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20 DE NOVEMBRO DE 1971 2813

Sem saber por que razão cada um em sua casa terá de sofrer as incontinências, as ambições, as megalomanias de alheias gentes; sem saber por que estranhos malabarismos se transforma uma zona pacífica do Mundo, onde o progresso poderia realizar maravilhas, numa fogueira, cujas labaredas apagaremos com certeza, sem, contudo, evitar os danos que vão causando e, sobretudo, as vidas que vão roubando.

O ontem sem o hoje e o hoje sem o amanhã não têm sentido. Ora, nós, para mantermos os elos que històricamente moldaram a comunidade portuguesa, aguentaremos esta cruz enquanto for necessário, enquanto se não cansem as fontes que alimentam os nossos adversários.

Para tanto, o País continua como uma muralha à volta do seu Governo, disposto a segui-lo na defesa de um património sagrado, cuja legítima proveniência ninguém discute, cujo destino só a nós compete marcar.

E bem preciso é manter, na frente e na retaguarda, esse espírito indomável, essa vontade forte de vencer, para que não haja ilusões quanto aos nossos propósitos e à nossa determinação.

Vão-se alguns anéis, porventura, mas ficam os dedos, embora, na verdade e a despeito de tudo, os próprios anéis possam continuar nos dedos, mercê do enorme esforço desenvolvido no campo económico, social e cultural, permitindo boas esperanças da gradual melhoria do nível de vida de cada um. Assim tem acontecido e assim continuaremos, forçando a criação de novas fontes de riqueza, apesar das avultadíssimas despesas com a defesa das fronteiras africanas. Mas se tivéssemos que optar, apertaríamos o cinto sem qualquer espécie de hesitações.

Alguns pensarão que tudo isto não passa de palavras cheirando ao bafio de velhas arcas onde se guarda o espólio precioso de valores que se irão esboroando diante da terrível ofensiva de um impante materialismo ateu e revolucionário, levando de vencida as consciências da gente ordeira e temente a Deus.

Mas não creio que seja assim. Não são só palavras, mas todo um corpo de doutrina, cujo maior mérito, afinal de contas, é o de estar bem mais perto do que qualquer outro das realidades humanas e das suas supremas aspirações e necessidades.

Poderia alinhar números estatísticos uns atrás dos outros para demonstrar como tem crescido a riqueza e aumentado o nível de vida.

Aliás, sempre se curou do bem-estar geral que não é conquista de mal avisados arautos que por aí andam semeando aterradores preceitos e drogas, em demanda da felicidade terrena à margem de quaisquer limitações e perfeitamente indiferentes à ideia do bem e do mal. Ora a questão — a maior e a mais grave — consiste precisamente em não confundir o bem e o mal.

Uma coisa é formar o homem no culto da virtude e da honra, promovendo a sua ascensão espiritual e certamente também a social e económica, outra é esculpi-lo como bezerro de ouro, esquecendo as suas origens e o seu destino. Uma coisa é forjar uma sociedade onde possam surgir exemplos de heróis e de santos, outra chafurdar na massa movida por instintos incontroláveis.

A coexistência de sociedades políticas dirigidas por sistemas opostos é possível dentro de certos limites, mas nenhuma concepção de vida resistirá à redução do homem a um mero factor de consumo ou a uma máquina de trabalho, e daí a exigência de um fundo de ideal a informar e a formar o comum das pessoas, a imperiosa necessidade de o progresso se operar no respeito dos valores morais.

Mas como ia dizendo, é notável o esforço feito no sentido de revitalizar e acelerar os meios de produção no espaço nacional.

Também aqui as estatísticas poderiam dar-nos a imagem exacta, mas árida, dos números comprovativos do avanço no sector privado, singrando, ainda que lentamente e nalguns casos com sérias dificuldades, como acontece no início das arrancadas ou das profundas modificações estruturais.

O sector público, por outro lado, dá inequívocos sinais de força e de confiança, numa escala de grandeza invulgar no nosso meio. Para o demonstrar basta recordar a recente conversa em família do Sr. Presidente do Conselho, que nos deu um elucidativo apontamento sobre a actividade do Governo nos últimos dois meses e dos enormes investimentos destinados à realização do plano rodoviário e das indústrias de base, à educação, à habitação, aos transportes, à energia eléctrica, de que salientamos o colossal empreendimento de Cabora Bassa, tudo isto mercê de uma gestão financeira que já fez escola entre nós. Ainda neste domínio registamos a regularização dos pagamentos interterritoriais, que clarificaram o ambiente em que se movem as transacções no território português.

Mas eis que surge o cancro das economias em processo de aceleração, e quem sabe também se no da recessão, o fantasma do círculo infernal da inflação, espinho cravado no corpo económico do País.

Eis que surge mundialmente o espectro de um fenómeno tanto mais grave quanto mais se insinua e infiltra devido ás eufóricas ilusões que geralmente o acompanham. A pressão exercida sobre o consumo parecerá ás vezes traduzir, realmente, uma situação de desafogo e abastança. Mas a breve trecho damo-nos conta de que nem sempre quem compra paga e que aquilo que hoje, se adquire com o produto de certo trabalho exige, no dia seguinte, mais tempo de trabalho para comprar o mesmo produto. E, entretanto, as forças produtoras perdem diàriamente a sua capacidade competitiva na galopada incessante dos preços e dos salários. Ao fim e ao cabo, ninguém lucra.

O Governo travou já o combate para deter essa marcha diabólica.

Nesta como noutras batalhas haverá estrategos paira todos os gostos.

Mas, se é certo que a apreciação e a discussão dos problemas é índice desejável do interesse pela administração pública, não é menos verdade que as soluções resultam das medidas que se tomem e da forma como sejam executadas e cumpridas. Quer isto dizer que, se discutir e apreciar é bom sinal de cultura e até de civismo, a adesão e a receptividade ás decisões legítimas é o melhor e o mais inequívoco sintoma da verdadeira maturidade.

Não devemos, com efeito, agravar aquilo a que já se chamou a crise de obediência, melhor dizendo, da verdadeira participação da colectividade na realização do bem comum, porque, se eternizamos as dúvidas e as discussões, as contestações e as polémicas, então nada de útil se fará.

E aqui chego a um outro ponto sobre o qual desejaria fazer alguns comentários.

Efectuaram-se há pouco no País as eleições para as juntas de freguesia.

Qualquer observador imparcial pode ter verificado a ordem e a compostura com que decorreram. Mas, para além disso, e não obstante a consulta ás urnas em toda a parte parecer revelar algum desapego por banda do