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20 DE NOVEMBRO DE 1986 449

Primeira: quando é que V. Ex.ª vem analisar nesta Assembleia as Grandes Opções do Plano? Não foi hoje!

Vozes do PSD: - Muito bem!

Segunda: quando é que V. Ex.ª vem apresentar a esta Câmara a alternativa de outras Opções que não sejam aquela que o Governo apresenta?

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - Terceira: quando é que V. Ex. º resolve abandonar esse seu estilo de que eu pessoalmente gosto muito, mas que não considero próprio desta Casa?

Uma voz do PS: - Que mau gosto!

O Orador: - V. Ex. a já se lembrou - e perdoe-me dizer-lho, mas faço-o pela amizade que tenho por si, como muito bem sabe - que esta Casa é para tratar
de assuntos sérios e que não é com tiradas mais ou menos literárias e hilariantes, ao fim e ao cabo burlescas, que se resolvem esses assuntos?

Aplausos do PSD.

O Sr. Presidente: - Também para formular pedidos de esclarecimento, tem a palavra o Sr. Deputado Duarte Lima.

O Sr. Duarte Lima (PSD): - Sr. Deputado Almeida Santos, a sua intervenção sugere-me apenas duas observações, ambas curtas. A primeira, é para o felicitar e cumprimentar sinceramente, porque V. Ex. 1 introduziu uma alteração qualitativa no curso normal das intervenções que o seu partido estava a produzir nesta Câmara a propósito do Orçamento do Estado. É que, até aqui, tínhamos assistido a um desfile mais ou menos apagado de «Ministros-sombra» e V. Ex.ª surge-nos, agora, como a sombra de um ex-Ministro que é, sem dúvida, a
encarnação pessoal da permanência no poder.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - A segunda, Sr. Deputado Almeida Santos, é para lhe dizer que, finalmente, descobrimos hoje a dívida de gratidão que o Sr. Deputado tem para
com este Governo. É que este Governo, na sua pessoa, permitiu que o País ganhasse um excelente e talentoso animador e que perdesse ou, pelo menos, que não tivesse um mau candidato a Primeiro-Ministro.

Vozes do PSD: - Muito bem!

Vozes do PS: - Muito mal! Fracote!

O Sr. Presidente: - Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado Almeida Santos.

O Sr. Almeida Santos (PS): - Tenho que agradecer aos Srs. Deputados a oportunidade que me dão de dizer mais alguma coisa, porque reconheço que ficou muito por dizer.
O Sr. Deputado Montalvão Machado, de quem sou muito amigo - isso não está em causa -, apesar de discordar-mos muitas vezes, perguntou que homem de
Estado seria eu, se não tivesse perdido as eleições. Digo-lhe que seria o homem de Estado que fui até hoje, na medida em que o consegui. Digo-lhe, também, que não faria, com certeza, Opções como estas, tão ridículas, tão balofas, tão ocas.

Aplausos do PS.

O Sr. Ministro do Plano e da Administração do Território, utilizando um estilo muito parecido com o usado no texto das Grandes Opções do Plano, terminou o seu primeiro discurso dizendo que assume o sonho. Eu também assumo o sonho. Mas, no seu segundo discurso, fez bem em tê-lo abandonado porque não era um sonho, era um pesadelo.
O Sr. Deputado Montalvão Machado disse, depois, que falei no tom a que já habituei esta Assembleia. É o meu tom, de facto. Não é fácil que mude. Será mais provável que, se não gostar de mim, o País deixe de me eleger quando voltar a candidatar-me às eleições legislativas, se for caso disso. Mas acredite que tenho muita honra em tentar imitar os melhores parlamentares que passaram por esta Sala, ...

Fozes do PSUD: - Isso é fatal!

O Orador: - ... muitos dos quais usaram um estilo parecido com o meu. Proeuro copiá-los, na medida do possível. Não o consigo, mas acho que o debate parlamentar não só comporta a ironia como se valoriza com ela. Felizmente, verifico que muitas vezes as minhas intervenções despertam nos Srs. Deputados, que apoiam o Governo por mim criticado, reacções que porventura não existiriam se, em vez de usar este estilo, que sei que dói, que não é agradável - eu próprio tenho sido muitas vezes a sua vítima, mas aguento: que hei-de fazer? -, usasse um estilo cordato, amaneirado, para que o Governo saísse daqui sem nenhuma espécie de ferida.
Não! O papel da oposições é o de ferir o Governo nas suas mazelas e, até, se este já tem feridas, é o de pôr nelas o bisturi e mexer e remexer na ferida.

Risos do PS.

O Sr. Deputado afirma que eu disse do Governo 0 pior que pode dizer-se e que o fiz em termos inadmissíveis. Isso é que não entendo, Sr. Deputado Montalvão Machado. O que é que fiz, basicamente, desta vez? Li, em voz alta, o que o Governo escreveu.

Aplausos do PS e de alguns deputados do PCP.

É claro que reconheço que o Governo escreveu coisas tão lamentáveis, que lê-las em voz alta é uma crítica mordacíssima. Reconheço isso, mas não sou culpado de o Governo ter escrito o que escreveu e de me ter dado a possibilidade de ler aquilo que foi escrito. E penso que se, na verdade, o Sr. Deputado está de acordo, quer com o que pensa o Governo, sobretudo em matéria de Opções, que foi o que pus em causa, quer com a maneira como as exprime, dar-lhe-ia uma sugestão. Porque é que não vamos reduzir a livro estas Opções - sobretudo na parte em que as critiquei, em que extraí aquelas frases de que não gostou - e não vamos distribuí-lo pelas escolas primárias, por exemplo? Sabe que nos poupava muito tempo nas próximas campanhas eleitorais?

Risos do PS.