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1098 I SÉRIE -NÚMERO 32

dissolve a Assembleia enquanto o Governo demitido continua a tomar medidas mais e mais brutais contra o nível de vida dos trabalhadores e a liquidar milhares e milhares de postos de trabalho, enquanto se mostrar incapaz de assumir uma atitude minimamente nacional, honesta e eficaz na questão do diferendo das pescas com a Espanha, como exigem os pescadores e os próprios armadores que fazem parte da base social de apoio da própria AD.
Por isso Eanes quer impossar um Governo AD que negoceie um verdadeiro plano Marshall -já ventilado há anos e agora de novo agitado e requerido-, que a burguesia vê como a sua bóia de salvação no mar encapelado da crise mundial e perante a ameaça da revolta popular, que irá colocar Portugal definitivamente nas mãos dos agiotas internacionais liderados pelo FMI e pelo Banco Mundial, e poderá ter como consequência, a médio prazo, uma qualquer solução «à turca» quando as democracias ocidentais acharem que a luta totalitária dos operários pelo pão, pela liberdade, pela independência, põe em causa o cândido desfrutar das primícias da vida democrática europeia aos seus amigos portugueses.
A NATO e as bases americanas, que vão crescer e multiplicar-se, serão a garantia de que os estados de sítio, os tribunais especiais, as rusgas, as prisões, os despedimentos em massa, a censura, os espancamentos e até as torturas, não ultrapassarão as tabelas em uso nos países membros da NATO e numa primeira fase - e só se passará para uma segunda fase no caso de não haver a compreensão necessária e a aceitação requerida para as medidas legítimas de garantia da ordem, da paz é da democracia- incidirão apenas sobre os extremistas como revolucionários, comunistas, subversivos a saldo do estrangeiro, operários que incitem à indisciplina, à revolta e às greves políticas e desestabilizadoras, ou seus colaboradores conscientes que não cumpram o dever cívico de comunicar às autoridades os actos graves de que tenham conhecimento.
E por terem consciência disso que decerto os nossos heróicos intelectuais, desde Natália Correia, Cardoso Pires, Paço Bandeira, Rui Veloso, Carlos do Carmo entre outros, em vez de irem para junto dos operários - que já passam fome e não vêem emprego para amanhã- cantarem a revolta dos humilhados e ofendidos e incitá-los à unidade e à luta (o que poderia provocar instabilidade social que só aproveita aos inimigos do regime) ergueram as suas súplicas e as suas preces ao nosso General, angustiado e terrivelmente só, rodeado de epígonos que só o aconselham mal, como diz Miguel Urbano Rodrigues, para que se salve a dignidade nacional e o regime.
Porque, quem sabe, o Governo poderá não ser suficientemente sólido para conter a revolta operária e então poderá vir a ser derrubado, quem o diria, pela própria direita!
É por isso que as direcções do PS e do PCP enquanto exigem eleições antecipadas se mantêm paralisadas, cúmplices, à espera de Eanes, dando a entender e mostrando que já começa a ser escandaloso o apoio do Presidente da República à AD mas depois, se ele dissolver a Assembleia, não haverá forma de continuar a aldrabar os operários sobre o seu atávico e acrisolado amor à democracia, garantindo o bom comportamento dos trabalhadores através da UGT e da CGTP para defender o regime, para não dar argumentos à direita.
É por isso que todos se mexem e falam enquanto os operários são mantidos cautelosamente de mãos amarradas, estupidifiçados a olharem para Belém e agora para os queridos intelectuais que vêm dar a cara, corajosos, juntando a sua voz ao apelo berrado do rebanho do Senhor, e demonstrando assim que os operários podem sempre contar com pessoas cultas e educadas para dirigirem os destinos do país, desde que não se revoltem e não queiram tomar conta do poder, coisa que as democracias ocidentais não gostam.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: Perante a séria ameaça que impende sobre os trabalhadores e sobre o nosso país, a cumplicidade e a passividade são verdadeiros crimes, tão graves quanto os daqueles que jogam impunemente com a vida e a liberdade do nosso povo aproveitando as suas ilusões no chamado «regime democrático».

O Conselho Nacional da UDP considera que não podemos ficar à espera, não podemos ficar na expectativa e muito menos podemos dar tréguas aos inimigos do nosso povo. Por isso se dirige aos trabalhadores, aos antifascistas amantes da liberdade e da independência nacional, aos intelectuais, às mulheres, aos jovens, aos militantes do PS e do PCP, à CGTP e ao movimento sindical.
A hora é de unidade em torno dos interesses fundamentais e imediatos do nosso povo, mas fundamentalmente na defesa das reivindicações operárias.
Vamos sair à rua numa imensa manifestação unitária e popular contra o anunciado governo Vítor Crespo, numa manifestação que proclame a exigência de «nem mais um Governo AD» e de «eleições gerais antecipadas».
Eanes não é solução. É preciso luta mais radical. Vamos também para uma nova greve geral!
Vamos, trabalhadores e operários, unificar todas as lutas, desde a indústria naval e metalúrgica - Siderurgia, Lisnave, Setenave, Messa, Parry & Son, etc. - às pescas, SNAPA e CPP, aos têxteis, aos mineiros, aos transportes, ao sector vidreiro, onde a crise alastra enquanto se refazem os monopólios privados, enquanto se liquidam os postos de trabalho aos milhares e se lança a miséria e o desespero nos lares dos operários. Vamos fortalecer as lutas, unificá-las a caminho de uma nova greve geral para travar a escalada reaccionária que se mantém com ou sem governo, para partirmos os dentes à CIP e à CAP, que impõem os critérios de actuação do novo governo, para que todo o nosso povo veja parar o criminoso assalto à sua bolsa, possa respirar fundo para refazer as forças e perca as ilusões derrotando a direita na rua e faça das eleições uma grande uma para enterrar a AD.
A UDP apresenta a todos os trabalhadores democratas e antifascistas uma plataforma de unidade que sirva, de facto, a luta independente dos trabalhadores contra a reacção, a direita, o capitalismo e o imperialismo, na defesa das liberdades, do pão e da independência nacional.
Exijamos a dissolução da polícia de choque e lutemos contra a GNR nas empresas e nas povoações, contra o pacote laborai e a nova Lei de Delimitação de Sectores. Vamos à luta firme e unida para pôr fim à ofensiva contra as nacionalizadas e acabar com os leilões das cooperativas; para impedir um único despedimento que seja contra o desemprego; para impedir que sejam pagas as indemnizações aos bandidos que sugaram e sugam o suor e o sangue do nosso povo; para impor a baixa de preços nos bens essenciais e das rendas de casa para que