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5060 DIÁRIO DAS SESSÕES N.° 250

de exame da 4.ª classe do ano de 1928 nestes termos: Classificação: 16. Qualificação: distinto.
A ditado: 15 valores; problemas: 16 valores; caligrafia: 15 valores; desenho livre: 17 valores; enfim, tudo assim neste género;... Se este homem, no seu tempo, tivesse as facilidades que há hoje, que seria ele agora? Presentemente, àquele lugar até vai um autocarro para trazer a pequenada para o ciclo.
No tempo dele nem estrada para lá havia.
Mas, a que propósito vem este caso particular?
Está bem de ver: a nossa gente dispõe hoje de mais facilidades e são autênticos criminosos os pais que as não aproveitam em benefício dos seus filhos, não vendo que eles ficam numa situação de inferioridade em relação a todos os outros.
Não admira que o Governo, daqui a algum tempo, não deixe sair para o estrangeiro ou entrar para quaisquer serviços os que só tiverem a 4.ª classe, o ciclo preparatório, de mais escolaridade no futuro.
E continuava o articulista, em sua fala simples e objectiva, para ser melhor entendido:

Um outro caso muito significativo: ainda não há muito tempo que se viam regressar, alegremente, vindos de vários pontos do Mundo, alguns rapazes de Cabo Verde.
Vinham de servir várias companhias de navegação europeias, americanas e penso que até do Japão.
Mas então: como é que estes rapazes se aventuraram a tanto?
Muito simples: lá em Cabo Verde há liceus, onde aprendem, além do mais, o francês e o inglês. O estudo dá-lhes desenvoltura, que lhes permite saberem averiguar quais as companhias que melhor pagam e lhes dão mais garantias.
Percorrem todos os portos do Mundo; passado algum tempo, lá vêm gozar as suas férias à terra natal. São rapazes evoluídos (não no sentido que a cidade hoje lhe dá, acrescentaríamos nós), e uns chamam os outros. O liceu quebrou-lhes a casca do acanhamento e ei-los confiantes e destemidos a enfrentar as dificuldades, em luta aberta pela vida.
E se não tivessem lá os liceus? Que seriam?

Conclui:

A vida está a modificar-se a uma velocidade espantosa e os mais válidos são sempre os mais preferidos, seja em que situação for [...].
Muita gente não é capaz de ver nada disto; é pena, pois mais tarde quem. se lastima são os filhos.

Terceiro apontamento: irei buscá-lo a factos da minha vida profissional.
Fui, nos começos da década de 60, procurado em Lisboa por um agricultor, relativamente jovem, das baixas de Óbidos, que em tempos, ao serviço da Fundação Calouste Gulbenkian, inquirira conjuntamente com dezenas de outros agricultores, quando nos aprestávamos a elaborar a monografia "A região a oeste da serra dos Candeeiros", sub-região de Alcobaça, no Oeste, na província da Estremadura.
Ia partir para a Alemanha por alguns meses, vinha despedir-se.
Intrigado com o facto -tanto mais que o sabia filho de viúva de agricultor familiar, já falecido portanto, e tendo a seu cargo mais a irmã, companheira nas lides agrárias -, inquiri das razões determinantes da decisão. Recordou-me esse inquérito, do alvor da manhã ao lusco-fusco de uma tarde de adiantada Primavera, com as luzes do automóvel a iluminar a cena e os papéis, em que registada ficou a recolha de elementos de natureza económica da sua exploração para tratamento posterior e análise de gabinete.
A ânsia de aprender que tal facto suscitara o levara - primeiro da sua aldeia que a 4.ª classe completara - a tomar algumas lições nas Caldas da Rainha para poder ir aprender, na labuta da vida agrária além como trabalhador, os ensinamentos com que à Pátria lhe faltara no termo da sua escolaridade, no início da sua vida profissional.
Assim foi, e assim voltou. É hoje um progressivo agricultor mais do nosso oeste agrícola.
Quarto apontamento: das Caldas da Rainha me chegou, assinada por outros agricultores e agricultoras, uma exposição mais. Concedamos-lhes a palavra que merecem nesta hora da educação nacional. Também eles são portugueses e do meu círculo, e têm direito a fazer-se ouvir nesta Assembleia.

Estando a decorrer mais um legislatura da Assembleia Nacional, onde serão tratados e debatidos vários assuntos relacionados com a vida presente e futura da sociedade portuguesa, todos os cidadãos são motivados a viver mais de perto os problemas que lhe dizem respeito.
Todos esperamos que os representantes do povo, ao intervirem nos debates, dêem todo o seu contributo de inteligência, de justiça e de verdade, de modo a darem a imagem real dos problemas nacionais e a pugnarem com todas as suas forças para as situações de carência de que, infelizmente, muitos portugueses padecem.
É frequente ouvir-se dizer, da parte dos organismos oficiais, que determinados sectores da vida nacional têm forçosamente de enveredar pelo associativismo, quer agrupando actividades, quer constituindo cooperativas, etc., como sendo esta a solução para resolver graves problemas existentes (o caso da agricultura), ao mesmo tempo que é pedida aos rurais uma cooperação válida e autêntica para salvar a agricultura do caos, pela fuga dos seus braços.
Por esta razão, surgiram no meio rural algumas iniciativas de criação de cooperativas agrícolas, na esperança de encontrarem soluções para os seus problemas; embora os associados reconheçam que através dessas associações vêm benefícios e encontram maneiras mais fáceis de realizar a sua actividade, verifica-se que esse género de associação agrícola caminha para a decadência, porque os próprios elementos, preocupados só e unicamente com o seu interesse económico e particular, não sabem entender-se e organizar-se em sociedade.
Face a esta situação de inicitivas falhadas e um bocadinho atento a estes problemas, quis o grupo da Acção Católica Rural das Caldas da Rainha averiguar quais as causas possíveis que estarão na base destes malogros e reflectir em comum, seriamente, sobre o tema da coopera-