O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

4788 DIÁRIO DAS SESSÕES N.° 237

Somos levados a pensar, imediatamente, nos adolescentes e nos jovens, talvez porque mais vulneráveis, mais atingidos pelo desejo da evasão, da fantasia, da marginalização social como meio de ruptura com a sociedade actual.
Talvez porque a sociedade de hoje em mutação brusca, quer se trate de países industrializados ou em vias de desenvolvimento rápido, se deixa dominar pelos factores de crescimento económico, de produção de maior riqueza e de consumo, o homem é, não raras vezes, esquecido na sua dimensão integral. Não há preocupação de ser mais ou melhor - antes, de ter mais.
Contra este tipo de sociedade embriagada, desumanizada, reagem a seu modo os jovens, fechando-se no seu mundo próprio, contestando, criando grupos que levam ao uso dos estupefacientes.
A este propósito gostaríamos de referir aqui o resultado de um inquérito levado a cabo por uma professora francesa do ensino secundário, Jeanne Delais, publicado, no passado mês de Fevereiro, num periódico francês.
Interrogados duzentos jovens seus alunos, verificou que três em cada quatro desejavam não se tornarem adultos. Recusavam um mundo onde o homem persegue o homem, onde a guerra não acaba, onde o ódio e a violência se instalam.
Renunciam a uma civilização do prazer, do desejo, a um universo sem amor e sem Deus. Contestam os adultos por lhes falarem de sexe, enquanto eles desejam falar de amor. 72 por cento desses adolescentes e jovens, onde o espírito é mais imaginativo, a sensibilidade mais rica, responderam que não quereriam ultrapassar a idade que possuíam - em média 15 a 16 anos. Todos declaravam que "desejavam fazer parar o tempo; permanecer na mesma idade".
Poderia aqui acrescentar que a propósito desta intervenção resolvi fazer um teste entre jovens portugueses e no passado domingo fiz umas perguntas semelhantes a jovens entre os 15 e 16 anos, pois a resposta imediata foi a mesma que a professora francesa tinha encontrado em França.
Mas, vamos ouvir as respostas dos jovens franceses:

Perguntam-nos o que significa esta palavra: a "Fé", e nós não sabemos, porque ninguém se deu ao cuidado de transmiti-la. Mas há uma palavra de que nós conhecemos o sentido. É a palavra "Amor". Nós não pensamos noutra coisa, não sonhamos senão isso, e quereríamos construir a nossa vida sobre o amor. E quando nós falamos de amor, os adultos, obcecados, instalados, falam-nos de sexe.

Assim, neste mundo de ruptura de gerações, os jovens, convencidos de que os adultos não podem compreendê-los, inventam mil refúgios, onde imaginam uma sociedade nova e onde, por vezes, são levados pela droga para a agressividade, a destruição, para a alienação das realidades que contestam. "Contestação desoladora e cruel, que não dá à comunidade nada de construtivo", diria o Papa Paulo VI no já referido discurso.
Que fazemos nós, os adultos, a abrir os caminhos desta nova geração que cresce?
Limitamo-nos a criticar, condenar ou reprimir?
E que fazem os pais?
A crise da juventude não é, antes de mais, uma crise da família? Mundos separados, por vezes, os dos filhos e os dos pais, onde se fala uma linguagem diferente, onde se sente uma problemática diversa, onde os muros se levantam, em vez de crescer o diálogo.
Não é pela omissão dos adultos perante os tempos livres dos adolescentes e dos jovens, nem tão-pouco por uma actuação paternalista ou repressiva, que o diálogo se estabelece. Este exige humildade, compreensão, saber ouvir, respeitar as iniciativas, animar, confiar, ajudar à tomada de consciência e de responsabilização. Dialogar para conhecer e encaminhar. Para respeitar e fortalecer.
Por isso, diríamos que na base de uma política da juventude que conduza profilacticamente à eliminação da toxicomania está uma verdadeira política da família. Será no seu seio que os primeiros laços de amor se estabelecem e crescem; que o treino para a paz no coração do homem se pode desenvolver; que os sentimentos de amizade, de justiça, de perdão, se podem desenvolver. Que o exemplo dos pais pode ser caminho e luz para os filhos. E não se diga que, pelo facto da família de hoje ter mudado a sua estrutura interna, perdendo as características de patriarcado ou matriarcado, ela deixou de ter o seu papel relevante na formação dos homens de um mundo novo que queremos construir. Será, sim, porque ela se alienou, se deixou abalar nos seus alicerces, a pretexto de uma maior intervenção dos Poderes Públicos ou de uma corrida para o crescimento económico, que o mundo da droga, com todas as suas consequências, se infiltra e alastra. Então, aparece-nos todo o cortejo dos drogados, viciados, inadaptados, marginalizados - pelo fumo, pelo álcool, pela droga, pelo sexe. Quem pode atirar-lhes a primeira pedra sem se sentir responsabilizado no fosso que cavou?
Algo se tem feito no nosso país na reeducação ou recuperação dos toxicómanos, quer no âmbito das entidades oficiais, quer da iniciativa e do zelo de particulares, especialmente no campo da saúde mental e da recuperação de alcoólicos.
Referiremos apenas, entre outras, a acção do Instituto de Assistência Psiquiátrica, do Centro de António Flores, em Lisboa, do Centro de Recuperação de Alcoólicos de Coimbra e da recente Associação dos Amigos de o Ninho, e ainda de uma consulta especializada no Hospital de Santa Maria. Todavia, temos de concordar que neste campo específico se trata de uma actuação muito incipiente.
Muito há, pois, a fazer com vista à promoção e revigoramento da família. Apelamos para as famílias portuguesas no sentido de que, individualmente ou em grupo, em formas de natureza mais ou menos associativa ou representativa, à semelhança do que existe em muitos outros países, se capacitem da alta missão que lhes cabe, perante um mundo em constante mutação, onde é imprescindível lutar contra todas as causas que arrastam os jovens e os adultos à alienação da sua dignidade humana.

O Sr. Moura Ramos: - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Ao entrar no debate sobre a matéria do aviso prévio anunciado em 14 de Abril do ano passado, e há poucos dias efectivado, cumpro, antes de mais,