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4722 DIÁRIO DAS SESSÕES N.° 234

nacional de todos os tempos: a do tráfico da droga. Nunca houve maior exploração do homem pelo homem.
Tem esta heresia social como características principais, nos países onde está largamente difundida, a sua tendência para grassar e expandir-se entre a adolescência e a juventude, atingindo grupos etários cada vez mais novos.
No plano comunitário, os grupos humanos drogados, com seu proselitismo niilista, sempre aliciando neófitos, a sua contestação passiva, a vadiagem a que se entregam, a sociedade marginal fechada que constituem, com uma vida errante sem motivações - representam no presente um peso morto voltado a um inútil futuro de derrota e de desespero.
O mundo dos drogados pode representar, em parte um vício que se expande, como é o caso do alcoolismo, alojando-se, sobretudo, nos temperamentos psicóticos. Mas é sobretudo uma "doença de civilização", expressão de conflitos com a referida sociedade de consumo e adentro desta, sobretudo com a família.
Há uma personalidade específica do drogado com a sua filosofia, "seu clima", sua pseudo-sociedade, seu contágio perigoso.
Foi o aparecimento e difusão da heroína e do L. S. D., com a sua utilização endovenosa para obter o flasch e a "viagem", que deram gravidade e estilo próprio à toxicomania social moderna e à escravização e degradação orgânica e espiritual a que conduzem.
A heroína é a droga típica, a mais cara, a mais intensamente euforizante, a que cria mais rapidamente habituação psicológica, a que não se pode fugir, a "dependência física" que obriga ao seu consumo permanente, sob pena que sobreviva o terrível síndroma de "privação" quando ela bruscamente falte, e cujo quadro clínico foi ontem descrito pelo Deputado avisante.
Para manter primeiro o seu "paraíso artificial", e depois e apenas para tentar fugir ao angustiante síndroma de carência que referi, quando ela falta ao organismo, o heroinómano tem de injectar-se cada vez mais vezes ao dia e em doses cada vez mais crescentes, até ir parar à prisão, ao manicómio ou ao hospital e, depois, por vezes, ao cemitério.
Para obter o tóxico alimento, ultrapassa todas as barreiras sociais e morais. Depois de perder o emprego e de empobrecer, adoece, torna-se um farrapo humano e corre o risco de septicemias, hepatites e outras doenças que provoca ao injectar-se.
As anfetaminas e o L. S. D. tiveram de começo, no Ocidente, como os estupefacientes, uma utilização terapêutica, que, por prolongar-se demasiado, estava na base da acostumação e dependência de muitos doentes transformados depois em toxicómanos.
Foram considerados como medicamento heróico contra as depressões psíquicas, estimulante intelectual nas horas de fadiga e amplificador da capacidade de produção intelectual nos momentos em que é necessário rendimento excepcional.
Os Alemães empregaram-nos durante a última guerra, e diz-se, sem confirmação, que os Aliados as teriam utilizado em certos grupos militares no desembarque da Normandia.
Porque não dão, como os estupefacientes, os fenómenos de dependência orgânica, de privação e da necessidade imperiosa do aumento crescente de doses, não são bem enquadráveis na definição médica de toxicomanias da O. M. S.
Mas são-nos, sob o ponto de vista social, sobretudo o L. S. D. - o alucinogéneo mais difundido -, pela dependência psicológica a que conduz, pelas doenças psíquicas que engendra, pelo contágio que determina, pelas associações a outros tóxicos que condiciona, e, sobretudo, por ser uma das drogas mais utilizadas em grupo pelos que se entregam ao seu uso e às suas consequências.
A "viagem" feita sempre em grupo, com alguns neófitos e um veterano como condutor da equipa, com luzes poderosas acesas e música estridente, tem qualquer coisa de rito e de mensagem.
Conduz a administração endovenosa, a presença visual de tipo caleidoscópico de ruídos e sons, ao aparecimento de uma superpersonalidade multidimensional, expandindo-se indefinidamente. Paraíso efémero, que dura na sua fase espástica segundos ou minutos, seguidos de depressão, fadiga e perturbações psíquicas. Há poucos meses, um cientista holandês afirmou, em Lisboa, que a tentativa de ultrapassar com os alucinogéneos os limites da consciência humana, penetrando nos âmbitos inconscientes da existência, põe a liberdade e a dignidade humana em perigo.
Em alguns países tem-se defendido a ideia de utilizar o uso moderado e controlado de marijuana e haxixe, os dois derivados do Canabis (cânhamo indiano), as mais antigas drogas usadas e de menos perigoso efeito em relação à heroína e ao L. S. D.
Acentue-se que onde isto foi posto concluiu-se paradoxalmente por acentuar a necessidade de aumentar a sua repressão, pela impossibilidade de controlar o seu uso e as suas doses, com tendência para sempre aumentar, pelas associações a outros tóxicos piores a que dão origem, pela sociedade de drogados marginais que ajudam a criar.
Mas para além do toxicómano, e explorando o seu vício pouco a pouco insaciável e indominável, há o proxenetismo da droga, as redes de tráfico clandestino, os gangs poderosos, com suas trágicas lutas internas em volta de fortunas obtidas sobre a desgraça alheia, suas organizações intercontinentais e seus disfarces rocambolescos para vencer a acção policial.
E esta exploração - proxenetismo, insisto - da saúde, da vida e do futuro de grandes grupos de jovens e adolescentes constitui o pecado maior da droga no mundo ocidental. Leu-se há tempos na imprensa que um juiz americano, ao aplicar a pena de vinte anos de prisão a um traficante responsável pela introdução na Florida de 10 milhões de dólares de heroína, sublinhara que a mortalidade e o sofrimento provocados por tal quantidade de droga seria provavelmente igual à resultante da guerra do Vietname. Não parece esta afirmação muito exagerada, se pensarmos que há cerca de seiscentos mil toxicómanos nos Estados Unidos e que mais de novecentas pessoas morreram só por superdosagem acidental de heroína em 1972.
O tráfico da heroína, exigindo preparação em laboratório clandestino especializado (a partir da morfina e através desta o ópio) e volume apreciável de reagentes, o tráfico da heroína pura, dizia, que será acrescentada depois com outros pós inertes para su-