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2834 DIÁRIO DAS SESSÕES N.° 141

O Sr. Casal-Ribeiro: — Sr. Presidente: Passa amanhã o trigésimo dia sobre o falecimento de António Mariano de Carvalho, à data ida sua morte presidente da Câmara Municipal de Caseais, cargo que desempenhava com o dinamismo, inteligência e honestidade que nortearam sempre todos os actos da sua vida.

Neto do grande jornalista e Ministro de Estado conselheiro Mariano de Carvalho, o António Mariano, como todos o conheciam, foi um dos mais brilhantes representantes da sua — que é -a minha — geração.

Desportista distintíssimo, dirigente empresarial esclarecido e reato, valente, generoso e extraordinàriamente humano em todos os actos dia sua vida, foi durante onze anos, pràticamente os últimos da sua existência, elemento de grande relevo e valor no ultramar, quer como vogal do Conselho Legislativo de Angola, durante sete anos, quer como presidente da assembleia geral da Associação Industrial daquela província, quer ainda como presidente da Associação Comercial de Luanda, de que era sócio honorário.

Quando da eclosão ido terrorismo em Angola, a sua acção como componente da milícia então criada, e arriscando a vida a bordo da avioneta da empresa que dirigia em Luanda, muito contribuiu para a ajuda prestada pelos voluntários e pelos primeiros elementos das forças armadas aos heróicos resistentes de algumas povoações cercadas e flageladas pela honda de terroristas que, a soldo do estrangeiro, pretendiam desalojar Portugal das suas tenras de além-mar.

Mais do que ao amigo e ao colaborador dais andanças desportivas; mais do que ao parente e ao empresário esclarecido; mais ainda do que ao dirigente empreendedor e ao legionário da primeira hora, quando a labareda comunista, que hoje inspira os nossos inimigos de África, rondava a fronteira metropolitana, eu desejava prestar homenagem ao português, ao combatente, ao homem que, sabendo honrar o nome que herdara, deixou aos seus filhos e aos seus amigos um exemplo ímpar de raça, de patriotismo e de altruísta vontade de cumprir até ao fim todas as tarefas a que meteu ombros.

O Sr. Cancella de Abreu: — V. Ex.a dá-me licença?

O Orador: — Faça favor.

O Sr. Cancella de Abreu: — Como munícipe do concelho de Cascais, desejo apoiar veementemente as justas palavras que V. Ex.a está proferindo em homenagem a Mariano de Carvalho.

Muito obrigado.

O Orador: — Muito obrigado, Sr. Deputado Cancella de Abreu, pelo apoio que V. Ex.a veio dar a esta minha singela intervenção, que mais a valoriza porque mais radica no meu espírito a homenagem que estou a prestar a António Mariano de Carvalho.

Já no leito de morte ainda vivia e tentava resolver os problemas complexos de uma vila em expansão: aquela de cuja edilidade era presidente.

Eis, Srs. Deputados, as palavras singelas que entendi dever dizer como homenagem a quem muito mais merecia, repito: como homem e como português.

Vozes: — Muito bem, muito bem!

O orador foi cumprimentado.

O Sr. Ribeiro Veloso: — Sr. Presidente, Srs. Deputados: Há factos que ocorrem no dia a dia do País que pela sua importância, pelos reflexos que têm na vida da Nação, não podem deixar de ser aqui assinalados. E um

desses factos, que está directamente ligado a cerca de um terço da população portuguesa, isto é, a oito dos vinte e cinco milhões que somos, foi o acto de posse do governador-geral de Moçambique, que o Ministro do Ultramar, Sr. Prof. Silva Cunha, conferiu ao Sr. Engenheiro Pimentel dos Santos, em 19 do mês passado.

Entrou assim o engenheiro Pimentel dos Santos na história da governação de Moçambique, história cujo início data de 1752, portanto ao meio do século xvn, visto ter sido naquele ano que o Governo da Metrópole decretou a criação daquele Governo-Geral, embora só em 1755 tivesse sido decretada a autorização económica e, consequentemente, que só a partir daí o Conselho do Tesouro da índia Portuguesa deixasse de exercer a administração económica e financeira sobre Moçambique. Dois séculos passaram já, e durante eles uma plêiade de homens ilustres, de devotados servidores da Pátria, conseguiu, através de sacrifícios ingentes, trazer até aos nossos dias aquela amálgama de povos transformada num só povo, mantendo-lhes, contudo, os hábitos e costumes dos seus antepassados, por forma que se não sentissem desligados das suas tribos, ao serem conduzidos para uma civilização mais avançada e integrados na Nação a que hoje e sempre, desde que nos conheceram, quiseram pertencer. É certo que houve alguns chefes para quem o conceito de tribo foi mais forte e lutaram pelas suas posições de chefia, que receavam perder. Eles sabiam, eles sentiam que ao integrarem-se nesse outro povo que a troco de nada lhes oferecia uma Nação, deixavam de exercer o seu mando despótico sobre os da sua tribo e a sua crueldade sobre os incautos das tribos vizinhas, que por acaso ou à força lhes caíssem nas mãos.

Formavam assim pequenas sociedades fechadas, cujo território era limitado por qualquer pequeno obstáculo de mais difícil transposição. E é por essa razão que numa superfície oito vezes e meia a ide Portugal europeu se podem considerar quinze agrupamentos linguísticos que se dividem em subgrupos e estes em dialectos, atingindo o seu número cerca de cinquenta!

E só a inteligente e justa actuação dos governadores, governadores-gerais, altos comissários e novamente os governadores-gerais, permitiu que naquele enorme cadinho de 784 032 km2 os povos se passassem a considerar irmãos e constituindo um só povo, unido sob a primeira bandeira que tiveram desde sempre, que é a bandeira de Portugal.

Para não ir além do início desta Legislatura da Assembleia, recordarei o governador-geral Sr. Dr. Baltasar Rebelo de Sousa, que por ter sido chamado a exercer o cargo de Ministro da Saúde e Assistência e das Corporações e Previdência Social, nos governou por pouco tempo, mas, apesar disso, deixou saudades em todos os de Moçambique, tal foi ia obra extraordinàriamente notável que ali desenvolveu. O alvoroço, com tristeza, que a sua saída provocou na população só se eliminou quando se tomou conhecimento da nomeação do Sr. Engenheiro Amantes e Oliveira, porque o ter sido Ministro insigne durante largos anos fez com que o seu nome se impusesse desde logo ao respeito e à consideração de todos.

E depressa o tempo do seu Governo passou, mas isso não impediu que fosse invulgar o trabalho realizado, não só na aceleração da execução dos programas anteriormente definidos, como na elaboração de novos e grandiosos programas para largos anos de actuação, mas imediatamente iniciados.

Novamente e com mágoa se viu partir um governador-geral e novo estado de ansiedade se apossou da população, porque o receio de que haja paragem no progresso econó-