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2000 I SÉRIE-NÚMERO 51

apropriação do sentido generalizado da alienação do quantificável, não é mais do que a reprodução do sistema que o sistema vai parindo e me lembra sempre alguns escolásticos da Idade Média, que procuravam explicar como é que a chama material atiçada pelos diabos do Inferno queimava, sem o devorar, o corpo imaterial dos condenados.

O Sr. Guerreiro Norte (PRD): - Muito bem!

A Oradora: - De resto, e ainda de passagem e ainda como desabafo, este pregão reinvindicativo (como outros) - e tenhamos a honestidade de o reconhecer - vai tendo o caminho que se condena: denunciam-se estereótipos, guerreiam-se estereótipos e entretanto accionam-se, em situação euforizante, os mecanismos linguísticos (e portanto mentais) que desencadeiam e vincam outros estereótipos. O que significa, sob o ponto de vista do enunciado e sob o ponto de vista da enunciação, a permanência da mulher, requerida pela mulher, no lugar ancestral da fala que não se f transforma - é rigorosamente o. discurso do mesmo ou a tomada de posse do discurso do outro.

O Sr. Guerreiro Norte (PRD): - Muito bem!

A Oradora: - E aquilo de que se trata, o que é importante, é a produção do discurso próprio, a fala que se transforma - é o discurso outro. Ele não está, entre nós, prioritariamente nas determinações políticas nem no troar de linguagens só superficialmente modificadoras e portanto que nada modificam. O que é importante, de facto (e isto é já axiomático ou esteriotipado), é uma questão de mentalidade e de inteligência. Da inteligência que diz (e mais uma vez parafraseando Korzybski), que um sistema não é o território, que um sistema não representa todo o território. E acrescento, querer ingressar no (neste) sistema pode ser uma forma de trituração ou de... aniquilamento.
Por isso, o que está em causa é a inversão do sistema ou a distorção sistémica (ousaria dizer não-sistema se não assustasse muito), de tal modo que se trabalhe a passagem da sociedade económica ou pós-económica à sociedade do saber. Não se trata de aperfeiçoamentos nem de adaptações semi-automáticas, nem de simples transferências de funções, mas da revisão profunda de uma sociedade internacionalmente bloqueada. E o bloqueio não deve ser atribuído a esta ou àquela categoria de homens, nem a esta ou àquela instituição, porque a sua origem está na angústia paralisante que se apoderou de todos nós perante a complexidade e a aceleração do futuro e porque, como diz Darrenmatt, estamos num mundo carecente de rosto e o que nos une é o medo à bomba atómica.

Vozes do PRD: - Muito bem!

A Oradora: - Trata-se, cada vez mais colectivamente, de pensar um futuro em acto que não se deixe apanhar nos mecanismos às vezes tão confortáveis que são muito de hoje, na armadilha das próprias obliterações emotivas e apaixonadas neste mundo em que cada vez mais somos, sem querermos e quantas vezes sem sabermos todos, os sinais tangíveis de um sítio que se compreende pelo número, pela estatística, pela pressa, pelo produto quantificável.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: Seja por caminhos lentos, quase imperceptíveis, seja em certos momentos, como o actual, por movimentos mais rápidos e que chamam a atenção, acordam-se motivações e discutem-se polivalências. É o que vem acontecendo, nacional e internacionalmente, com organizações de mulheres que de outras formas querem a vez e a voz. E isto é um acontecimento muito importante, demasiado importante, desde que a colocação nunca seja corporativa ou com comportamento de permanente sindicato, nem de sentidos unívocos.

Vozes do PSD: - Muito bem!

A Oradora: - É muito importante porque no grande espaço do feminino (que não é específico de mulheres) se pode trabalhar de um modo diferente a metamorfose do quantitativo para o qualitativo que leva até à sociedade aberta pelos caminhos da solidariedade: num tempo de interrogações profundas temos de responder todos juntos aos vários quadros da necessidade. As urgências do século são cada vez mais colectivas e não pode uma meia dúzia de pessoas apostar-se para abanar o rochedo de Gibraltar e renunciar porque ele não se mexeu. As urgências do século de onde tem de sair o presente e o futuro são cada vez mais prementes e a moratória é curta e não permite nenhumas estratégias de obstrução: nem desajustamentos entre leis e práticas, nem reproduções de sistemas anquilosados seja por quem for, nem massificações (uma das vulnerabilidades mais frágeis do nosso tempo), nem êxodos de competências, nem correlações antinaturais entre a necessidade e a procura. O problema para nós complica-se porque agarrar um corpo de antecipações à abertura futura que é imprevisível é simultaneamente agarrar o rápido cumprimento integral do quadro das necessidades de sobrevivência, de segurança, de comunicação, de respeito da pessoa, da realização da personalidade, quadro em que não há prioridades. É tudo primeiro.
Com o despontar da sociedade baseada no saber, parece formar-se diante de nós uma descontinuidade. Mas é nessa sociedade, a partir de já, que o horizonte dos possíveis aparece como ilimitado por implicar o profundo movimento íntimo de nós.
E que, apesar de tudo, não se veja o presente com olhos de catástrofe «um mapa não é um território, um mapa não representa todo o território, um mapa pode desenvolver-se até ao infinito».

Aplausos gerais.

O Sr. Presidente: - Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Silva Marques.

O Sr. Silva Marques (PSD): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: A propósito da mulher, estranho seria que não se ouvissem homens. A subalternidade social da mulher é também a do homem, tolhido pela sua própria inferioridade civilizacional. Por isso a luta é comum. Identificando-se com a do género humano, da pessoa, pela dignidade ou se se quiser pela liberdade e pela igualdade, condição prévia do direito à personalidade plena e desse modo à diferença.

Vozes do PSD: - Muito bem!