O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

4512 DIÁRIO DAS SESSÕES N.° 221

C.O., num país não pode haver três escolas paralelas: a escola tradicional, os centros sócio-culturais e as redes de mass media... Se a criança é, naturalmente, una, no crescimento do seu ser, cultura, lazeres e técnicas de conhecimento devem fazer um todo. Por isso a política de informação tem de ser integrada numa política global do desenvolvimento nacional, enquanto meio de dar a cada um o sentido da sua responsabilidade na obra colectiva a empreender.

O Sr. Ávila de Azevedo: - Sr. Presidente: No debate do aviso prévio do nosso distinto colega Deputado Magalhães Mota, sobre os meios de comunicação e a problemática da informação, desejo apenas inserir o meu depoimento na alínea a) do n.° 1) do esquema que foi apresentado:

A evolução social e a evolução dos meios de comunicação.

Procurarei tratar, em especial, da situação da imprensa, com referência à imprensa portuguesa, na transformação que se operou nas últimas décadas na mass media - para empregar um termo generalizado do vocabulário americano -, ou sejam as técnicas de difusão colectiva iniciadas com a invenção da fotografia e continuadas pelo cinema, pela rádio e pela televisão finalmente.
Eu sei que um tema desta natureza implicaria um aturado inventário de documentação e uma longa reflexão. Infelizmente não me foi possível proceder a esse estudo. Como me inscrevi, porém, entre os participantes do debate suscitado pelo Deputado Magalhães Mota, senti-me na obrigação de corresponder, ainda que com brevidade e simplicidade, ao seu convite.
Sr. Presidente: Creio que uma das teorias interpretativas mais sedutoras do fenómeno de transformação dos meios de comunicação humana do nosso tempo é a exposta na obra do sociólogo canadiano Marshall Mac Luhan, com grande audiência no mundo anglo-saxónico. Segundo este autor, as civilizações teriam passado por três estádios determinados pelos veículos de comunicação: o primeiro - o das civilizações analfabetas; o segundo - o das civilizações do alfabeto fonético ampliado com a invenção da imprensa, que ele designa como a "galáxia de Gutenberg"; o terceiro - aquele a que assistimos, em nossos dias, da difusão do pensamento pelas técnicas electrónicas.
Quanto à consideração dos dois primeiros estádios, não me parece muito original a tese de Mac Luhan. Já Claude Lévi-Strauss, o eminente etnólogo francês, havia dividido as civilizações em dois grandes períodos: o das civilizações não escritas e o das civilizações escritas. Nas primeiras incluía o que os historiadores e os etnógrafos nomeavam vulgarmente como "povos primitivos", ou mesmo "selvagens" se remontarmos à classificação dos filósofos do século XVIII.
Mas o pensador canadiano vai mais longe deduzindo desses três estádios conclusões sociológicas. Assim, no estádio do analfabetismo, em que só domina a transmissão oral, as relações entre o indivíduo e a sociedade tornam-se mais íntimas, mais fáceis dentro da coesão do grupo humano. Daqui resulta a fusão e mesmo a subordinação do indivíduo no grupo que forma a tribo.
O segundo estádio, a invenção da escrita, opera uma mudança total de mentalidade. Todos os sentidos ficam sujeitos à visão. Entra-se no reinado do conhecimento objectivo. As comunidades primitivas alargam-se a sociedades estruturadas. Nas novas relações entre o homem e o mundo exterior o tribalismo desaparece para dar lugar ao pensamento individual, ao racionalismo, à centralização do poder.
Esta transformação é ainda acentuada e reforçada com a invenção da imprensa no século XV. É o livro impresso que provoca a distinção entre os clérigos e os leigos. Impõe a noção que o único conhecimento verdadeiro é o que toma a forma dos caracteres tipográficos. Universaliza a cultura, prepara o advento de Descartes, sobrepõe a dedução fria da razão aos impulsos da afectividade... O livro propaga-se como um objecto de consumo.
Ora, no terceiro estádio, o dos actuais meios de informação, reintegrámos o Universo nos processos auditivos e visuais. O alfabeto escrito transmuda-se em sons e, ao mesmo tempo, os sons transmundam-se em sinais simbólicos. O conhecimento já não se reduz ao material impresso.
Conclui Mac Luhan que a sociedade aonde ainda mergulham as raízes da nossa cultura, a sociedade do alfabeto, está ameaçada de morte. Não que voltaremos às comunidades primitivas. Mas a idade da electrónica, com a simultaneidade universal da propagação da palavra, tende a englobar a família humana numa grande tribo... Nessa neosfera que já falava Teillard de Chardin para onde caminhava todo o género humano...
Não aceitamos, porém, nas suas consequências extremas as teorias do sociólogo canadiano. E como decorreram muitos séculos na transição do primeiro estádio, o da oralidade exclusiva para o do predomínio da palavra escrita, assim podemos também esperar que a nova fase dos meios áudio-visuais não levará à eliminação total do papel impresso. Nada impede mesmo que uma e outro possam subsistir ocupando um lugar paritário na cultura do nosso tempo.
Por isso me permite fazer esta interrogação:
Qual será a função da imprensa, do jornalismo, nos tempos que correm?
Sr. Presidente: evoco algumas longínquas recordações pessoais sobre os meus contactos iniciais com a folha impressa designada comummente por "jornal". Era então na minha infância e na minha adolescência o único meio de comunicação social, a única janela aberta para o mundo que nos cercava... Como soletrei as primeiras letras em Lisboa, no tumulto da Guerra Mundial de 1914-1918, foi através de um cotidiano bem conhecido, O Século, então com grandes espaços em branco (os cortes da censura), que recebi as primeiras sugestões e emoções que alimentaram o meu espírito... Quase ao mesmo tempo que o livro escolar, o jornal fizera despontar em mim o respeito pela letra impressa. Oferecia-me não só um estímulo para a minha curiosidade infantil, mas ainda os tópicos de conhecimentos incipientes. Depois, no meio dos mares e no microrganismo de uma so-