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31 DE OUTUBRO DE 1984 265

por outro, o respeito que sempre temos - e sempre teremos - pelos homens que, durante toda a sua vida, lutam pelas suas ideias, embora neste caso, como é óbvio, essas ideias não sejam as nossas ideias, embora esses ideais não sejam os nossos ideais.

Aplausos do CDS.

O Sr. Presidente: - Para uma declaração de voto, tem a palavra o Sr. Deputado Rúben Raposo.

O Sr. Rúben Raposo (ASDI): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Quando uma das universidades portuguesas declara reitor vitalício um dos seus professores de maior nomeada científica, quando esse professor foi também exemplo de cidadão e de democrata, que pagou, com a prisão e com o exílio, a audácia e coerência de pensar e agir em prol da liberdade e da justiça social, distinguindo-se muito justamente com o galardão da Ordem da Liberdade, é justo que também nos inclinemos como cidadãos e como democratas, e o homenageemos no momento em que acaba de deixar o mundo dos vivos.
Juntamos, pois, o nosso voto de pesar e de homenagem ao de toda a Câmara pelo falecimento do Sr. Prof. Rui Luís Gomes.

Aplausos do PS, do PSD e do CDS.

O Sr. Presidente: - Para uma interpelação à Mesa, tem a palavra o Sr. Deputado José Luís Nunes.

O Sr. José Luís Nunes (PS): - Sr. Presidente, não foi dito nem foi proposto, mas penso que estaria no sentido da Câmara, recolhermo-nos num minuto de silêncio perante a memória daquele que foi o Prof. Rui Luís Gomes.

O Sr. Presidente: - Sr. Deputado José Luís Nunes, a sugestão que acaba de dar é acolhida com interesse pela Mesa e vamos proceder a esse minuto de silêncio.
A Assembleia guardou, de pé, um minuto de silêncio.

O Sr. Presidente: - Srs, Deputados, segue-se agora a discussão e votação de um voto de pesar apresentado pelo CDS a propósito do assassínio do padre Jerzy Popielusko e um outro voto do MDP/CDE sobre o mesmo assunto. O voto do CDS já foi lido, já é conhecido da Câmara. Vai, portanto, proceder-se à leitura do voto apresentado pelo MDP/CDE.

Foi lido. É o seguinte:

Voto de pesar

«Embora admitindo não estarem suficientemente clarificadas as condições em que teria desaparecido o padre Jerzy Popielusko, o MDP/CDE vem apresentar a propósito deste acontecimento um voto de pesar e de condenação de todas as formas de terrorismo.»

O Sr. Presidente: - Srs. Deputados, está aberta a discussão.

Pausa.

Tem a palavra o Sr. Deputado Nogueira de Brito.

O Sr. Nogueira de Brito (CDS): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Em relação à notícia, que podemos considerar unânime, se é confirmada pelo próprio Governo Polaco, do assassínio do padre Jerzy Popielusko, o CDS propõe a esta Câmara um voto de pesar.
Respeitando o padre Popielusko os valores e a doutrina da Igreja em que se integrava como sacerdote, foi, no entanto, como defensor ímpar dos valores do homem, do humanismo e da sociedade face à tirania do Estado que ele se evidenciou e tornou conhecido na Polónia e no mundo.
Integrou-se numa luta que já vai longa e que é a de todo o povo polaco, em defesa da sua dignidade, da sua liberdade e da liberdade de cada homem polaco face ao Estado opressor.
A morte do padre Popielusko vem tornar evidente, e infelizmente, que as notícias de normalização respeitantes à Polónia não correspondem infelizmente à verdade.
O padre Popielusko, que a CIA propagandeava, deu a sua vida pela verdade. Que os ideais do padre Popielusko, que o animaram e o fizerem viver, sobrevivam e obtenham vitória na Polónia e no mundo, é o voto que o CDS associa à sua proposta, proposta que espero ver acolhida por esta Câmara.

Aplausos do CDS, do PS e do PSD.

O Sr. Presidente: - Para apresentar o voto do MDP/CDE, tem a palavra o Sr. Deputado Raul de Castro.

O Sr. Raul de Castro (MDP/CDE): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Precisamente porque o voto apresentado pelo CDS não merece a nossa concordância, pelas razões que passarei a expor, é que o MDP/CDE apresentou outro voto de pesar.
Na realidade, o MDP/CDE, como várias vezes tem afirmado, condena frontalmente o terrorismo e portanto a morte violenta de qualquer cidadão, e neste caso a do padre polaco é um acto que merece a nossa condenação. Simplesmente, há no voto do CDS afirmações que não são verdadeiras, nomeadamente em relação à responsabilização dos dirigentes polacos, quando ainda hoje se afirmou em público a frontal condenação deste assassínio por parte do Governo da Polónia.
Assim, num dos jornais hoje publicados, pode ler--se que o Governo Polaco emitiu um comunicado em que reprova e condena energicamente o crime. O texto pede o castigo severo dos autores directos e indirectos deste grave delito, que atenta contra o processo de estabilização interna, contra as relações Estado-Igreja e a autoridade internacional da Polónia.
O voto do CDS é a conclusão de pressupostos de ordem ideológica que limitam a dimensão humana do acontecimento sobre o qual incide.
Por isso, Sr. Presidente e Srs. Deputados, não poderemos aprovar o voto de pesar do CDS e por isso, repito, apresentámos um outro voto, condenando a morte deste padre polaco e condenando o terrorismo.