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230 I SÉRIE-NÚMERO 9

pedido de dissolução deste Parlamento, ou seja, desta maioria para que o País possa ter outro Governo.
Disse ainda V. Ex.ª que considera essa dissolução um acto desnecessário e erosivo da democracia. Repito-lhe que a democracia corre riscos, riscos sérios, riscos graves, porventura os maiores que tem corrido desde que regressou à cena política portuguesa. Mas esses riscos são aqueles que foram provocados pelos desmandos, desacatos e erros dos governos da AD, não pela circunstância de nós. com base nesses mesmos erros, querermos que a maioria seja substituída por outra e que este Governo seja demitido.
Sr. Deputado Vítor Crespo, ouvi-o dizer também que com esta nossa atitude nos responsabilizaremos pelas dificuldades que levantamos à concretização do vosso programa. Já há dias tinha ouvido dizer ao Sr. Primeiro-Ministro que, efectivamente, a AD não tem nenhuma culpa, que a culpa era da Constituição que foi revista e que agora, com a nova revisão da Constituição estão criadas as condições para o governo da AD passar a cumprir pontualmente o seu programa.
Isto, Sr. Deputado Vítor Crespo, com todo o respeito lho digo, é pura e simplesmente mentira. É uma maneira nova de tentar iludir o país, porque quando somos acusados de não ter consentido em nenhuma espécie de alteração fundamental em matéria de organização económica da Constituição da República, nós reconhecemos que assim era. Mas não podemos reconhecer agora que a circunstância de a Constituição da República não ter sido alterada nesses aspectos fundamentais, venha permitir a solução dos problemas económicos do país, problemas esses que até agora só foram agravados.
Pergunto a V. Ex.ª se não o apavora, como me apavora a mim, a duplicação da dívida pública em cerca de 2 anos, um défice das contas externas que já ultrapassou o bilião de contos, o défice da balança de transacções correntes que neste ano atingirá, provavelmente, mais de 300 milhões de contos, um possível défice igual no ano que vem se a AD continuar no Governo, o que significará que atingiremos o ponto de ruptura ...

O Sr. Presidente: - Sr. Deputado, peco-lhe o favor de concluir a sua intervenção.

O Orador: - Nesse caso, pergunto-lhe se isso não o apavora e se, na verdade, não lhe parece que se justifica da nossa parte o pedido que formulámos de dissolução do Parlamento e demissão do Governo.
Disse que é exigida a nossa solidariedade institucional. A solidariedade institucional acaba onde acaba a confiança política, onde acaba a solidariedade política.
Por outro lado, Sr. Deputado Vítor Crespo, a nossa solidariedade, quer institucional, quer política, não deve ir para além de nos travar para o exercício dos nossos direitos constitucionais.

O Sr. António Arnaut (PS): - Muito bem!

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Borges de Carvalho.

O Sr. Borges de Carvalho (PPM): - Sr. Deputado Vítor Crespo, permita-me que aproveite a figura do pedido de esclarecimento para me associar à homenagem que aqui prestou ao nosso colega Mário Maduro.
Mário Maduro era um homem que pela sua bondade, pela sua simplicidade, pela sua modéstia, pela sua formação política se nos impôs aqui como colega e como homem.
Era um homem político ímpar em Portugal. Posso dizer que a forma como se impôs às populações da sua região, a forma como a sua autoridade política era aceite, era fruto dessa bondade e dessa simplicidade.
Mário Maduro era o contrário, o oposto daquilo a que se costuma chamar «um cacique local», sendo, ao mesmo tempo, um homem com grande prestígio político local e com grande autoridade entre os seus concidadãos.

O Sr. António Moniz (PPM): - Muito bem!

O Orador: - Nessa medida, como chefe natural de muita gente, como homem, que ao contrário dos que aproveitam, se fez respeitar pela sua obra e pela sua personalidade merece, neste momento, da nossa parte, uma palavra de grande saudade, uma palavra de elogio e uma palavra de tristeza.
Sr. Deputado Vítor Crespo, quis V. Ex.ª abrir a sua actividade parlamentar como presidente do Grupo Parlamentar do PSD com um discurso que eu direi, um discurso de regime.
E é porque nos sentimos perfeitamente em consonância com as palavras de V. Ex.a, que eu aqui me congratulo pela forma como, pela primeira vez, discursou nesta Casa enquanto presidente do Grupo Parlamentar do PSD.

Aplausos do PPM, do PSD e de alguns deputados do CDS.

O Sr. Presidente: - Embora não se tratasse propriamente de um pedido de esclarecimento, penso que a Câmara compreenderá e, tal como a Mesa, não levantará quaisquer objecções.
Tem a palavra o Sr. Deputado Mário Tomé.

O Sr. Mário Tomé (UDP): - Sr. Deputado Vítor Crespo, dizia um conterrâneo meu: «deixá-los falá-los que eles calar-se-ão.»

Risos e protestos do PSD e do CDS.

Quanto mais se desagrega a AD e o PSD, mais solenes são as atitudes e as palavras.

O Sr. Deputado Vítor Crespo, no momento em que assume formalmente, perante a Assembleia, a direcção do seu grupo parlamentar, resolveu fazer uma viagem pelas origens, trazendo de novo o fantasma de Sá Carneiro para tentar reunir ...

Protestos de deputados do PSD e do CDS. batendo com os punhos nos tampos das carteiras.

O Sr. Presidente: - Srs. Deputados, peço o favor de prestarem atenção ao orador.

O Orador: - ... para tentar reunir de novo as hostes que começam a dispersar, que começam a abandonar o barco.
Nesta perspectiva, gostava de perguntar ao Sr. Deputado Vítor Crespo se o deixar correr aquilo que se está a passar hoje no nosso País, sob o poder da AD - o aumento de desemprego, o aumento da repressão, o aumento da miséria para muitos lares, a falta de tudo aquilo que é mais elementar e fundamental para o nosso povo poder viver -, é, para si, Sr. Deputado, deixar correr o curso normal da democracia e se é em nome