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11 DE DEZEMBRO DE 1971 2921

tro informou pessoalmente os directores de cada um dos hospitais centrais de que essas medidas iriam ser tomadas, lamentando que assim tivesse de acontecer.

Algum tempo depois, a Comissão de Mobilização, presidida pelo presidente Nacional da Cruz Vermelha, começou o exercício das suas funções.

Alega-se que a medida teria sido desnecessária, pois nesse próprio dia se tomara, «em plenário», a decisão de regressar completamente à normalidade. A posição teria chegado, de facto, a ser assumida, embora com grandes ressalvas, numa sessão que, segundo o próprio documento que dela dá notícia, principiaria cerca das 12 horas do dia 27 e da qual saíram, pelo menos, três moções, algumas com discussão preliminar.

15. Antes de concluirmos, desejaríamos ainda ponderar, mais uma vez, que não se encontra na alocução do Ministro do dia 26 uma só palavra desprestigiante da classe médica — a que o seu autor, de resto, por formação, pertence —, antes, pelo contrário, se condena, em nome da honra e dignidade que se lhe impõem, actuações que não poderiam deixar de abalar-lhe o prestígio se ela pronta e veementemente ais não repudiasse.

Temos infelizmente de reconhecer que a secção regional do Sul do organismo a que, de modo muito especial, cumpre promover a dignificação profissional — a Ordem dois Médicos — parece, neste transe e no período que o preparou, ter sido objecto de comportamentos tendentes a desviá-la dois seus fins mais próprios para actividades que não deixarão de merecer reparo.

A demonstrá-lo, julga-se elucidativa a mesa redonda inserta no já aludido Boletim de Informação n.º 3, em que se não encontra a mínima expressão de interesses profissionais, mas onde, em contrapartida, abunda a controvérsia sobre os caminhos mais aptos para promover uma «politização» à volta da causa médica, tendo-se em conta as relações do médico com a população, para dinamizar uma «mobilização», que se declara necessária, das classes trabalhadoras, e onde, a par disso — veja-se! —, se prospectam as vias de inserção do exercício médico na sociedade capitalista, por forma que, se o construtor civil ganha dinheiro, o médico o arrecade também.

Uma das intervenientes na mesa-redonda já referida, após ter sido indicado o número dos já trazidos à causa, exclama: «Interessa-me modificar o sistema político geral; logo, interessa-me movimentar pessoas.»

Outro participante queixa-se assim: «Quais são os interesses da população? Os da classe médica diferem dos interesses da população e o Governo tem sido intérprete dos interesses da população.» E remata: «Podemos não aceitar o Governo a falar em nome da população e esta não o deve aceitar a falar em seu nome. A melhor solução seria a de fazer contactar as vanguardas médicas com outras vanguardas — convidar os próprios doentes a manifestarem-se: pegar no problema por outros sectores — classes trabalhadoras.» E a sessão continua com o relato dos resultados obtidos pela participação de um dos presentes em reuniões intersindicais.

Adiante declara-se que o problema é diferente entre os hospitais civis e os universitários, porque nestes últimos «há os contados com os estudantes».

Em certo passo, fazem-se perguntas e trocam-se impressões sobre o eventual perigo de um justo aumento de remunerações, recentemente estabelecido pelo regime das carreiras, retirar «combatividade» aos jovens médicos; e a esse propósito um dos participantes revela-se nos seguintes termos: «o Governo foi excelente [. . .] veio precipitar uma fase seguinte, mais lançada e sob outras formas. Virão problemas mais graves, sociais e políticos». Segue-se uma manifestação de regozijo, porque, segundo um opinante, «eles» (entenda-se: o Governo) «neste momento estão já a braços com um grande problema — pagam mais e não tiram das estruturas o capital investido». E a política do «quanto pior, melhor», em que se manifesta o propósito de persistir, pois peremptoriamente se declara uma linha de acção: «os médicos terão de estar preparados para saber em que sentido conduzirão a sua luta; põe-se o problema de saber que novas lutas travar».

Prescindindo de muitos outros exemplos, será, no entanto, preferível citar, a este propósito, um dos órgãos da própria ordem — o conselho geral, que, em 1 de Agosto de 1970, publicou um comunicado no qual, após manifestar que a Ordem tem conseguido, nos últimos anos, progressivo avanço nos seus «objectivos de representatividade e de posição na vida social da Nação», escreve:

Os mesmos objectivos foram explorados por um grupo de pressão para produzir um clima de excitação e radicalismo que, apesar da atitude conciliatória do conselho geral, evolucionou para um conflito aberto com a administração pública e com a própria Ordem. Neste contexto, as reivindicações ultrapassam já o âmbito político-social da nossa actividade associativa. Dominando «plenários e assembleias» em que a opinião dos quatro mil membros da secção regional de Lisboa não corrigiu nem apoiou a opinião de uma ou duas centenas, esse grupo conseguiu paralisar a actividade da secção regional respectiva e não fez segredo do seu desejo de que toda a Ordem dos Médicos seguisse o mesmo rumo [. . .] No balanço geral dos acontecimentos, a acção dos grupos minoritários acabou por se revelar estèrilmente contestatária e destrutiva, sem outro resultado que não fosse a agitação permanente como forma de politização socialmente improdutiva e, por fim, a desagregação da vida e da estrutura associativas.

Terá, porventura, sido a ponderação da ocorrência de circunstâncias como as resumidas no transcrito documento da Ordem que motivou o último facto criticado nas cronologias dos acontecimentos apontados: a proibição, pelo Ministério do Interior, da assembleia geral extraordinária do conselho regional do Sul. E, se nem todas as reacções corresponderam ao que seria de esperar, apraz, ao menos, concluir que ainda há, felizmente, quem tenha critério para qualificar o que ali se passa, inteligência para apreender a nudez da verdade sobre mantos de fantasia e bom senso para intuir as razões do Governo no cumprimento dos seus deveres.

Resta apenas elucidar que o regime em que os hospitais se encontram a funcionar presentemente, na sequência das medidas tomadas em 27 de Novembro, reveste a natureza de mobilização civil e é, por outro lado — como se deduz do próprio carácter de emergência referido na lei em que se funda —, meramente transitório.

Todo o pessoal se mantém, com efeito, nos mesmos postos de trabalho que lhe correspondiam antes da mobilização, e as entidades militares — aliás, médicos — dão à organização hospitalar o precioso contributo, que consiste em assegurarem a disciplina e o funcionamento dos serviços sem as perturbações que adviriam de a ela