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4506 DIÁRIO DAS SESSÕES N.° 221

O Sr. Casal-Ribeiro: - Não confunda os dois generais!

O Sr. Barreto de Lara: - Não confundo generais. Foram dois candidatos à Presidência da República, é tudo.

O Sr. Casal-Ribeiro: - Está bem, mas isso não quer dizer nada...

O Sr. Barreto de Lara: - São dois oficiais generais, e quem os fez generais não fui eu! Nem o povo!

O Orador: - V. Exa. dá-me licença, Sr. Deputado Barreto de Lara?

O Sr. Barreto de Lara: - Foram escolhidos em Conselho de Ministros.

O Sr. Casal-Ribeiro: - O Conselho de Ministros também se engana, às vezes!

O Orador: - Perdoe-me V. Exa., mas agora gostava eu de interrogar V. Exa., pedir permissão para o interromper...

Risos.

O Sr. Barreto de Lara: - Eu só vou terminar, só vou dizer mais uma coisa, se me der licença.

O Orador: - Com certeza.

O Sr. Barreto de Lara: - É que os portugueses do ultramar e os portugueses da metrópole estão cansados deste jogo de pingue-pongue que se está a fazer. Se o Governo decidisse abandonar amanhã o ultramar, levantava-se tudo porque abandonar o ultramar era uma traição às tradições históricas. Se o Governo continuar a defender o ultramar, aqui d'el-rei porque o defende.

O Sr. Henrique Tenreiro: - Isso não se discute!

O Sr. Barreto de Lara: - Portanto, não sabemos como é que nos havemos de entender, e não queria deixar de manifestar aqui, realmente, com certo fastídio por este estado de coisas.

O Sr. Camilo de Mendonça: - Dá-me licença? É só uma pequena minoria...

O Sr. Presidente: - Sr. Deputado Santos Almeida: Peço-lhe o favor de continuar as suas considerações.

O Sr. Barreto de Lara: - Sr. Deputado Santos Almeida, desculpe em me ter...

O Orador: - Obrigado, Sr. Deputado Barreto de Lara; não há dúvida de que V. Exa. deu uma vivacidade que eu não seria capaz de dar - e também que não gosto de dar - às minhas intervenções. Gosto, realmente, de falar com uma seriedade diferente. Mas, no fundo, todos temos o mesmo objectivo, embora os processos sejam ligeiramente diferentes.
Sou apologista de uma maneira de dizer as coisas um pouco mais brandas, digamos assim. De qualquer modo, muito obrigado, e, se V. Exa. me permite, eu continuo.
Como se arrogam alguns o direito de quererem decidir o nosso próprio destino!
Com que leviandade se procura às vezes defender disparatadas teorias com o argumento de que elas têm o nosso apoio! Como se confunde o natural desejo de um grau crescente de descentralização administrativa com independência política, que, além de tudo o mais que não queremos nem estamos sequer dispostos a aceitar, representaria a nossa aniquilação imediata!
Não se duvida só dos nossos sentimentos de portugueses, mas insulta-se até a nossa própria inteligência.
Não se procura ajudar a conseguir o objectivo que todos temos em vista: o rápido progresso social do ultramar baseado na igualdade de raças, o que, consequentemente, implica até a crescente participação de todos na condução dos negócios públicos. Pelo contrário, criam-se sérios obstáculos a esse progresso, à valorização dos africanos, portanto, e, valha-nos Deus, isso faz-se em nome desses mesmos africanos!
Lamentam-se as perdas humanas causadas pela guerra (e ninguém o lamenta mais do que nós próprios, evidentemente), mas estimula-se essa mesma guerra através de apoio implícito e criminosamente concedido àqueles que no-la impõem!
Repetimos: Valha-nos Deus!
Sr. Presidente e Srs. Deputados: É certamente compreensível para todos VV. Exas. que sejamos nós, os portugueses ultramarinos, aqueles que mais intensamente vivem, aqueles que mais profunda e amargamente se sentem revoltados, ou até apenas tristes, em face de tanta incompreensão, ao verem pairar qualquer dúvida sobre a política governamental de intransigente defesa do ultramar.
Temos as fortíssimas razões que assistem a qualquer português que se preze, acrescidas ainda da terrível visão do que aconteceria às nossas próprias vidas se fosse seguida uma política de abandono.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Naturalmente que, do mesmo modo, é sempre profundo o seu sentido de gratidão para com aqueles que se mantêm firmes na defesa do ultramar, ainda mesmo que a exteriorização de tal sentimento de gratidão surja de modo pouco expressivo.
Mas ao dizermos isto queremos especialmente que fique bem claro que os nossos sentimentos de repulsa ou de revolta não podem ou devem ser medidos pela exuberância com que os testemunhamos.
Por detrás da nossa aparente apatia está sempre um espírito atento e observador, um mundo de cogitações, de mágoa e até de receios que teimosamente surgem, embora felizmente logo abafados pela confiança que sempre depositamos no Sr. Presidente do Conselho, aliada ao conhecimento que temos de que o modo como defende a integridade nacional é apoiado pela extraordinária maioria de todos os portugueses de aquém e de além-mar.

Vozes: - Muito bem!