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42 I SÉRIE - NÚMERO 3

Todos nós pudemos testemunhar a lucidez e o ardor com que se empenhava em reforçar os laços de amizade e cooperação com as forças e as instituições democráticas do nosso país e .com o nosso povo.
Anticolonialista implacável, Samora Machel soube sempre mostrar o seu apreço e respeito pelos valores da cultura portuguesa - Camões era para ele um traço de união entre as duas pátrias. Não hesitou nunca em mostrar a importância da língua portuguesa como instrumento de aproximação das diferentes etnias de Moçambique.
Apesar dos dissabores decorrentes dos comportamentos de sucessivos governos, confiava na solidariedade dos Portugueses.
Dirigindo-se aos deputados desta Assembleia, na sua visita de 1983, declarou-nos que contava com o povo português para a reconstrução nacional da sua pátria.
Ocorre-me perguntar agora o que fez a Assembleia da República para corresponder a este apelo.
Os inimigos de Moçambique, os que levam a morte, a violência e a destruição à jovem pátria de Samora Machel, movimentam-se no nosso país com pleno à-vontade, aqui preparam golpes, ligações internacionais e campanhas publicitárias.
Machel nunca perdoou nem nunca compreendeu a duplicidade que se traduz nas grandes proclamações de solidariedade feitas pelas entidades governamentais e nas facilidades que são consentidas aos que querem destruir o Estado Moçambicano. Por isso mesmo ele exprimiu a esperança, quando aqui esteve, de que «a fraternidade que estamos a encontrar em cada gesto e em cada palavra se não esgote nos gestos e nas palavras, antes se materialize em acções comuns [...]» - citei.
É também este o voto mais significativo e mais sentido que entendemos fazer ao prestar homenagem à memória do herói e Presidente do povo moçambicano, Samora Moisés Machel.

Aplausos do PCP, do PS, do PRD, do MDP/CDE, da deputada independente Maria Santos e de alguns deputados do PSD e do CDS.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado José Gama.

O Sr. José Gama (CDS): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: A morte de um homem, aliado, neste caso, à qualidade de Presidente de um país amigo, não pode esperar o silêncio da nossa indiferença. E não o pode esperar porque sabemos colocar, acima de meros acidentes históricos ou ideológicos, aqueles valores que têm a ver com o homem, portador de valores eternos, sob pena de ser vã a nossa qualidade de democratas-cristãos.
O desaparecimento trágico do Presidente Samora Machel conta, desde logo, com o nosso pesar sentido e com o desejo expresso de que Moçambique saiba encontrar os caminhos, nem sempre fáceis, que levam aos tempos da paz. Seria tarefa inútil, ir contra a história, que nos fala de séculos vividos juntos e é traduzida nesta língua, que não precisa de intérpretes por ser cultivada em comum.
Samora Machel era o líder de um país de expressão oficial portuguesa. Com ele estivemos várias vezes em desacordo. Sempre o fizemos de voz alta, na certeza de interpretarmos milhares de mágoas de muitos para quem Moçambique deixou de ser a sua terra de vida e de trabalho. Sempre o fizemos de forma firme, distinguindo a nossa matriz democrata-cristã da traça marxista que perfilhara, e sempre o fizemos face ao sinal vermelho de certas violações dos direitos do homem, conforme repetidas vezes o relatório da Amnistia Internacional avisara. E recordamo-lo, agora e aqui, com a mesma verdade com que afirmamos que o espírito de Incomáti foi o fermento corajoso da paz perdida, porque sempre defendemos a força do diálogo das palavras por oposição ao barulho violento das espingardas. Como sempre vimos com bons olhos a sua aproximação com Portugal, pois a nossa consaguinidade histórica e linguística não consente que dois povos amigos vivam de costas voltadas nesta era em que todos os esforços são bem vindos para que a paz aconteça, finalmente, nesta África austral conturbada.
Neste vai-e-vem de encontros e desencontros, sempre claros, não camuflados, não deixamos de admirar a espontaneidade contagiante do líder desaparecido. Neste tempo de palavras diplomaticamente filtradas, sóbrias, expremidas, Samora Machel não permitia que a palavra calculada, com pré-aviso, ocupasse o espaço aberto da naturalidade, da espontaneidade, convertendo-se, com o seu particular modo de estar e de dizer, num líder africano inconfundível.
Julgamos estarem enganados aqueles que liam ligeireza nesta forma de ser presidente com os outros, pois Samora Machel desdramatizava assim ambientes, aliviava o peso das solenidades emprestando-lhes um rosto humano feito de calor e de - porque não dizê-lo - autenticidade. Se é legítimo afirmar que os povos se lêem, de alguma forma, na linguagem dos seus líderes, o povo moçambicano que o presidente Samora Machel nos trazia não era um povo sombrio; era um povo vivo, simpático, alegre e contagiante.
O autor destas palavras foi oficial de um exército que combateu a FRELIMO no cumprimento de um dever conscientemente assumido. A mira das nossas armas olhou campos opostos. Mas alguém escreveu que os «homens amam espontaneamente a coragem e não desdenham da justiça». Esta obriga-me a dizer que ele foi um lutador corajoso, que acreditava na verdade por que lutava, que amava os Portugueses, pese a mágoa de muitos espoliados a quem não foi feita ainda reparação. Que o tempo que vem seja um tempo do reforçar da justiça, do apego maior à luta pela aproximação dos dois povos, do sinal verde da paz e do progresso, de armistício, para que a unidade real moçambicana aconteça, são os votos do CDS.

Aplausos do CDS, do PSD e de alguns deputados do PRD.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Marques Júnior.

O Sr. Marques Júnior (PRD): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Personalidade viva, que marcava sobremaneira todos aqueles com quem contactava - é esta uma das formas possíveis de caracterizar o Presidente Samora Machel, cuja morte deixa um vazio na cena política internacional, nomeadamente entre a África de língua oficial portuguesa.
Foi um lutador pela independência do seu povo, decisivamente empenhado na resolução dos problemas do continente africano.
Samora Machel tornou-se reconhecido pelo cunho muito próprio que imprimia às suas intervenções e pelo modo como emocionadamente revelava a sua preocupa-