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30 DE OUTUBRO DE 1982 127

árabes foram bombardeadas ou saqueadas. Todas as embaixadas dos países socialistas foram destruídas. Nem a embaixada e a casa do embaixador francês escaparam, a partir do posicionamento assumido pelo Governo Francês. Os próprios edifícios religiosos foram destruídos. Todos os prédios referentes a organizações da ONU foram bombardeados. Durante 2 meses a população da cidade viveu sem água potável e sem luz. O bloqueio foi de tal ordem, que a população civil que passava as barreiras do bloqueio, quando pretendia regressar à cidade, era totalmente revistada.
Foi impedida a várias entidades, entre elas à Cruz Vermelha, a entrada de medicamentos, e até de plasma, que chegou a ser despejado no chão, 40 000 mortos, 100 000 feridos, só entre os civis, é o balanço desta barbárie, 500 000 pessoas sem lar, numa população de pouco mais de 3 milhões, dá-nos a dimensão da catástrofe.
A acção de Beirute culminava a acção destruidora de toda a região sul do Líbano, com a destruição de cidades, como Sidon, Tiro e Nabatieh, e a destruição sistemática de campos de refugiados, que albergavam centenas de milhares de cidadãos.
Sr. Presidente. Srs. Deputados: O mundo não deixou de se espantar com a resistência em Beirute Ocidental, quando todos esperavam - e em primeiro lugar talvez o Governo de Israel - que esta invasão fosse mais um passeio do exército sionista.
É bom que se saiba quem resistiu. Foram os heróicos combatentes palestinianos e as milícias do Movimento Nacional Libanês que, com a força da razão que possuíam, lutaram e impediram que as mais poderosas forças armadas do Médio Oriente, com um efectivo de 160 000 elementos, penetrassem em Beirute Ocidental e chacinassem a sua população.
No quadro de acordos estabelecidos, houve o compromisso de que Israel não entraria em Beirute. Só que, depois da estranha retirada da força multinacional, a seguir à saída da OLP de Beirute e com o pretexto - criado por quem e com que intenções? - do assassinato do anterior presidente, os sionistas entrarem em Beirute Ocidental. E foi a catástrofe, Sr. Presidente, Srs. Deputados. Foram os 3 dias de massacres nos campos de refugiados em Sabra e Chatila. Foi a destruição completa de objectivos económicos, sociais e culturais que os bombardeamentos não conseguiram.
Falei com o presidente da Confederação Geral dos Trabalhadores Libaneses, George Sacre, também membro da comissão executiva da CISL - Confederação Internacional dos Sindicatos Livres. Falámos com representantes da Central Sindical dos Trabalhadores Palestinianos. Foram recebidos pelo Ministro do Trabalho, por membros do parlamento Libanês, pelo Director-Geral da Saúde do Líbano e pelo próprio Primeiro-Ministro Libanês. As opiniões recolhidas e manifestadas são claras.
O Governo sionista de Israel, sempre tentou justificar a invasão do Líbano como operação punitiva contra os palestinianos e contra o Líbano que lhes tem dado guarida.
Mas os reais objectivos foram na verdade: liquidar militarmente a OLP, o que não conseguiu; destruir o povo palestiniano e a sua unidade, objectivos bem visíveis em Sabra e Chatila; estender ao Líbano o seu domínio político e económico, em condições que lhe permitissem impor soluções políticas de acordo com os seus interesses e com os interesses do imperialismo.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: Esta guerra não foi, e não é, um acidente no conturbado Médio Oriente. Tudo, mas tudo, começou a ser preparado há muito tempo. Os acordos de Campo David são o inicio dos preparativos desta invasão. Os bombardeamentos em Março, de objectivos estratégicos e económicos na Jordânia e na Síria, são o medir do pulso que gerou a invasão. Por detrás de Israel, estão os interesses americanos, quer militares, quer económicos, quer de dominação ideológica.
A paz é necessária naquela região.
A situação dramática vivida naquela região não pode continuar. Urge assegurar a paz. Para isso, impõe-se definir, por acordos uma solução global, onde fique definitivamente estabelecida a existência de um estado palestiniano, independente e soberano, com o seu território fixado no território da Palestina. Qualquer solução para a questão só o será se também for solução para o povo palestiniano, de que a OLP é o único e legitimo representante.
É urgente acabar com a invasão do Líbano e que as tropas israelitas retirem do Líbano sem condições.
São urgentes os esforços de toda a comunidade internacional nesse sentido.
Da parte do Estado Português, essa é a obrigação que resulta, além do mais, do disposto no artigo 7.º da Constituição.
Mas o Governo, em vez de pautar a sua conduta por forma a dar cumprimento à Constituição, limita a sua acção a declarações tardias, carregadas de hipocrisia e que depois nega na prática. Veja-se o que se passa com a exibição, neste momento, com a série televisiva Golda, que constitui uma verdadeira apologia do sionismo e isto dizem-no os próprios embaixadores árabes em Portugal.

Aplausos do PCP.

Sr. Presidente, Srs. Deputados: No Líbano, a maior parte dos trabalhadores defrontam-se com a dramática situação de verem os meios de produção destruídos. Sem os apoios necessários, sem planos de recuperação, com o desemprego, os trabalhadores libaneses lançam um grito de alerta para a garantia da sua própria sobrevivência.
É esse grito de alerta que me cumpre trazer aqui hoje, à Assembleia da República.

Aplausos do PCP, do MDP/CDE e da UDP.

O Sr. Presidente: - Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Silva Marques.

O Sr. Silva Marques (PSD): - Sr. Deputado Manuel Lopes, pretendia esclarecer-me sobre algumas questões.
Primeira: tem V. Ex.ª conhecimento de quando o Estado Soviético deixará sair em liberdade os milhares de judeus que, neste momento, se encontram oprimidos e presos naquele país?

Aplausos do PSD, do CDS, do PPM e do Sr. Deputado José Luís Nunes (PS).

A segunda questão ê a seguinte: terá V. Ex.ª podido constatar - se é possível comparar em termos de drama humano, se é possível fazer diferenciações quantitativas -, os crimes militares hediondos que têm sido cometidos pelo exército russo, pelos seus comandantes e por aqueles que os servem, no Vietname, no Cambodja, no Laos e no Afeganistão?