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10 DE MAIO DE 1989 3665

Quanto ao restante e naquilo que o Sr. Deputado não resistiu à tentação de dar a sua «bicada», por assim dizer, a «bicada» tabelar, acho muito bem que a. Oposição deva dá-la de vez em quando. É essa uma das suas funções. Aliás, o Sr. Deputado Mário Maciel também fez a sua obrigação na «contradição» parlamentar. Estou, assim, à vontade. Já se gerou o equilíbrio. Até me poderei arvorar, assim, em tertius impardalis, para dizer que concordo rio restante com a sua intervenção, que pressupõe um sentido apurado para um problema que é realmente um problema nacional.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra a Sr.ª Deputada Natália Correia, dispondo para isso de dois minutos, cedidos pelo PSD.

A Sr.ª Natália Correia (PRD): - Sr. Deputado João .Soares, gostei muito de ouvir a sua intervenção, mas, se me permite, farei uma pequena correcção: os primeiros ecologistas foram os trovadores, autores das cantigas de amigo, que sacralizaram as coisas da natureza, tal como a árvore, a fonte... Isto significa que o sentimento ecológico nasceu com a nossa literatura, o que quer dizer com as próprias raízes da nossa cultura, o que nos dá responsabilidades especiais numa política de ambiente..
Mas ponho-lhe uma questão e não a quero politizar, pois ela tem implicações universais. Na conciliação da política de ambiente com a produção industrial põe-se hoje a emergência de grandes investimentos das empresas industriais nos despoluentes, nos anti-agressores da natureza inseridos nas técnicas de produção, o que importa uma enorme imobilização de capitais que, por sua vez, se traduz num substancial aumento de preços dos produtos que excederão os níveis aquisitivos. Este é um problema muito grave que tem sido levantado pelos movimentos sociais.

ergunto-lhe, Sr. Deputado: como vamos sair deste círculo vicioso?

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Herculano Pombo.

O Sr. Herculano Pombo (Os Verdes): - Sr. Presidente, Sr. Deputado João Soares: Bem-vindo ao clube dos que pensam com consciência planetária, com consciência ecológica.

Risos.

Foi, de facto, um prazer podê-lo receber nesta nossa Casa que cada vez tem mais moradores. Por este andar, ficarei, com muito prazer, politicamente desempregado...

Risos do PS.

... com tanto ecologista a surgir todos os dias!... Mas será esse o maior prazer da minha vida e, quando eu entender que politicamente a minha voz já não fizer falta, hei-de retirá-la do catálogo das vozes.
Brincando um pouco, devo dizer que, de facto, a intervenção do Sr. Deputado, um pouco à laia de primeiro editorial, deu o tom daquilo que podem e devem vir a ser, em meu entender, outras intervenções e com elas, obviamente, contributos inestimáveis para que o debate dos temas da ecologia, o debate da .conservação, o debate do crescimento sustentado seja feito por todas as bancadas e não apenas, nem preferentemente, por uma ou outra bancada. Nenhum de nós está mais vocacionado pára ser ecologista do que os outros. Todos temos de ter consciência de que ser ecologista hoje em dia é fundamental, para que possamos sobreviver. Sê-lo de diversas formas também é importante. O Sr. Deputado sê-lo-á da forma que julgar mais interessante.
De qualquer modo, um pouco à laia de irmão mais velho que terá chegado primeiro, permita-me fazer-lhe dois pequeninos reparos.
Primeiro, quanto às críticas que fez de que o Governo tem uma política de avestruz, eu também penso que sim, mas não pelas razões por si apontadas. Se o Sr. Deputado e a Câmara me permitirem, gostaria de esclarecê-lo que, de facto, a avestruz, coitada, é acusada de esconder a cabeça na areia, coisa que nenhuma, avestruz fez. O problema é que a avestruz é como o Governo: tem muitas penas, espaneja-se muito, vê-se muito, mas a cabeça é pequenina e, quando se baixa para comer, não se lhe vê a cabeça e diz-se «Lá está a avestruz a enfiar a cabeça na areia». Não é verdade! Ela está apenas a comer e o que se lhe vê muito são as penas. Ao Governo acontece o mesmo: muita propaganda, muito espanejar de penas, mas a cabeça é pequenina!...

Risos do PS e do PCP.

Outra questão que levanto - e esta, sim, é mais importante - é que, em meu entender, o nosso esforço não deve ser no sentido de articular desenvolvimento com salvaguarda do ambiente. Não se trata dê articular, não se trata de tentar compatibilizar duas coisas mas, sim, de uma e a mesma coisa. Uma só coisa e a mesma; coisa: desenvolver, crescer economicamente também, mas crescer principalmente em nível e qualidade de vida não contra o ambiente, não em articulação ou pedindo desculpa ao ambiente por existirmos, mas crescer ambientalmente, crescer de uma forma sustentada. O homem é mais um elemento da natureza, é um elemento importante, é um elemento fundamental, não é o rei da natureza, não é o dono da natureza. O homem não existe sem a natureza e a natureza hoje, provavelmente, já não era capaz de existir sem o homem. Mas com o homem assim é provável que a natureza também não possa continuar a existir!... Portanto, não é um problema de articulação.
O Sr. Deputado Mário Raposo trouxe aqui um tema interessante, qual seja o de saber o que é que pode fazer uma Secretaria de Estado sozinha contra um Governo inteiro, perdoe-me que faça esta interpretação das suas palavras.

Risos.

Será, talvez, uma interpretação um pouco abusiva mas, no fundo, é isso: para que é que serve uma Secretaria de. Estado sozinha contra um Governo inteiro? Um contra todos! Será justo obrigar o secretário de Estado a lutar diariamente contra o Governo se nem sequer tem um estatuto de oposição? Penso que é de uma tremenda injustiça.

O Sr. Mário Raposo (PSD): - Dá-me licença que o interrompa, Sr. Deputado?

O Orador: - Faça favor.