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3 DE DEZEMBRO DE 1971 2833

cidades debruçadas sobre o mar e zonas empestadas em regiões saudáveis, se a traçar as longas vias, artérias indispensáveis à grande circulação, com a comodidade de engenhos modernos.

Parece estarmos em presença de valores que mais se completam do que se anulam.

O lançamento dos caminhos de ferro a partir da Beira, Lourenço Marques e Nacala, com a sua projecção além-fronteiras constituiu acontecimento que não deve se esquecido pela grandiosidade de Cabora Bassa.

Hoje, como ontem, os olhos postos no futuro, de mãos dadas com o vizinho.

Tudo isto é lição que se colhe em Moçambique, mas é preciso tocar em mais dois pólos de atracção para que o choque nos atinja até à medula.

O contacto com as forças armadas faz ressuscitar perante nós os velhos capitães. Estão lá todos e nos seus postos. Na administração ou na linha de combate à insídia dos insurrectos. Insurreição bem marcada pelo jogo de interesses de comando e distância.

Como seria possível que poucos milhares de soldados, não obstante a sua tenacidade e bravura, pudessem enfrentar a hostilidade de milhões se não fora a aceitação de uma colaboração amiga, de uma fraternidade de inspiração cristã, bem marcada por uma autenticidade que domina os aldeamentos, os colonatos, as escolas e os templos?

Mas quem duvidar do idealismo pairo dos capitães de hoje e fizer conjecturas sobre os seus interesses materiais e última finalidade dos seus sacrifícios interrogue-os num cenário de arame farpado, à vista dos destroços provocados pelas minas traiçoeiras e verá a resposta que leva! . . .

O quadro dos mutilados num hospital, com mistura de cores e graduações, arrepia-nos e põe-nos em sentido. Mas a prioridade na utilização da pista, na aterragem de um avião fretado propositadamente para evacuar um garoto negro, entre a vida e a morte, por agravamento de uma doença comum, comove-nos e convida-nos à meditação. Meditação que já vem da creche onde centenas de crianças sorriem para a vida que os falsos protectores lhes negaram.

Quem puder vá ver. E verá a razão por que se fica triste ao pensar que o mundo chamado civilizado dedica páginas de inútil lamúria aos milhares de crianças que morrem de fome algures no Oriente, enquanto que contribui para a compra de armas e munições destinadas a combater o pão e a ilustração que proporcionamos . . .

Vozes: — Muito bem!

O Orador: — Na África portuguesa, com um rendimento per capita que não é igual aos maiores, mas muito superior aos menores, naquele vasto continente, não há sinais de fome, no sentido comum.

Assim rezam -as estatísticas, assim verifica o observador.

Falta falar de um exército de voluntários que envergonharia qualquer cidadão responsável sujeito a mobilização forçada, se o conhecesse de perto. O que é constituído pelas legiões de monitores rurais.

De braços abertos a uma preparação intensiva, que recebem a cantar, embrenham-se no mato aos milhares, e são professores, enfermeiros, catequistas, obreiros de uma civilização que é conquista de natural e progressiva rendição sem condições.

Estará aqui também grande vitória do presente para o futuro.

Há forças poderosas que lhe resistem e até entre nós haverá quem não a entenda. Maior será o seu mérito.

Quem visita as terras portuguesas de África em nome do povo da metrópole leva deste uma mensagem, que transmite pela simples presença amiga; mas traz, além de gratidão pela oportunidade proporcionada e das muitas atenções recebidas, outra mensagem que nos confiam na simplicidade destas palavras de um régulo que já veio a Lisboa ou de um administrador que não conhece a metrópole. Somos portugueses!

Vozes: — Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Salazar Leite: — Sr. Presidente. Srs. Deputados: Na última sessão que precedeu este interregno, durante o qual se processou o estudo do diploma que autoriza as receitas e despesas para 19-72, deveria usar da palavra o meu colega de círculo Dr. Bento Levy; razões extremamente fortes impediram-no de o fazer, e esse o motivo que me leva a vos tirar, hoje, alguns minutos, certo de que interpreto, embora imperfeitamente, o seu pensamento e o pensamento de todas aqueles a quem devemos a nossa, presença nesta Assembleia.

Referiu-se S. Ex.a o Presidente do Conselho, na sua última «conversa em família», ao povo de Cabo Verde, e fê-lo de uma forma que não só muito sensibilizou aqueles a quem principalmente se dirigia, como também lhes trouxe a palavra de esperança, em próximo futuro, de uma vida menos carregada de preocupações.

Num passado irão muito distante, Cabo Verde, esse martirizado arquipélago, soube sofrer em silêncio, tendo na sua frente o espectro da fome; essa a sua cruz, só comparável, na sua grandeza, à fé que lhes permitia carregá-la, essa ia grande dor em todas as restantes parcelas de Portugal, impotentes perante as condições adversas, mais procurando mitigar o seu sofrimento. Mas nunca o auxílio foi tão pronto nem as medidas tomadas tão eficientes «no neste seu longo período de seca que se arrasta no seu quarto ano; nestas palavras exprimo o merecido agradecimento aos Governos Central e da província. O espectro da fome foi afastado, e isso é muito, mas as condições de trabalho de uma população habitualmente voltada para a agricultura tinham de se ressentir.

As palavras de S. Ex.a, palavras lançadas a todos os portugueses, são uma promessa firme de que se aproximam dias melhores; assim, será, estamos certos, desde que se encarem as secas como fatalidade imprevisível e se procure aproveitar as potencialidades dessas ilhas para que, a partir delas, seguindo outros rumos, se possa levar à sua população aquilo a que tem tanto mais direito quanto mais sofreu para o atingir.

Falar da situação privilegiada, sob tantos aspectos, do arquipélago de Cabo Vende seria fastidioso, mas ouso recordar que, localizado ao sul do Atlântico norte, apresenta óptimas condições de apoio para a manutenção das rotas do sul; ponto de convergência de excepcional importância, é esse um dos seus preciosos valores de entre os que se evidenciarão ide futuro.

Vozes: — Muito bem!

O Orador: — São estas as curtas considerações com que me atrevi a acompanhar a expressão do profundo reconhecimento das gentes de Gabo Verde petas palavras de esperança e de estímulo proferidas por S. Ex.a o Presidente do Conselho.

Vozes: — Muito bem, muito bem!

O orador foi cumprimentado.