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3942 I SÉRIE - NÚMERO 82

do PSD que está esfaimada, ansiosa por desnacionalizar e diz-lhe: «Leão convence-te que a macrobiótica é que é boa. Olha as sinergias, olha a lógica da Guerra do deserto, do Rommel» E acrescenta: «Põe-te lá na cabeça que o velho paradigma acabou, pensa na nova rede de actores e métodos, tu põe-te na cabeça que agora o que está a dar é os mercados segmentados, a transnacionalização, ma non troppo; abaixo os fixismo com a propriedade». .. E o leão vai-se coçando pacificamente, à espera do bife. Porque o leão está-se borrifando para o discurso de V. Ex.ª sobre as virtudes das sinergias, não acredita minimamente no vegetarianismo. E o leão - o leão Cadilhe, por exemplo, que é uma espécie um bocado mesquinha de leão, mas lá vai agatanhando...

Risos.

... -, acabou de dizer hoje que o Governo vai privatizar as participações de todas as companhias de seguros à excepção da «Fidelidade» e da «Cosec», de molde a restitui-las à iniciativa privada.
Sr. Deputado, isto é o que diz o leão! O discurso de V. Ex.ª é para uma academia de sábios distantes, vivendo em Sírius. Tem V. Ex.ª a certeza de que está em Portugal, aqui, às 19 horas e 10 minutos, no Hemiciclo de São Bento ou estará num areópago em Marte a discutir com os marcianos, nenhum dos quais é carnívoro, por acaso?!

Risos.

Outra coisa que os terráquios sabem é que o Ministro Mira Amaral, o tal que diz que quem não ama o eucalipto não ama Portugal, também se prepara para atacar o sector químico e fazê-lo em bifes. Com base em quê? Na alteração do artigo 83.°, a alteração do artigo 83.° consentida pelo PS.
Sr. Deputado, V. Ex.ª já reparou no artigo 83.°, proposto pelo PS e acordado com o PSD? É que V. Ex.ª parece-me distraído de tanto mergulhar nas indústrias, nas sinergias, nos novos paradigmas, no século XXI, no século XXII, quiçá, no século XXIV! V. Ex.ª descurou esta coisa mesquinha, chata, jurídica que é o novo artigo 83.° e que, Sr. Deputado João Cravinho, do ponto de vista técnico-jurídico - permita-me que lhe diga -, é uma bronca. Ele irá permitir ao Governo privatizar em qualquer sector, não vedado, qualquer espécie de empresa, estratégica ou não, mesmo das de ponta, (dessas que nos encherão o futuro de felicidade ou de amargura), permitindo, ainda e de qualquer forma, ao Governo fazê-lo por negócio particular. V. Ex.ª já se tinha apercebido desse facto? Está de acordo com ele?
Há um terceiro aspecto. Pergunto a V. Ex.a se já se apercebeu da diferença abissal que há entre isso e o projecto inicial do Partido Socialista. É que talvez o projecto inicial do PS tivesse alguma coisa a ver com 5% das considerações, um pouco esotéricas, que V. Ex.ª fez, mas não tem nada a ver com o texto final.
Portanto, pergunto: V. Ex.ª estará bem ciente de que está aqui a fazer a Revisão Constitucional ou pensará que está noutro país, noutra campanha eleitoral, noutro PS, noutro mundo. Afinal de contas, o problema da «imaterialidade» é de V. Ex.a, que, pêlos vistos, já paira, imaterial, acima da realidade. Olhe que quem paga somos nós, quem paga é o País! Acorde, Sr. Deputado João Cravinho, acorde!

O Sr. Presidente: - Sr. Deputado João Cravinho quer responder já ou no fim?

O Sr. João Cravinho (PS): - Se me permite, Sr. Presidente, respondia já com uma pequena observação, que poderá ser longa, mas começará por ser pequena. Aliás, seguindo o exemplo do Sr. Deputado José Magalhães que vê um leão - coitado do leão! - onde na realidade não há mais do que outra espécie zoológica decadente à procura, no fundo, de um poiso para cair morto e nem sequer para arremeter seja em que sentido for. Cada um tem os leões que quer ou cada um tem os leões que merece!

O Sr. José Magalhães (PCP): - Certo, mas V. Ex.ª confunde-os demasiado!

O Orador: - Bem sei que se forem eles leão, VV. Ex.ªs terão qualquer coisa de proporcionalmente configurado. Mas, nem são, nem são!...
Portanto, Sr. Deputado José Magalhães, enquanto V. Ex.ª falava com esse arroubo e com esse entusiasmo e perguntava em que mundo estou eu, estava-me a recordar de ter recebido da Embaixada da Hungria, há pouco tempo, uma informação sobre a lei de abertura das actividades económicas húngaras ao capital e à iniciativa privados. Li tudo aquilo com interesse e tive o cuidado de discutir com uma pessoa que, aliás, muito prezo, e que é hoje o director do Instituto de Planeamento da Hungria, Bela Kadar, o qual conheço há muitos anos e que às vezes se situa mais à direita do que eu - deixe-me, também, que lhe diga. Bela Kadar, em reuniões internacionais tem ficado à minha direita, física e intelectualmente. De tal maneira que, às vezes, até pergunto onde é que o Dr. Bela Kadar andará! Tal como V. Ex.a pergunta. Mas ele, por vezes, anda, exactamente, pêlos mesmos sítios em que eu, mas, simplesmente, tem o zelo dos recém convertidos e, portanto, aí vai! Mas, face ao que se passa na Hungria e na União Soviética, estará V. Ex.ª a decair? V. Ex.ª nunca decai, mas quem decai é a Hungria, é a União Soviética!
Portanto, estamos a chegar àquela situação, que é frequente e bem portuguesa, em que «a mãe desvelada, vendo o seu filho desfilar numa grande parada, diz: só o meu Aníbal é que leva o passo certo!»
Neste mundo, toda a gente decai, só V. Ex.ª é que não decai!
Dito isto, vamos ao segundo ponto que é, de facto, muito mais importante.
Fala-me V. Ex.a de economias de escala, de relatórios de Cechini, etc. Há-de perdoar-me, mas é matéria em que, de facto, tenho passado algum tempo, bastante mais que V. Ex.a Não lhe falo de autores constitucionais nem de teoria constitucional. Cada um de nós, apesar de tudo, tem ideias gerais, mas, depois, quando se entra numa especialidade, cada um tem a sua.
Mas não vou falar nisso agora, senão para responder ao Sr. Deputado Octávio Teixeira, quando diz: «bem, as economias de escala existem...»
Efectivamente, elas existem, continuam a existir e a ser importantes. Mas há uma coisa - e aí é que está a grande diferença que o Sr. Deputado também conhece - bem mais importante que as economias de escala, que são as chamadas economias de scope. Entre economias de escala e economias de scope há uma diferença radical de eficiência e de conceito. Tanto assim que não há tradução em português. Traduza-me o Sr. Deputado «economias de scope»! O conceito é novo e tão radicalmente novo que o senhor não tem uma palavra para o traduzir. Em