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3 DE FEVEREIRO DE 1973 4505

ou inconscientemente, atente contra a sobrevivência dos portugueses do ultramar, qualquer que seja a sua cor ou credo.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E neste se salientam alguns milhões de católicos, de cuja sinceridade não é lícito duvidar-se, e que de modo tão veemente e claro têm manifestado, não apenas o desejo, mas uma firme e inabalável determinação de continuarem portugueses.

Vozes: - Muito bem!

O Sr. Barreto de Lara: - V. Exa. dá-me licença?

O Orador: - Faça favor.

O Sr. Barreto de Lara: - Ontem chegado de Angola, não tinha o propósito de intervir, porque V. Exa. está a empolgar a Assembleia e a minha intervenção é susceptível de quebrar esse ritmo, e faço-o talvez até com uma certa infelicidade, prejudicando o empolamento que V. Exa. está a imprimir à Câmara.
Mas acontece que eu estava em Angola quando ouvi as palavras do Sr. Presidente do Conselho. E fiquei profundamente surpreendido, pela forma veemente, e incisiva, se não duro até, como pronunciou as palavras que penetraram fundo no coração de todos os portugueses de Angola e activaram a chama do seu amor pátrio.
Na altura, confesso, não encontrei a justificação de tal forma incisiva de expressão. A explicação foi-me, porém, dada hoje pelo Sr. Deputado Alberto de Meireles, que quis fazer o favor de me dar cópia de uma moção que foi aprovada depois de discutida na Capela do Rato em 31 de Dezembro de 1972.
E quando olhei para ela, compreendi imediatamente a reacção do Sr. Presidente do Conselho.
Além disso, pensava eu que nesta legislatura não poderia haver mais lugar à discussão do problema da subsistência ou insubsistência da guerra do ultramar.
Cento e trinta Deputados se sentaram nesta Casa com um denominador comum: a defesa à outrance da integridade do território nacional. Representando o povo, pois legítimo seria pensar que era o povo que estava nesta casa.

Vozes: - Muito bem! Muito bem!

O Sr. Barreto de Lara: - Surpreendi-me, portanto, que, e demais para mais, numa igreja de Cristo, num templo destinado à meditação, onde se reza ...

O Sr. Casal-Ribeiro: - Onde se devia rezar.

O Sr. Barreto de Lara: - ... onde por conseguinte as almas procuram estar em contacto com poderes divinos tal moção tivesse sido discutida, discutida e votada. E surpreendeu-me tanto mais, na medida em que "o problema da defesa do ultramar" não se trata já apenas de um problema de cariz político, não se trata já apenas de um problema de tradição nacional, não se trata já apenas do respeito pela Constituição Política que foi votada pela Nação. Trata-se de muito mais, trata-se de um problema profundamente cristão.

O Sr. Henrique Tenreiro: - Devia ser!

Vozes: - Muito bem!

O Sr. Barreio de Lara: - Trata-se de proteger e de defender a vida e a fazenda daqueles que há séculos se confiaram e acobertaram à Bandeira Portuguesa.

Vozes: - Muito bem!

O Sr. Barreto de Lara: - Pois tal reunião e o que ali se passara terá estimulado ao fim e ao cabo as guerrilhas. Mas, digamos assim, "o tiro saiu pela culatra". Se realmente as guerrilhas se terão incentivado sob a autoria moral dos votantes, se houve mais operações, se terá havido mais sangue derramado, por outro lado, que não haja qualquer espécie de dúvida, os homens do ultramar também se estimularam e, como na arrancada de 1961, todos à uma estão preparados para receber seja quem e em que circunstâncias for e discutir seja que problema for.

O Sr. Camilo de Mendonça: - Os do ultramar e os da metrópole também.

Vozes: - Muito bem!

O Sr. Barreto de Lara: - Realmente eu creio que isso é um denominador comum da Nação Portuguesa, Sr. Deputado Camilo de Mendonça.
Por outro lado, verifico que em todas as campanhas políticas que se têm feito neste país - nós em Angola somos menos politizados, pois, a nossa política é de natureza um tanto divergente, é uma política de mais virilidade e trabalho e de menos conceitos filosóficos.

O Sr. Henrique Tenreiro: - É uma política nacional.

O Sr. Barreto de Lara: - Exactamente.
Mas dizia, é que verifico que nas campanhas políticas na metrópole, e nalgumas delas eu intervim como militante activo, inclusivamente na última campanha eleitoral de Humberto Delgado, em que tive actuação activa exactamente em representação da sua candidatura...

O Sr. Casal-Ribeiro: - Mau gosto!

O Sr. Barreto de Lara: - Eu peço desculpa. Foi um candidato à Presidência da República que eu respeito exactamente porque foi um candidato à Presidência da República!

O Sr. Casal Ribeiro: - Mau gosto!

O Sr. Barreto de Lara: - Porque também foi candidato à Presidência da República o Sr. General Norton de Matos, que eu vi com fotografias pregadas nas paredes com as insígnias de grão-mestre da maçonaria portuguesa e já vi nesta Assembleia Nacional citado como um ilustríssimo português.

O Sr. Veiga de Macedo: - Eu fui um deles.

Vozes: - Muito bem!

O Sr. Barreto de Lara: - E foi dos portugueses mais ilustres que teve este país.