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3 DE FEVEREIRO DE 1973 4513

ciedade insular, continuava a ler cotidianamente os jornais ali publicados. Um deles, que ainda existe, chama-se A União. E o bom povo da minha ilha generalizava o título aos que vinham de fora: eram As Uniões ou As Uniães do continente.
Acreditava com uma fé inabalável nas opiniões, nos comentários, nas reflexões e nas aspirações que os jornalistas expunham. Constituíam para mim uma matéria dogmática. Supunha mesmo que as instituições e o Governo, a que compete a felecidade dos povos, se deviam reger pelas doutrinas e pela orientação emanada dos redactores dos jornais... Eu mesmo fui jornalista e sou um tanto jornalista... Com o Dr. Dutra Faria, um dos mais brilhantes articulistas portugueses, e Correia de Melo, poeta, ajudei a fundar um semanário Os Novos, de que saíram apenas quatro números...
Pode dizer-se que a imprensa conta dois milénios. Já os Romanos no primeiro século a. C. publicavam, por afixação, as Acta Diurna. Mas foi a Gazette, editada por Théophraste-Renaudot, que inaugura o jornalismo moderno.
Em Portugal também, logo no início do século XVIII, em 1715, apareceu a Gazeta de Lisboa, antecessora do Diário do Governo. No seu primeiro número ficámos sabendo que "Suas Magestades logram saúde perfeita". No n.° 6, com a data de 7 de Setembro, regista-se uma notícia sensacional:

Com universal sentimento de toda a monarquia francesa faleceu em Versalhes no primeiro do corrente, pelas oito horas da manhã, el-rei cristianíssimo.

Era Luís XIV.
É, porém, na alvorada do século XIX, com os sucessos políticos de uma das épocas mais agitadas da nossa história, que as folhas impressas se multiplicam. Folhas partidárias com títulos pitorescos, como O Oráculo, O Campeão, O Chocalho, O Trovão, O Almocreve das Petas, O Tagarela, A Trombeta Lusitana, O Tira-Teimas...
Na segunda metade do século surge a imprensa noticiosa, sem rótulo pardidário e com tiragens crescentes. Corresponde ao desenvolvimento da sociedade industrial e capitalista. Os progressos técnicos da impressão acompanham este surto com a invenção da máquina rotativa e das linótipos.
Entre nós, Eduardo Coelho, fundando o Diário de Notícias, em 1864, inspira-se em Le Figaro, de Paris. Como se escreve no artigo de apresentação, o jornal procura "interessar a todas as classes, ser acessível a todas as bolsas e compreensível a todas as inteligências".
São desta época, entre outros quotidianos desaparecidos, não só o Diário de Notícias e O Século, como o Jornal do Comércio, O Comércio do Porto, O Primeiro de Janeiro, O Jornal de Notícias e outros.
Esta imprensa já se reflecte na literatura novecentista como uma verdadeira instituição social - literatura que é um documento do século, com as suas tendências doutrinárias, os seus costumes, os hábitos das personagens nela representadas.
Por exemplo, Luísa, a triste heroína de O Primo Basílio, a Bovary portuguesa, "ficara sentada à mesa a ler o Diário de Notícias no seu roupão de fazenda preta...".
Em A Capital, ainda de Eça de Queirós, Melchior Carneiro era redactor de O Século. Era ele quem gabava ao Artur, de Oliveira de Azeméis, a profissão de jornalista "quando a gente já se sabe tem alguma coisa de seu...". Mais tarde ou mais cedo apanhava-se um nicho... Além disso sempre se era um bocado temido...
Fradique Mendes, o representante do diletantismo em Portugal, a sedutora personagem idealizada por Eça, informava-se pelo Times e pelo Figaro. Mas acabava igualmente por ler os jornais portugueses, que ele chamava então "fenómenos picarescos de decomposição social...".
Sr. Presidente: Podemos afirmar que a idade de ouro da imprensa, da imprensa como força de opinião e de monopólio da comunicação, se encerrou com o termo da 1.ª Guerra Mundial. No decénio de 20 a rádio já emite nos Estados Unidos um serviço quotidiano de notícias e expande-se em todo o mundo ocidental. No decénio de 40 começa a desenvolver-se a televisão com febril actividade. Há uma ruptura brusca com o passado. A imprensa procura adaptar-se, desde então, às novas condições dos meios de informação.
Uma das características essenciais do jornal é a variedade de temas e de imagens que se oferecem ao leitor. Ao contrário da televisão, que impõe um modelo e um estilo uniforme de informação, a leitura do periódico permite uma atitude de selecção individual, tanto pela temática das suas secções como pelo conteúdo dos artigos.
Só o jornal nos faculta um esclarecimento completo sobre os acontecimentos da actualidade. Enquanto a rádio ou a televisão nos transmitem a notícia na sua primeira forma de captação, o jornalista já tem ensejo de reflectir e de fazer reflectir o leitor sobre o seu significado.
Em segundo lugar, só o redactor de um jornal ou os seus colaboradores estão preparados com alguma dilação para integrar a notícia numa sequência de factos, num contexto histórico, num condicionalismo temporal ou até numa explicação científica. Como se sabe, a maior parte dos grandes quotidianos de expressão universal possui um corpo redactorial de especialistas dos assuntos religiosos, políticos, diplomáticos, económicos, financeiros, sociais, desportivos e de outros tantos motivos de interesse para todas as categorias de leitores.
A clientela que lê o seu quotidiano ou outra qualquer folha impressa, se se encontra quantitativamente determinada em muitos países, nem sempre foi identificada qualitativamente. Não creio que em Portugal, por exemplo, se tenham feito estudos sociológicos sobre as preferências dominantes dos leitores, os seus grupos etários, as suas profissões, a sua formação cultural, as suas reacções pessoais. Antigamente os jornais eram mais lidos nas cidades do que no campo. Porém, hoje, nalgumas nações da Europa, pelo contrário, são mais lidos no campo, ou porque os costumes rurais se aproximam dos da cidade, ou porque os lazeres sejam mais frequentes.
Nos periódicos do nosso tempo as informações e os comentários políticos que apaixonaram os nossos avós tendem a restringir-se. Os jornais de cor propriamente política fizeram a sua época. De resto, para que se satisfaça uma clientela cada vez mais numerosa, não há vantagem em adoptar uma opinião que