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29 DE JANEIRO DE 1983 1385

sentem-se encurralados pela ameaça permanente de desemprego. As mães benzem-se para que não calhe aos seus filhos um lugar na força expedicionária que poderá ir para o Líbano garantir a paz, a fim de que as superpotências rapinem à vontade à custa da vida e da liberdade dos povos, - à custa mesmo de acordos que façam a vontade ao Sr. Ferraz da Costa, quando diz que a luta de classes é uma invenção e do que se precisa é de segurança para investir sem o perigo de greves políticas, é de ritmos alucinantes que garantam o aumento de produtividade, é da garantia de despedir à vontade, é de juros baixos para o capital, indemnizações pagas a preceito, etc, etc.
A UDP, Sr. Presidente e Srs. Deputados, diria ontem aos trabalhadores e aos milhões de telespectadores que os acordos políticos, económicos e sociais com os representantes do poder e do regime não lhes servem e de nada valem.
Pagar a crise a meias é uma invenção reformista agarrada por alguns reaccionários enquanto não impõem o fascismo. A crise é sempre paga por quem trabalha e é gozada pelos exploradores.
Foi à luz de fazer a crise a meias, do mal menor, do «vamos ceder para não perder tudo» que foi realizada a ofensiva e liquidação da reforma agrária, a ofensiva contra as empresas nacionalizadas, contra o sector das pescas, da marinha mercante, etc, etc.
Com AD ou sem AD o plano burguês e imperialista é o mesmo.
Vamos aproveitar a melhoria de condições conseguidas com a desagregação da AD, não para ficar à espera mas para impor a vontade de quem trabalha. Vamos unificar as lutas porque elas estão todas ligadas.
Por que razão os transportes não pararam todos no mesmo dia? É uma pergunta que fazem os trabalhadores. Por que razão a CTM e restantes empresas do sector, mais a CPP, não obstruíram o Tejo com os seus barcos a apodrecer de ferrugem, enquanto os ditos armadores ganham milhões em afretamentos antinacionais?
Por que não juntar a luta do sector da construção naval para impedir que o pacote do Mello e indignidades como aquela que foi aquele acordo na Setenave vão por diante?

O Sr. Santana Lopes (PSD): - Pacote do Mello?

O Orador: - A burguesia nunca respeitou os seus compromissos. Os trabalhadores não devem sentir-se amarrados a compromissos de vergonha e de traição. Não há sequer a garantia de que a Setenave não seja vendida, de que não haja despedimentos, etc.
A situação exige unidade de todos os trabalhadores por cima de todos aqueles que não respeitem os seus interesses mais sagrados. Ora, os interesses dos trabalhadores vão para além da luta reivindicativa imediata. Esta tem de servir o desmantelamento deste regime reaccionário.
As reformas impõem-se à burguesia pela luta revolucionária, não serão nunca fruto de contratos bem apalavrados com os tubarões.

O Sr. Santana Lopes (PSD): - Olha a gravata!

O Orador: - Estes comem tudo o que dão a não ser que se lhes partam os dentes.

O Sr. Silva Marques (PSD): - Isso é plágio, isso é plágio!

O Orador: - Nesta situação de crise, os operários não devem estar a assistir sem impor a sua vontade, numa luta firme, unitária e geral, não deixando os seus inimigos recomporem-se. Isso é inadmissível. É por isso que são assassinados, impunemente, operários pelas forças do regime. As palavras doces já não podem enganar ninguém.
Para a vitória das eleições antecipadas ser uma realidade e para servir desta vez, de facto, os trabalhadores, tem de ser antecedida de luta firme, na perspectiva da greve geral.
Vamos impor que não haja ninguém da AD no governo de gestão. Vamos exigir o cancelamento dos aumentos e o congelamento dos preços dos bens necessários à vida das famílias trabalhadoras. Vamos exigir a anulação dos leilões das cooperativas e o fim das medidas de destruição das empresas nacionalizadas, nomeadamente da CTM.
Exijamos o cancelamento das negociações com os americanos para a base das Lages e opunhamo-nos ao envio de soldados para o Líbano.

O Sr. Santana Lopes (PSD): - Então não fala mais nos tubarões? Faltam os tubarões!

O Orador: - Só os operários e demais trabalhadores poderão garantir a democracia no nosso país, lutando para se libertarem da droga dos democratas liberais e reformistas.
Como diria Brecht: «Safámo-nos dos tubarões. Matámos os tigres...»

O Sr. Santana Lopes (PSD): - Eu não disse? Faltavam os tubarões. Eu não disse?

O Orador: - Não nos deixemos comer pelos percevejos!!

O Sr. Presidente: - Tem a palavra, para uma declaração política, o Sr. Deputado Carlos Lage.

O Sr. Carlos Lage (PS): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Quase me custa ler a minha declaração política depois de um período de antes da ordem do dia tão confuso, tão atribiliário e tão desviado das funções que, quanto a mim, deve ter o período de antes da ordem do dia, que é o levantamento de problemas concretos de índole sectorial, regional e local.
Mas, como tinha preparado uma intervenção sobre um problema que muito interessa à cidade do Porto, não vou deixar de a fazer, não obstante ela aparecer agora com um carácter algo bizarro.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: É hoje um lugar comum afirmar-se que o Porto é uma cidade suja. Esta afirmação, que entra em vivo contraste com a imagem de Lisboa, «cidade limpa», é, infelizmente, verdadeira.
De facto, o Porto transformou-se numa cidade incrivelmente suja. O lixo converteu-se num dos seus maiores flagelos e num dos seus maiores e mais difíceis problemas. Problema que é, simultaneamente, de ordem estética, de higiene e asseio e também de dignidade.
A cidade do Porto está permanentemente marcada pelo lixo, conspurcada e feia.
Detritos de toda a espécie, restos de comida, papéis,