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4540 DIÁRIO DAS SESSÕES N.° 222

abrangidos foi devido ao impressionante progresso tecnológico das últimas décadas.
Porém, e infelizmente, tal desenvolvimento no sector técnico não foi acompanhado pelo progresso de ordem moral que se impunha, ocasionando que nem sempre os meios de comunicação social tenham sido bem utilizados, isto é, postos ao serviço dos melhores valores, levando que o homem mau uso fizesse deles, usando-os para o mal, quando se impunha que só os melhores valores o bem fosse difundido e propagado.
Quer dizer: a competência técnica centrada na eficácia dos meios de comunicação social nem sempre tem estado aliada à preocupação de servir, com verdade, as pessoas e as instituições, em suma, a sociedade. E, por isso mesmo, quantas vezes topamos com uma informação que outra finalidade e intencionalidade tem que não seja o de ser... deformadora, levando, sob a capa de dar a conhecer acontecimentos, antes impor deles uma predeterminada visão, para encaminhar os espíritos a julgar as pessoas, a sentir e a reagir e, ainda, para se conduzirem "as massas a obedecer, no equívoco e na inconsciência, aos manipuladores que as iludem para as comandar melhor... ". E assim surge, em vez da técnica da informação, a técnica da deformação, que, como já escreveu o Dr. João A meai, é irmã gémea das. técnicas de aviltamento denunciadas pela análise penetrante de Gabriel Marcel e que se surpreende "a elaborar uma versão unilateral e ardilosa, por vezes escandalosamente falsa, das ocorrências, dos problemas em causa, das hipóteses em jogo, dos protagonistas que encarnam as várias forças ou as várias correntes".
Por isso se depara, tantas e tantas vezes, com os meios de comunicação social a actuarem sem respeito pela verdade, pela selecção e pela oportunidade, levando às massas certas informações que só irão fazer-lhes mal ou que lhes farão mais mal do que bem, e isto em nome de uma tão discutível, por nefasta, objectividade.
Tais meios de comunicação não brilham, de um modo geral, pela seriedade, pela imparcialidade e isenção na apresentação dos acontecimentos, quer nacionais, quer internacionais. Basta que tenhamos presente o que tem acontecido com a imprensa mundial no julgamento e apreciação da nossa questão ultramarina.
O Doutor Salazar, com a clareza, objectividade e visão inteligente dos problemas, podia escrever: "Uma inconcebível liberdade de imprensa em política externa, uma inacreditável desenvoltura na maneira de tratar assuntos internacionais, nações e governantes estrangeiros, está aqui e além, sob os olhos resignados de governos, a cavar abismos, a falsear os factos, a aventar interpretações, a desvirtuar as intenções mais correctas, a desviar a opinião pública [...]" "Uma publicidade desaforada, estúpida umas vezes, outras inteligentíssima e intencional, esquadrinha as atitudes, dá sentido às coisas indiferentes, perverte as intenções, desvirtua o pensamento mais lúcido, açula paixões, espalha ódio, lança o terror, suscita problemas e, com meias verdades, cria a atmosfera de guerra com que alguns, é certo, podem resolver dificuldades de política interna e em outros não se percebe que intuito tenham senão a mesma guerra [...]"
E deparamos ainda com os que defendem o direito ilimitado e indiscriminado dos meios de comunicação
social de dar publicidade a tudo quanto lhes cai nas mãos, adoptando nos mais diversos campos uma atitude de negação - ainda que tácita e apenas implícita- de qualquer escala de valores morais, o que equivale a dizer: uma atitude de completo amoralismo, quando não é de descarado imoralismo.
Apesar da severidade com que vi julgada pelo Sr. Deputado avisante a falta de uma maior abertura para com os diversos meios de comunicação social, com a sugestão de que "toda a problemática da comunicação de massa" aparecesse, no nosso país, não apenas "como um acrescentamento ao nosso modo de vida", não vi, em contrapartida, ser igualmente tratado o mau uso feito dos meios de comunicação social quando são atacados os nossos interesses e defendidos os nossos direitos; quando, por toda a parte, mesmo no mundo ocidental, e até entre nós, jornais, revistas, livros e outros meios de comunicação social não é à toa que estão a ser vítimas de uma maciça infiltração comunista ou comunizante vitimando o que de melhor a Nação tem - a sua juventude!
Mas, se bem que tal constitua uma verdade de fácil verificação - pois que até se torna patente na elaboração de programas para o nosso ensino, como acontece com a disciplina, de raiz materialista, chamada "introdução às Ciências Humanas", integrada, a título experimental, no curriculum do 3.° ano do ensino básico -, quem o proclame com propósitos honestamente nacionais não se livra de ser acusado de fascista, de imobilismo estéril e de feroz conservadorismo e até de assustar-se com qualquer mudança, obstando por isso que "o País se torne mais culto e mais bem informado", o que, acontecer, corresponderia "a uma mudança radical do sistema do Poder".
E o Sr. Deputado avisante chega mesmo a julgar que não erra no diagnóstico pensando "que é por isto, e só por isto como razão profunda, que tanto se ataca o actual Ministro da Educação Nacional", tentando reduzir a todo o custo os meios de comunicação social à "função da comunicação tradicional" e dando de Portugal uma imagem "romântica, folclórica, patrioteira ou provinciana".
Com toda a franqueza confessamos que não conseguimos entender bem (e certamente a deficiência é apenas nossa) o alcance das palavras do ilustre Deputado, as quais acabámos de transcrever. E a dúvida é esta: quis o Sr. Deputado dizer que levará a "uma mudança radical do sistema de Poder" uma reforma educativa como aquela que o actual Ministro da Educação Nacional pretende levar a cabo? Mas, assim, teríamos o próprio Governo a promover, ou, melhor, interessado em promover, a destruição dos valores fundamentais que informam a Constituição Política. Ou, por outras palavras, teríamos o Governo que, contendo no seu seio o germe da própria destruição, se autodestrói. Será isto que o Sr. Deputado Magalhães Mota quis dizer, ou, porque é mais fácil teorizar do que trabalhar sobre realidades, teriam as palavras atraiçoado o seu pujante pensamento, que é costume expressar de forma tão cristalina?
É que, se for assim, como conseguirá conciliar-se esta orientação do Ministério da Educação Nacional com o ideário político expresso, por mais de uma vez, clara e peremptoriamente, pelo Sr. Presidente do Conselho e que, não buscando "ofuscar com promessas demagógicas nem fugir às responsabilidades das atitudes