mulher de César, não basta sê-lo ...

Quantas vezes tenho pensado se não será preferível entregar a divulgação da grande obra a que metemos ombros no ultramar a agências comerciais especializadas, reconhecida como é a notória insuficiência dos agências oficiosas. Até porque estou certo de que mais frutos se colheriam e com menor dispêndio.