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22 DE FEVEREIRO DE 1985

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dades - mãos e pés -, à cegueira, às paralisias, etc., extraordinariamente deformantes e incapacitantes.
A lepra ataca primordialmente as pessoas que vivem em promiscuidade e portanto em precárias condições de higiene.
Actualmente e apesar dos indiscutíveis e eficazes progressos terapêuticos, a nível mundial ainda há cerca de 2 milhões de leprosos conhecidos, estimando-se no entanto que este número deverá rondar os 12 milhões se entrarmos em linha de conta com todos aqueles indivíduos que muito provavelmente se encontram infectados.
Após esta brevíssima introdução vejamos em que estado se encontra o assunto no nosso país e quais têm sido as acções empreendidas ao longo dos últimos cerca de 40 anos no combate à doença.
Para já podemos afirmar que a doença de Hansen se encontra neste momento perfeitamente controlada. Segundo os dados que me acabam de ser fornecidos muito amavelmente pelo director do Hospital-Colónia de Rovisco Pais, Dr. Américo Barbosa, que tem a supervisão da doença a nível nacional, existem neste momento à volta de 130 doentes internados de ambos os sexos, perfeitos asilados muitos dos quais sem terem para onde ir (em 1959 atingiu-se o máximo de internamentos com cerca de 900 doentes) havendo 2500 em tratamento ambulatório, isto é, são doentes que se encontram numa fase da sua doença que não constitui perigo de contágio para o seu semelhante e que se deslocam periodicamente ao Hospital-Colónia de Rovisco Pais para simples controle.
Esta situação indubitavelmente bastante animadora conseguiu-se à mercê da consciencialização das autoridades de então e graças à acção do Prof. Doutor Bissaya Barreto que levou o governo da época a utilizar o legado deixado ao Estado pelo benemérito Rovisco Pais. Para o efeito adquiriu-se a Quinta da Fonte Quente situada na região da Tocha, concelho de Cantanhede, aproximadamente a duas dezenas de quilómetros da Figueira da Foz, junto à estrada que liga esta cidade à de Aveiro.
Ocupando uma área aproximadamente de 140 ha, em 1940 deu-se início às obras, as quais duraram 7 anos, sendo feita a inauguração do Hospital-Colónia de Rovisco Pais em Setembro de 1947.
Este conjunto compõe-se de 14 edifícios incluindo 6 núcleos familiares destinados ao tratamento e internamento dos doentes, bem como os diversos edifícios de apoio como sejam a cozinha, a lavandaria e rouparia, os serviços administrativos, etc.
Mais tarde, em 1955, foram construídos mais 2 pavilhões com 100 camas cada um.
Graças à conjugação destes meios materiais postos à disposição juntamente com os recursos terapêuticos que então foram surgindo foi possível desencadear uma luta sem tréguas à doença que conduziu a um constante e progressivo declínio no número de casos, motivo pelo qual se encontram neste momento devolutas numerosas instalações. Mais exactamente de todo o complexo existente somente se encontram a ser utilizados o Hospital e o Pavilhão de Santa Luísa com doentes internados e um dos seis núcleos familiares constituído por 16 casas das quais muitas delas se encontram vagas. Nos edifícios igualmente pertença do Hospital mas situados fora da respectiva cerca como são o infantário e o preventório funcionam neste momento a Escola Preparatória da Tocha. Do mesmo modo nos

terrenos da chamada «Tapada» funciona uma secção do Laboratório Nacional de Investigação Veterinária, onde se estão a fazer pesquisas relacionadas com a peripneumonia dos bovinos. Contudo estes aproveitamentos constituem uma parcela diminuta em relação ao todo que, esse sim, continua à espera de uma total e condigna utilização.
É esta a situação de subaproveitamento em que felizmente se encontram as magníficas instalações do Hospital-Colónia de Rovisco Pais, isto falando em termos de relação face aos resultados obtidos no combate à doença de Hansen. O mesmo se não poderá dizer de maneira nenhuma quando se vê o subaproveitamento inserido no contexto do todo nacional, tão carecido como é do conhecimento geral em infra-estruturas de natureza hospitalar. Será porventura justo e razoável que havendo como há carências neste ramo, consentir-se a continuação e a consequente e progressiva deterioração por falta de utilização, de um complexo como o do Hospital-Colónia de Rovisco Pais, com uma área total de 140 ha, quando, por exemplo, todos nós temos disso consciência bem viva, a nossa mocidade, mercê de condicionalismos sociais vários que não vem para aqui discutir agora, enveredou pelo consumo desregrado da droga, não havendo a nível nacional nada que possa minimamente assemelhar-se àquilo que este Hospital poderia ser, se fosse reconvertido num centro de desintoxicação e recuperação de toxicómanos? É uma hipótese de utilização que, a meu ver, seria de levar por diante.
O combate à droga e seus malefícios não se pode limitar de maneira nenhuma à apreensão e prisão de meia dúzia de traficantes o que sem dúvida tem também a sua importância no contexto total do problema. Há que ir, no entanto, muito mais longe sob pena de se não conseguirem obter os resultados que todos ambicionamos. É de primordial importância providenciar para que todo o tóxico-dependente seja desintoxicado e posteriormente reeducado e reintegrado na sociedade como elemento válido e confiante. Por outro lado, na retaguarda desta linha ofensiva, se me é permitida esta expressão de tipo militar, há que implementar o que para mim, como médico, constitui a parte mais importante e de maior rentabilidade em termos de qualquer combate a uma determinada afecção - refiro-me, como é óbvio, à sua profilaxia.
Para tudo isto é necessário que possuamos meios técnicos, humanos e materiais, para tal parecendo-me que o aproveitamento das instalações do Hospital-Colónia de Rovisco Pais agora felizmente em grande parte devolutas e já não necessárias ao fim a que foram inicialmente destinadas, seria uma solução cheia de potencialidades. Instalações não faltavam bem como espaço para as ampliações que se forem mostrando úteis sobretudo no campo da ocupação de tempos, sempre de considerar nesta espécie de tratamentos.
A concretização desta minha sugestão viria colmatar uma lacuna gritante no nosso país, visto que tudo o que existe é disperso e não tem capacidade de resposta atempada e adequada em relação à magnitude de que o problema se vem progressivamente revestindo.
Vou terminar da mesma maneira como comecei, isto é, por um lado lembrando uma vez mais o caso da paramiloidose, um problema já equacionado mas à espera da boa vontade e decisão governamentais para que se faça um ataque sério à doença, por outro e contrastando flagrantemente, o caso da doença de Hansen,