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31 DE OUTUBRO DE 1984 251

continuo a considerar perfeitamente demagógico (desculpe-me o termo), perfeitamente manipulador da própria opinião pública, qualquer comparação entre a situação que se vive actualmente e a que se vivia antes do 25 de Abril.

A Sr.ª Deputada disse - e isso é seguramente certo - que o PCP teve, em média, 3 minutos por mês no Telejornal. Penso que é muito pouco, sobretudo em comparação com o tempo que é dado ao governo, que até já faz tempos de antena escamoteados - tivemos o prazer ou o desprazer de assistir noutro dia a uma curiosa intervenção do Sr. Ministro do Equipamento Social sobre a arquitectura da Taipa! Mas, Sr.ª Deputada, o Partido Comunista, por muito pouco que tenha tido, ainda tem 3 minutos na televisão; o Partido Comunista, antes do 25 de Abril, tinha muitos minutos nos parlatórios de Caxias, do Aljube e de Peniche! Por isso, Sr.ª Deputada, a situação não é a mesma.

O Sr. Presidente: - Para protestar, tem a palavra a Sr.ª Deputada Zita Seabra.

A Sr.ª Zita Seabra (PCP): - Sr. Deputado Lopes Cardoso, queria fazer duas brevíssimas correcções.
Em primeiro lugar, não insinuei nada - é injusto da sua parte dizer isso -, apenas assinalei que o Sr. Deputado tinha esquecido os gráficos.
Não sei se há dias o Sr. Deputado esteve ou não no eléctrico que circulou por Lisboa e para o qual foram convidados vários deputados, que participaram com muito gosto. Ora, nesse eléctrico, ao lado dos jornalistas estavam os gráficos.
É muito frequente este lapso: fala-se dos jornalistas, até porque estão mais em contacto connosco, e esquecem-se os outros, que constituem um sector fundamental, sem o qual não haveria comunicação social - o sector gráfico.
Em segundo lugar, o que eu disse relativamente à comparação com o 25 de Abril foi o seguinte: aquilo que havia antes - e que todos conhecemos - não nos deve fazer escamotear ou servir para atirar poeira para os olhos sobre aquilo que se passa hoje. O que fiz foi, exactamente, pôr de lado qualquer comparação com o antigamente e acentuar a gravidade do que se passa hoje, vivendo nós em democracia.
Foi este o sentido exacto das minhas palavras e não o de comparar e dizer que hoje estamos pior ou melhor do que antigamente - sobre isso, disse que tinha o meu juízo de valor. Mas, apesar de as situações não serem comparáveis, isso não nos pode fazer esquecer a gravidade do que se passa hoje num órgão de comunicação social tão importante como é a Televisão. E se o Sr. Deputado vê o Telejornal diariamente ou, pelo menos, de vez em quando, certamente não ignora a gravidade do que se passa e a total falta de isenção com que ele é feito.

Vozes do PCP: - Muito bem!

O Sr. Presidente: - Para contraprotestar, se pretender, tem a palavra o Sr. Deputado Lopes Cardoso.

O Sr. Lopes Cardoso (UEDS): - Agradeço à Sr.ª Deputada ter-me esclarecido que não pretendia fazer insinuação nenhuma. Ainda bem. Fica encerrado o incidente.
Quanto à comparação com o antes do 25 de Abril, devo dizer que na minha intervenção não fiz qualquer comparação nem recorro ao período de antes do 25 de Abril para, porventura, escamotear a situação actual, se é que escamoteei alguma coisa. Não evoquei o antes do 25 de Abril, pois não sinto qualquer necessidade do passado para apreciar o presente. Não fui eu quem trouxe esse período para a discussão!

O Sr. Carlos Brito (PCP): - De acordo!

O Orador: - Foi, sim, o Sr. Deputado João Corregedor da Fonseca. E a Sr.ª Deputada, em seguida, voltou a retomar o tema, então totalmente a despropósito, na medida em que não houve nas minhas palavras qualquer referência nesse sentido, nem era minha intenção evocá-lo para discutir a situação presente.

A Sr.ª Zita Seabra (PCP): - Mas o Sr. Deputado falou nisso quando estava a responder.

O Orador: - Bom, mas a minha resposta ao Sr. Deputado João Corregedor da Fonseca constituía uma questão entre mim e aquele Sr. Deputado! Só não o era se a Sr.ª Deputada considerasse que, para analisar a situação actual, havia, de alguma forma - e nesse caso concreto -, que estabelecer comparações com o regime de antes do 25 de Abril. E se há necessidade de estabelecer comparações, desculpe-me, Sr.ª Deputada, mas continuo na minha: por muito degradada e muito grave que seja a actual situação, da comparação continua a resultar um saldo positivo para a situação actual.
Entretanto, assumiu a presidência o Sr. Vice-Presidente Basílio Horta.

O Sr. Presidente: - O Sr. Deputado Carlos Lage pediu a palavra para que efeito?

O Sr. Carlos Lage (PS): - Para um pedido de esclarecimento, Sr. Presidente. Mas se V. Ex.ª não se importasse, cedia a palavra ao Sr. Deputado Jorge Lacão para o mesmo efeito.

O Sr. Presidente: - Com certeza. Sr. Deputado.
Tem então a palavra o Sr. Deputado Jorge Lacão para formular um pedido de esclarecimento.

O Sr. Jorge Lacão (PS): - Sr. Deputado Lopes Cardoso, considero que foi extremamente oportuna a intervenção de V. Ex.ª, ao pôr em relevo o facto de os jornalistas - do nosso ponto de vista, com total justiça - estarem a lutar pela dignificação das suas condições salariais e de trabalho. Extremamente oportuna, na medida em que, se nós deputados entendemos - e entendemos bem - que é adequado, do ponto de vista da defesa da própria dignidade das instituições democráticas, preocuparmo-nos com o nosso estatuto de representantes do povo, não podemos também, e por maioria de razão, desconhecer que uma classe tão sujeita a pressões de vária ordem, de natureza política ou de outra natureza equiparável, tem vindo aceleradamente a ver degradadas as suas con-