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7 DE JANEIRO DE 1987

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Declarações de voto enviadas à Mesa para publicação e relativas ao voto de pesar pela morte do poeta Joaquim Namorado.

Tinha uma verdade - a sua verdade!
Bateu-se por ela com a valentia dos grandes guerreiros - fez da palavra e, sobretudo, do exemplo, as suas armas.
Tinha uma verdade - a sua verdade!
Foi capaz de sofrer, sem tréguas, por ela - nada foi bastante para o demover.
Tinha uma verdade - a sua verdade!
Teve a coragem de fazer da sua vida - inteira o espelho das suas ideias.
Joaquim Namorado foi um homem de cultura e de ciência - poeta maior, pedagogo ilustre.
Coimbra ficou mais pobre; empobrecida ficou a cultura portuguesa.
Em poucas palavras - como Namorado gostava -, foi a coerência para além do discurso.
Tinha uma verdade - não é a minha verdade! Sem embargo, aprendi por Namorado muitas coisas. A mais importante: que a cultura é uma pátria sem fronteiras. Ponho, por isso, sentido luto.
O PSD associa-se, assim, ao voto de pesar da Câmara.

Assembleia da República, 6 de Janeiro de 1987. - Pelo Grupo Parlamentar do PSD, Dias Loureiro.

Faleceu Joaquim Namorado. Poeta, ensaísta, crítico literário e de artes plásticas, amigo do seu amigo, foi uma referência viva, empenhada e coerente de muitas gerações que por Coimbra passaram. Poeta da «incomodidade», ele mesmo incómodo, por exigente, com os outros e consigo próprio, generoso e fraterno, perseguido e humilhado, três vezes preso, sempre liberto, cassado do seu diploma de professor de Matemática do ensino oficial e do privado, viveu honradamente do seu ofício de explicador, até que em 1974 encontrou derradeira e curta satisfação profissional ensinando na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra.
Sob a ironia e o sarcasmo escondia uma generosidade fraterna, um lirismo desesperado, por não ver, com a urgência que a história reclamava, o seu povo, o nosso povo alcançar os níveis de desenvolvimento cultural, social e económico por que Joaquim Namorado empenhadamente lutou com coerência cívica, lúcida e abnegada. Companheiro de, entre outros, Fernando Namora, Carlos de Oliveira, Manuel da Fonseca, foi figura cimeira do neo-realismo português, batalhador infatigável da cultura, como bem o atesta a longevidade ímpar e de qualidade da revista «Vértice».

A mensagem da vida de Joaquim Namorado, o apelo que nos lança, está bem conformada nos seus versos:

«O caminho é longo! - Mas nada é longe e distante quando se quer realmente... e nunca o cansaço é tão grande que um passo mais se não possa dar.»

Os Deputados do PRD: Sá Furtado - Ramos de Carvalho - António Paulouro.

OS REDACTORES: Maria Leonor Ferreira - Carlos Pinto da Cruz.