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4610 I SÉRIE - NÚMERO 93
A Sr.ª Presidente: - Srs. Deputados, a Mesa tinha registado um pedido de palavra do Sr. Deputado António Guterres, feito, aliás, em primeiro lugar, como tratando-se de um pedido de interpelação à Mesa. No entanto, a inscrição era para pedir esclarecimentos, pelo que tem a palavra para esse efeito.

O Sr. António Guterres (PS): - Sr. Deputado Montalvão Machado, a seguir às eleições quem ganha afirma, quem perde explica.
O Sr. Deputado Montalvão Machado tentou explicar, mas ao fazê-lo demonstrou a todos nós aquilo que já sabíamos e aquilo que o País já sabe: o PSD perdeu estas eleições!

Vozes do PS: - Risos do PSD.
Muito bem!

O Sr. Joio Salgado (PSD): - Então quem ganhou o campeonato foi o Leixões?!

O Orador: - E devo dizer-lhe, Sr. Deputado Montalvão Machado...

A Sr.ª Presidente: - Srs. Deputados, solicito que façam silêncio.

O Orador: - Muito obrigado, Sr.ª Presidente.
Mas, mais grave do que poder - perder em democracia não é vergonha nenhuma, pois quem perde hoje pode ganhar amanhã - é não saber perder.

Vozes do PS: - Muito bem!

O Orador: - O PSD não soube perder, quer pelas declarações do Sr. Deputado Montalvão Machado, quer, sobretudo, pelas reacções simpáticas e alegres dos Srs. Deputados da maioria.
A verdade é que quando um partido sofre uma grave penalização eleitoral tem dois caminhos: o primeiro é tentar analizar a sua acção governativa e corrigir aquilo que esteve mal nessa acção, para procurar voltar de novo a ganhar a confiança dos portugueses.
Se o PSD assim tivesse feito, era a razão para o País estar satisfeito e seria, eventualmente, razão para o PS, como partido da Oposição, ver limitadas as suas oportunidades para o futuro.
A verdade é que o PSD não procedeu assim!
O Sr. Deputado Montalvão Machado acaba de nos dizer aqui, com clareza, que se o PSD perdeu as eleições a culpa não foi do PSD mas sim dos portugueses.
Ora, em democracia, o veredicto dos portugueses é o que conta. E eu aconselho, calma e serenamente, o PSD a perder a arrogância de quem quer sempre ter razão, mesmo quando manifestamente a perde, e a tentar reconhecer em que é que errou, em que é que frustrou as expectativas dos portugueses, em que é que desaproveitou as condições favoráveis que foram postas à sua disposição para poder governar bem o País, modernizá-lo e a encarar o desafio europeu, para compreender porque é que, de facto, os portugueses estão hoje profundamente zangados com o PSD, com o seu Governo e com o Sr. Primeiro-Ministro, como revelaram de fornia clara pela quebra eleitoral extremamente significativa que tiveram nestas eleições.
Quanto ao PS, nós não estamos triunfalistas. Reconhecemos, aliás, o contributo positivo que o PRD deu também nesta campanha eleitoral.

Vozes do PSD: - Ah!...

O Orador: - E fazemo-lo com todo o à-vontade, como sempre o fizemos.
O que dizemos com clareza é que a partir deste momento está esgotada eleitoralmente em Portugal a fórmula política «Governo maioritário do PSD».
Aplausos do PS.

A partir deste momento existem duas forças políticas de dimensão semelhante que irão disputar o poder político em 1991.
Risos do PSD.
O que dizemos, Srs. Deputados, é que estamos seguros e confiantes, com humildade democrática junto dos portugueses...

O Sr. João Salgado (PSD): - São muito humildes!

O Orador: - .... de que aqueles que hoje se abstiveram, porque já estão descontentes com o PSD, em breve votarão no PS porque reconhecerão a validade da nossa alternativa.
Aplausos do PS.

A Sr.ª Presidente: - Sr. Deputado Montalvão Machado, V. Ex.ª deseja responder desde já ou no final?

O Sr. Montalvão Machado (PSD): - No final, Sr.ª Presidente.

A Sr.ª Presidente: - Para um pedido de esclarecimento, tem a palavra o Sr. Deputado Adriano Moreira.

O Sr. Adriano Moreira (CDS): - Sr.ª Presidente, Srs. Deputados: Devo dizer que o sentimento que tenho neste momento é de profunda consternação, depois do tempo perdido pela Assembleia da República neste diálogo a que todos assistimos, quando esteve em causa a definição do conceito estratégico do País. E os Srs. Deputados obrigam o País a verificar em que é que se pode gastar o tempo quando isto está em causa.
Com esta profunda amargura, gostaria de fazer uma pergunta ao líder do partido da maioria, já que ela não pode ser feita ao chefe do Governo.
O Governo veio aqui, não há muito tempo, pedir a opinião dos Srs. Deputados sobre o que deveríamos fazer em relação ao projecto europeu.
O que devíamos estar a discutir aqui hoje era que opinião teve o povo português sobre esse projecto europeu, mas o que estamos aqui a discutir é quem é que perdeu e quem é que ganhou, quem foi ajudado e quem é que não foi ajudado.
O que eu pergunto ao líder da maioria e ao partido da maioria é o seguinte: não estão preocupados com o facto de 50% dos portugueses que os senhores governam não saberem que era o seu destino que estava em discussão e decisão no momento da eleição?