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3 DE DEZEMBRO DE 1971 2831

tanto verificadas no sector económico-financeiro, viriam a acelerar e a pressionar a realização das reuniões de alto nível ocidental, de que a dos Açores será a primeira.

Portugal acolherá, com a hospitalidade que lhe é reconhecida, os presidentes e as comitivas das duas nações aliadas e amigas. A presença do Chefe do Governo português na ilha Terceira — que ninguém pretende considerar como de participação em conversações que todos compreendemos e aceitamos transcenderem a nossa dimensão e os nossos interesses — revestir-se-á de valor maior do que à primeira vista poderia parecer.

É que nem a escolha dos Açores nem a presença de Marcelo Caetano na ilha Terceira surgem como obra do acaso. Os estadistas que aceitaram encontrar-se no arquipélago sabiam que iriam travar conversações em terra portuguesa e que desta circunstância resultaria a oportunidade de serem saudados e de se entrevistarem com o Chefe do Governo português. Quer isto dizer que a presença de Portugal será uma constante da cimeira dos Açores, uma constante que os próprios protagonistas não poderão deixar de ter presente.

O Governo — sobretudo quem o dirige e orienta — não deixará, por certo, de procurar retirar da circunstância propícia todas as possíveis e benéficas consequências.

Sr. Presidente: Ao assumir a chefia do Governo, Marcelo Caetano iniciou, naturalmente, um novo ciclo de política externa, cujos frutos começam agora a amadurecer.

Desejável seria, Sr. Presidente, que um esforço comum fosse feito no sentido de se evitarem comparações com outros ciclos, designadamente com o anterior — cujos méritos, aliás, não estão em causa —, deixando à porta das nossas preferências pessoais e ideológicas a mesquinhez dos comentários e o provincianismo de alguns tabus.

Reafirmada e mantida a inflexibilidade dos princípios, tem sido possível agir ao sabor da mais conveniente flexibilidade de actuação diplomática, sem cuidar demasiado de saber o que fariam ou diriam outros se o poder ainda lhes pertencesse.

O estadista que o é verdadeiramente inspira-se no passado, mas actua sobre o presente com a visão incrustada no futuro. A acção que desenvolva e as decisões que tome inserem-se num contexto determinado e não raro, resultam desse próprio contexto. E, por isso, necessário ter a coragem das atitudes e de algumas novas atitudes para vencer os «círculos viciosos» que acaso se formem e para não desbaratar as oportunidades de actuação que vão surgindo. Tal e qual, por exemplo, como não foram desperdiçadas na O. N. U., a propósito da China, no momento em que sàbiamente e ao arrepio de uma orientação que se convertera em praxe acompanhámos os Estados Unidos na questão processual de decisiva importância e depois votámos serenamente, com realismo, pelo ingresso de Pequim em substituição dos representantes da Formosa.

E mister que nos preparemos — e preparemos psicològicamente a opinião pública — para outras novas atitudes e iniciativas que revelem claramente à comunidade internacional estarmos firmemente dispostos a participar na sua actividade, na sua evolução, numa palavra: na sua vida.

Maurice Couve de Mourville, com a insuspeita autoridade que ninguém recusará, termina o estudo que acaba de publicar sobre os dez anos ao longo dos quais executou e dirigiu a política externa da França, depois de reconhecer a vantagem de nos preocuparmos mais com o futuro do que com o passado (Pourquoi, puisque c’est désirable, ne serait-il pas possible de jouer l’avenir plutôt que le passé?), acrescentando:

Num mundo em crise, onde talvez uma nova civilização se esboça, onde em todo o caso as angústias se acumulam num turbilhão de alterações, é necessário encontrar pontos de apoio e algumas certezas. Mesmo que a prioridade tenha de ser dada aos problemas internos, uma autêntica política externa, que não é negócio de especialistas nem de iluminados, poderá sempre contribuir para que seja possível descortinar aqueles pontos de apoio e aquelas certezas.

Sr. Presidente:

Na convicção de que temos uma «autêntica política externa», na qual o País poderá encontrar os indispensáveis suportes para vencer as dificuldades qué todos sentimos e reconhecemos, penso que a Assembleia Nacional não deixará de se associar, gostosamente, aos votos que formulo de feliz viagem para o governante ilustre que a 12 do corrente, em nome do Chefe do Estado e dos demais portugueses, terá a honra e a grata oportunidade de cumprimentar e saudar os visitantes que, a partir desse dia, se acolhem à sombra da bandeira e da soberania de Portugal.

Disse.

Vozes: — Muito bem, muito bem!

O orador foi cumprimentado.

O Sr. Miller Guerra: — Peço a palavra, Sr. Presidente.

O Sr. Presidente: — V. Ex.a pediu a palavra, Sr. Deputado Miller Guerra, para . . .?

O Sr. Miller Guerra: — Para fazer uma intervenção que considero urgente e de interesse nacional e com repercussões internacionais, acerca dos médicos e da crise dos hospitais.

O Sr. Presidente: — Sr. Deputado Miller Guerra: Tenho muita pena de dizer a V. Ex.a que não posso conceder-lhe a palavra neste período, porquanto muitos Srs. Deputados, e quando digo muitos não uso uma figura de retórica, me tinham pedido, antes de V. Ex.a, para usarem da palavra e eu lhes disse já que não era possível fazerem-no hoje, dentro do período destinado à fase de antes da ordem do dia. Não duvido, nem por um instante, nem me permitiria duvidar, da qualificação que V. Ex.a dá de urgência e importância ao seu assunto, mas peço a V. Ex.a o favor de notar que é V. Ex.a mesmo que me autoriza a não lhe dar tanta urgência quanta V. Ex.a pretenderia, passando à frente de todos os outros Srs. Deputados que manifestaram o desejo de falar hoje, pelo tardio do seu pedido.

Em atenção ás afirmações que faz, à sua categoria extra-Assembleia e ainda ao conhecimento especializado na matéria, que posso atribuir-lhe, concederei a V. Ex.a a palavra antes dá ordem do dia, tão depressa quanto me seja possível, na primeira sessão depois desta, mas hoje é impossível porque já tive de a recusar a muitos outros Srs. Deputados que se inscreveram antes de V. Ex.a

O Sr. Miller Guerra: — Peço a palavra novamente para interrogar a Mesa.

Desejava saber qual é o critério que a Mesa segue na classificação dos assuntos versados nesta sala.

Este assunto, para mim, é prioritário, como acabei de dizer, visto que está apaixonando a opinião pública do País, já não falo nos médicos, mas em toda a população que é atendida por eles, e está causando gravíssimos, gravíssimos danos . . .