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3944 I SÉRIE - NÚMERO 82

ou não - e o argumento húngaro é magnífico nessa perspectiva - perante uma questão de eficácia? Isto é: está ou não definitivamente reconhecido que o Estado e o sector público da economia, se poderia servir para os elefantes, e já servia muito mal, não serve, de forma nenhuma, para as novas formas de produção. Esta é que é a questão. O Estado não serve e, por isso, é que estamos a assistir ao que estamos a assistir por todo o mundo socialista real, desde a China, com estudantes todos os dias a protestar, à União Soviética, à Hungria, à Polónia, etc.

O Sr. José Magalhães (PCP): - Ora aqui está um sinófilo!...

O Orador: - O Estado não consegue produzir com as novas formas de produção, com as novas técnicas de produção. Esta é que é a questão.
Ora, a nossa preocupação nesta matéria deve ser apenas uma preocupação de eficácia na economia, isto é, conseguirmos que a economia produza alguma coisa para depois podermos dar largas aos nossos anseios de distribuição. Essa é que é a questão fundamental, Sr. Deputado João Cravinho, e, portanto, ela constitui a primeira pergunta que lhe queria deixar.
Por outro lado, gostaria que o Sr. Deputado contribuísse para desfazer um bocado este mito da negociação particular, do arranjismo, da pouca vergonha de que o PCP quer rodear o método da negociação particular. V. Ex.ª, Sr. Deputado, diga-me se a negociação particular não poderá, em muitos casos, representar uma defesa contra uma exagerada internacionalização da economia portuguesa?

A Sr.ª Ilda Figueiredo (PCP): - Já se esqueceu do inquérito às OPV da SONAE?!...

O Sr. Presidente: - Para responder, se o desejar, tem a palavra o Sr. Deputado João Cravinho.

O Sr. João Cravinho (PS): - Ao Sr. Deputado Nogueira de Brito, cuja inteligência e brilho são de todos reconhecidos, irei apenas dizer duas coisas.
A primeira é que, apesar de tudo, a questão húngara e soviética não é uma questão interna. Lembro-lhe, por exemplo, que o falecido Strauss...

O Sr. Narana Coissoró (CDS): - Esse é que era um leão!

Risos.

O Orador: - Era um leão, sim senhor! Esse é que era um autêntico leão! Nisso tem V. Ex.a toda a razão! Esse não precisava de controlar televisões e outras coisas no género. Era um leão indirecto!
Mas Strauss, que foi, digamos um anticomunista acirrado, dedicou os últimos anos da sua vida política a uma grande causa, que foi a causa do entendimento e alargamento das relações entre a Alemanha Federal e a RDA e também com a União Soviética. Porque, de facto, a questão que se está a passar a Leste não é, de maneira nenhuma, uma questão doméstica. O Sr. Deputado sabe isso porque, de facto, entre os seus leões conta quem tenha andado, por aí, nessas florestas.
Quanto ao segundo ponto, de graças a Deus... Oh, Sr. Deputado, há uma coisa que a gente tem de compreender: Deus não se mete nestas questões! A César o que é de César! Não suponho que isso seja motivo para «Graças a Deus», mas é uma expressão.
Porém, quero dizer-lhe que, ao contrário do que o Sr. Deputado às vezes julga, o mundo não é preto e branco, mas muito mais complicado. Nós assistimos, às vezes, a coisas tão bizarras como esta: Margaret Thatcher, grande defensora das privatizações, com dez anos de governo, a ferro e fogo, tem o seu recorda nacionalização da Rolls Royce. Veja lá como estas coisas são: uma empresa nacionalizada por um governo conservador! O Reagan, que é quem é, nacionalizou a American Continental e, até certo ponto, seminacionalizou a Chrysler, Logo, as coisas são o que são!

O Sr. José Magalhães (PCP): - Ui! O Professor Aníbal ainda pode nacionalizar o J. Pimenta!...

O Orador: - Veja como isto tudo embaraça o Sr. Deputado José Magalhães, eu percebo! Mas o Sr. Deputado, com certeza, que se não embaraça tanto, porque tem outra visão destas coisas.
Já agora, para terminar, ainda quanto a Margaret Thatcher, veja que neste momento, em que ela comemora o décimo aniversário do seu poder e quer fazer o último assalto ao sector público, há uma onda de conservadores que se levanta e diz «isso não!» A nacionalização das companhias das águas e da electricidade, em Inglaterra, está a levantar a maior oposição dentro do Partido Conservador. Quer dizer, isto perturba o Sr. Deputado José Magalhães e vai contra aquilo que o Sr. Deputado disse.
Mas a vida é assim e não é, apenas, feita para uso e gozo, apesar das metáforas do Sr. Deputado José Magalhães ou da simplicidade que o Sr. Deputado Nogueira de Brito aqui pôs.
Por isso, queria dizer-lhe que a economia portuguesa não pode passar sem o sector público empresarial forte e os empresários portugueses progressistas, abertos, inovadores, que arriscam, precisam de um sector empresarial forte.

O Sr. José Magalhães (PCP): - Convença disso o Professor Aníbal!...

O Orador: - A iniciativa privada pedirá ao governo socialista porque já desesperou fazer entender, seja lá o que for, a este Governo, que, de facto é preciso haver em Portugal investimento público voltado para o futuro. Por isso, é que o Partido Socialista, ao contrário do Sr. Deputado José Magalhães, chegará a 1991 com a maioria.

O Sr. Presidente: - Para um pedido de esclarecimento, tem a palavra o Sr. Deputado Rui Machete.

O Sr. Rui Machete (PSD): - Sr. Presidente, Srs. Deputados, Sr. Deputado João Cravinho: Tenho a vantagem de falar no fim, pelo que posso ser extremamente sucinto e, sobretudo, dispersar-me daquelas referências de «jardim zoológico», «dos leões», dos «saguins» e tutti quanti.
Mas a sua intervenção foi extremamente interessante a pautou-se, fundamentalmente, por uma ideia base, qual seja a de dizer que o paradigma que dominava ainda em