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266 I SÉRIE - NÚMERO 8

O Sr. Presidente: - Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado José Luís Nunes.

O Sr. José Luís Nunes (PS): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Recomeça o que se passou num período da história desta Assembleia, isto é, em que pela inflação de votos muitas vezes a nossa manifestação de vontade, neste aspecto, deixou de ter aquele significado e aquela solenidade que se impunham. É minha convicção que, depois de uma cura de moderação, a Assembleia tem sabido usar de forma equilibrada e isenta este seu direito à apresentação de votos.
Vamos aprovar o voto de pesar apresentado pelo CDS e vamos fazê-lo porque o que se vota aqui, nesta Assembleia, é o voto e não os considerandos, muito embora nestes não vejamos nada que nos impeça de aprovar o voto apresentado pelo CDS.
O assassínio do padre Popielusko é um caso semelhante ao assassínio do general Humberto Delgado e as justificações que as autoridades polacas encontraram para este assassínio são semelhantes àquelas que em dada altura a PIDE encontrou para o assassínio do general Humberto Delgado.

Aplausos do PS, do PSD, do CDS e da ASDI.

Dito isto, direi ainda que vamos também aprovar o voto do MDP/CDE. E vamos também aprová-lo depois do esclarecimento que agora prestou o Sr. Deputado Raul de Castro. É porque sem esse esclarecimento poder-se-ia pensar que, a propósito do assassínio do padre Popielusko, se apresentava um voto de pesar e de condenação de todas as formas de terrorismo. O que o Sr. Deputado Raul de Castro agora acabou de explicar é o contrário: é que condena a morte do padre Popielusko e todas as formas de terrorismo. Nesse sentido, vamos votar também o voto do MDP/CDE.
Gostaria de fazer duas reflexões finais: não é a primeira vez que um sacerdote é assassinado no exercício do seu culto. Recentemente foi assassinado no Chile o padre Jarran, padre francês, que se encontrava dentro de sua casa a ler um breviário.
Sobre esse facto não podem restar dúvidas: foi o alto episcopado chileno e um dos bispos adjuntos - creio que o de Paris - que na missa em que se honrava a memória do padre Jarran desenvolveu esse tema.
Foi assassinado também, como se recordam, em El Salvador, monsenhor Romero, e infelizmente têm sido assassinados nos mais diversos lugares do Mundo diversos sacerdotes.
Falo em diversos sacerdotes para sublinhar que o sectarismo, o terrorismo, a maldade e a estupidez humana nada, absolutamente nada, respeitam.
Neste sentido, vamos portanto aprovar os dois votos que aqui foram apresentados, sendo certo que esperamos duas coisas: esperamos que os assassinos do padre Jerzy Popielusko sejam punidos. O ministro do Interior polaco declarou que eles poderiam, inclusive, ser condenados à morte. É nossa convicção de que se isso acontecesse pelo menos uma voz, que infelizmente não o pode fazer, pediria que tal não acontecesse - seria a do próprio padre Jerzy Popielusko.
Estes factos e estes crimes são próprios e ocorrem em conjunturas em que as instituições não funcionam e em que os princípios de liberdade não existem...

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - São crimes próprios das ditaduras, gerados pelas ditaduras e que, como tal, podem estar para além da vontade dos ditadores; são tão repugnantes como aqueles de que foram vítimas Humberto Delgado e o deputado socialista Mateotti.
Neste sentido, vamos votar a favor dos 2 votos sem mais considerações.

Aplausos do PS, do PSD, do CDS e da ASDI.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado João Amaral.

O Sr. João Amaral (PCP): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Na ocasião do voto em discussão, o Grupo Parlamentar do PCP quer manifestar (de forma clara, incisiva e inequívoca) a sua condenação frontal, a sua repulsa, a sua indignação e o seu pesar em face do assassínio do padre Jerzy Popielusko.
Trata-se de um crime brutal que configura uma monstruosa provocação contra o Estado Polaco.
Morreu um homem. Para quê?
O resultado é o reacender da campanha contra a República Popular da Polónia, contra a Polónia socialista.

comentário a fazer a isto é assim evidente: reacender e animar com base e por causa do crime a campanha anti-Polónia é confessar que o crime compensa.

Vozes do PCP: - Muito bem!

O Orador: - Há, em primeiro lugar, que condenar firmemente o crime. Há, em segundo lugar, que condenar a provocação.
Acompanhamos sinceramente todos os que manifestam o seu pesar pelo assassínio do padre Popielusko. Mas separamo-nos claramente dos que instrumentalizam e manipulam o crime para alimentar a campanha contra o Estado Polaco.
Manipulação é o que foi feito pelo CDS, com o presente voto. Sem inocência. Porque o CDS - o mesmo CDS deste voto - esquece crimes inqualificáveis noticiados todos os dias e muito recentemente na imprensa. O CDS esqueceu a morte por enforcamento do preso político Aslan, assassinado pela ditadura militar turca e noticiado em Portugal no passado dia 26, sexta-feira. O CDS esqueceu os mortos e feridos vítimas do regime fascista da África do Sul e noticiados nos jornais ainda no passado dia 24 de Outubro. O CDS não se preocupou com o massacre de Joanesburgo, nem com as experiências dos Estados Unidos com armas químicas no Amazonas (em relação às quais existem acusações de mais de 7000 mortos).
Quer o CDS, com o seu voto, manifestar decisivamente o seu pesar? Não, o CDS não quer isso. Quer acima de tudo alimentar a provocação.
Com o nosso voto, rejeitamos a provocação e manifestamos o nosso profundo pesar pelo crime de que foi vítima o padre Popielusko.

Aplausos do PCP e do MDP/CDE.