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25 DE ABRIL DE 1973
orientem, então, o ensino nas suas escolas no sentido que a nova lei pretende.
Quanto «aos particulares», será ainda legítimo o mesmo reparo, uma vez que a lei — alínea d) da base I da proposta e da base III na versão do parecer da Câmara Corporativa — «favorecerá a liberdade de ensino em todas as suas modalidades».
Efectivamente, se as escolas daquelas confissões religiosas e as particulares (estas porventura inclinadas ao laicismo) vierem a proliferar no País, bem poderá suceder que vejamos dentro em pouco inteiramente frustrados os superiores objectivos da nova lei.
E, assim, jamais a formação integral dos Portugueses ou a formação do seu carácter, do seu valor profissional, da sua consciência cívica e de todas as suas virtudes morais, viriam a ser ùnicamente orientadas por aqueles tradicionais princípios.
A respeito da autenticidade e coerência da opção, parecem-me também oportunas umas breves palavras.
A juventude portuguesa — a ela se dirige principalmente a reforma do sistema educativo — não pode deixar de nos merecer, como, aliás, a todos merece, a maior atenção e o máximo respeito pelas suas excepcionais virtudes, tão exuberantemente demonstradas através da nossa história.
Na escola, no trabalho, de armas na mão em defesa da Pátria, é e sempre foi igual a si mesma; embora, com muita mágoa, eu tenha, no entanto, de pôr de parte alguns «juvenis», doutrinados de fora.
A juventude que hoje luta e morre no ultramar não é essencialmente diferente da que se bateu em Ourique, no Salado, em Aljubarrota, na Flandres, nos Dembos ou era Marracuene.
Ainda há poucos dias um pequeno grupo de jovens combatentes, da região de Alcobaça—sua freguesia da Maiorga —, quis afirmar pessoalmente ao Sr. Presidente do Conselho todo o seu patriotismo e justificado orgulho pela sua honrosa intervenção na defesa da integridade do território nacional.
A juventude é, por temperamento, inconformista, irrequieta, algumas vezes irreverente. Mas o seu inconformismo, irrequietude e irreverência, quando estimulados por inadiável solução dos grandes problemas colectivos, mais não significam do que a constante presença do sangue novo que há-de sempre revitalizar e perpetuar a Nação Portuguesa. E mal irá para a comunidade política, cuja juventude se mostre submissa, indiferente, ou abúlica, então sinal evidente da mais desoladora decrepitude.
Mas pior ainda se, pela nossa incoerência na vida social, a juventude perde a confiança nos responsáveis pelos destinos da colectividade ou nas instituições e estruturas que esta tenha adoptado.
É, na verdade, a mocidade dos campos, das repartições, das fábricas, das oficinas, dos escritórios, das escolas que generosamente se sacrifica e derrama o sangue pela integridade da Nação, que os nossos antepassados ergueram com iguais sacrifícios e em serviço da civilização cristã.
Por isso, creio na mocidade portuguesa, que não consome a sua inteligência e faculdades, nem desperdiça a sua vida em empreendimentos sem um objectivo nobre e generoso, ou sem finalidade superior; que procura a luta heróica que eleva e o trabalho honrado que dignifica, pois só neles se pode temperar a alma e moldar a personalidade; que sabe que «toda a vida do homem — como disse alguém — implica um acto de fé no seu valor e quem não compreende assim pode existir, mas não vive»; que procede com fé nos destinos da Pátria da nossa civilização e no futuro da humanidade, para que todas sejam salvas; que sabe que «viver sem luta é triunfar sem glória».
Segundo os princípios do cristianismo lhe deverá ser, pois, administrada toda a sua instrução e educação, visto que só assim se conseguirá também a verdadeira unidade nacional.
A mocidade esclarecida seria â primeira a aceitar esta determinação. E penso que não poderemos julgá-la nos seus actos de contestação, forçando a sua inteligência ou mesmo a sua consciência, se a nossa própria acção e comportamento, designadamente no estado de guerra em que vivemos, não estiver de harmonia com os princípios que, na disciplina da vida social e política, pretendemos fazer valer.
Quando muitos dos nossos jovens são chamados a cumprir deveres que vão, na frente de combate, até ao sacrifício da própria vida, talvez não seja razoável que, ao mesmo tempo, na retaguarda, cada vez mais se exija — e com êxito — um passadio de abastança, cheio de comodidades, de regalias e muitas vezes de opulência.
Creio que, se assim continuarmos, não poderá surpreender que algum dia a descrença e a desilusão possam levar esses jovens, em natural evasão, a procurar em outros motivos mais ou menos válidos o alimento espiritual de que imperiosamente necessitam.
Não haverá então ensino que, valha para os convencer da autenticidade e boa fé das nossas opções.
E, para termo deste meu comentário, registarei ainda aqui algumas das palavras que tive o ensejo de proferir há anos:
No exame que fizermos da nossa própria conduta havemos de verificar que, nos últimos tempos, temos sido, talvez, helenistas e romanistas demais; sabemos demasiado de dialéctica materialista-histórica; mas temo-nos mostrado pouco inclinados ao respeito e observância dos salutares princípios cristãos. Encontra-se mesmo, a cada passo, no homem de hoje — é forçoso confessá-lo— um desconcertante paradoxo: diz-se cristão, mas envergonha-se de falar em Cristo; alardeia ideais cristãos, mas quer vida fácil e cada vez se lança mais na procura de bens terrenos; invoca frequentemente a sua consciência crista, e abre os sentidos a um mundanismo comprometedor e dissolvente; reivindica, enfim, para si a civilização cristã, mas desvia-se da doutrina que principalmente a informa.
[...] Na dualidade espírito-matéria, cuja síntese forma o ser humano, há, pois, que estabelecer o equilíbrio entre as fontes que alimentam os dois factores, em obediência àquela doutrina. Mas o equilíbrio, neste caso, não consiste, como poderia supor-se, em os colocar ao mesmo nível. Tem de fazer-se com vista ao predomínio do espírito, pois só deve atender-se, no homem, às solicitações de ordem material, na medida em que estas convenham ao desenvolvimento daquele. Numa civilização como é a nossa — cristã pela