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1384 I SÉRIE-NÚMERO 40

funeral e que por todo o país se realizem manifestações de luto e de protesto.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: Por que razão se levantaram, de facto, tantos e inultrapassáveis obstáculos à presença da UDP no programa «1.» Página» de ontem? Por que tem sido a UDP sistematicamente marginalizada, apesar do seu projecto próprio, inconfundível, indefensável e inaceitável por qualquer outra força política aqui representada?
Por que razão esconder sistematicamente do público, através da cobertura dos jornais - salvo raras e honrosas excepções -, e em especial na RDP e RTP, a opinião de uma força política parlamentar, em relação à qual existe, de facto, uma simpatia popular muito grande nas bases trabalhadoras e populares de quase todos os partidos aqui representados?
Por que razão impedir radical e malcriadamente a UDP de participar no programa «1.ª Página» de ontem, quando foi reconhecida a razoabilidade e legitimidade da nossa pretensão e enquanto nós fazíamos depender em absoluto a manutenção da nossa exigência do acordo dos outros intervenientes? Porquê, tanta polícia? Porquê o tratamento incorrecto de um Deputado da Assembleia da República?
Por que razão os outros 2 Srs. Deputados não se insurgiram perante as câmaras e não denunciaram - como lhes foi sugerido - o desrespeito com que havia sido tratado um dos seus pares? Ontem, na televisão, teria sido bonito!
Porque, Sr. Presidente e Srs. Deputados, é preciso dar do regime a imagem que ele não pode ter e que, efectivamente não tem.
Porque enquanto se tratar apenas de chamar nomes à AD reaccionária ou de atribuir as culpas de tudo à crise internacional - e se calhar, agora também à baixa do preço do petróleo, se preciso for, alegando que ela faz baixar os lucros e a capacidade de investimento das grandes companhias e faz dificultar as ajudas aos países pouco desenvolvidos (eu diria pouco e mal desenvolvidos), quando anteriormente a culpa era toda da alta dos preços do petróleo - porque enquanto se tratar de chamar nomes ao fascismo que já lá vai, deixando construir os alicerces do fascismo que aí vem, e se tratar de defender o regime, atacando embora, com mais ou menos violência, mesmo com toda a violência, alguns dos seus pilares, enquanto se tratar apenas disso tudo está bem.
Por isso, ontem, nadando naquela água cheia de escrementos apodrecidos que são a imagem de marca do novembrismo, os 4 grandes fulgiam que os males do regime têm cura e todos definiram essa cura nas margens do consenso, nas balizas do regime indefectível.
Por entre as «cagalhoadas» do Ministro gestionário Luís Barbosa, a dignidade em recuperação reflexiva do Sr. Capucho e a compreensão magnânima e quase episcopal do ex-ministro, orgulhoso também das suas polícias, Jaime Gama,...

Risos do PSD e do CDS.

...,a determinação situacionista do engenheiro Veiga de Oliveira não destoou. Ei-lo que garante fazer do acordo de traição da Setenave, desse monumento de escravatura moderna, o exemplo a ser seguido, por indicação sua, por todos os trabalhadores, caso seja dado a esse partido, tão empenhado na construção da democracia, o papel há tanto reivindicado de factor estabilizador do regime.
É esta a razão fundamental, Sr. Presidente e Srs. Deputados, porque a UDP não é convidada para os debates televisivos de pessoas e partidos responsáveis, nem são transcritas as suas intervenções nos jornais, quando não são vítimas de gralhas que tudo deformam irresponsavelmente.
É que a UDP, ontem, no programa «1.ª Página» da RTP teria chamado os bois pelos nomes, teria dito aos trabalhadores que se vivessem num regime verdadeiramente democrático o Sr. Ferraz da Costa já estava «dentro», isto é, já teria sido engavetado ou, em linguagem institucional, estaria preso às ordens do tribunal, já que fez a apologia do fascismo no seu discurso.
A UDP teria dito aos trabalhadores que é com gente dessa por detrás, quando não à vista, que são feitos acordos de traição; teria dito que é para tipos desses continuarem à boa vida à custa da miséria dos trabalhadores que os operários da Setenave foram levados à situação desesperada de aceitarem trabalhar por empreitada, sem férias, sem direito à greve, abdicando de regalias mínimas, aceitando receber menos 6% todos os meses, para poderem receber os salários em atraso e salvarem a empresa, como se diz agora, quando afinal o que se quer é pôr os operários com grilhetas ao pescoço e a esguicharem mais-valia que é «um ver se te avias».

O Sr. Armando Oliveira (CDS): - Calma, calma!

O Orador: - À UDP teria dito que aquilo que se passa na Setenave é fazer o que quer o Mello, teria dito que a liquidação da SNAPA, da CPP e da CTM fazem parte do mesmo plano que vai ser levado a cabo no regime de consenso e de repartição da crise a meias.
A UDP teria dito que é essa a opinião de Reagan, do General Eanes e de Mário Soares, no sentido da possibilidade de aprofundar a exploração capitalista e o domínio imperialista, com os trabalhadores aliviados com a desagregação da AD e embeiçados por Eanes e pelas soluções ditas democráticas, soluções democráticas essas que foram garantidas pelo engenheiro Veiga de Oliveira, que ontem, publicamente, perante milhões de telespectadores, apresentou a Setenave como exemplo de comparticipação razoável na gestão da crise e salvação do regime.
A UDP diria aos trabalhadores e aos assalariados rurais que os leilões das cooperativas têm de parar e que a marcha sobre Lisboa, aprovada em plenário de cooperativas, devia ter sido posta em prática.
Enquanto se discute a melhor forma de dissolver o que já devia estar dissolvido, enquanto a AD vai permanecer no governo de gestão, apesar de ter demonstrado sobejamente que cada gesto seu é um atentado às condições de vida de quem trabalha, a ofensiva continua: 600 pessoas despedidas no AGFA; 110, com contrato a prazo, despedidas da Sorefame; 4 000 reformas compulsivas preparam-se na Quimigal; sufoca-se a Messa; o sector de vidro prepara-se para ser abocanhado pela família Magalhães; a CTM é «partida» aos bocados; retiram-se regalias e impõem-se reformas antecipadas.
Os trabalhadores dos estabelecimentos fabris militares continuam a ser tratados abaixo de cão e um elemento revolucionário da comissão de trabalhadores, Bento Correia, vítima de um processo por distribuir comunicados, foi agredido pelo capitão Barbosa Alves.
Sobe a inflação. Aumentam os preços dos artigos de primeira necessidade. As famílias trabalhadoras não têm direito à saúde nem à habitação. As mulheres e os jovens