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21 DE JUNHO DE 1989 4629

Sr.ª Presidente, Srs. Deputados: As eleições são, como todos sabemos, a expressão genuína da afirmação democrática e o respeito pelos seus resultados não é pois questionável. Questionáveis podem ser as diferentes interpretações que se dão aos resultados eleitorais e até estamos habituados a ver só vencedores nos actos eleitorais.
Mais do que saber quem ganhou e quem perdeu parece-nos importante realçar a grande responsabilidade do Governo na falta de informação sobre as grandes questões nacionais e os perigos que isso comporta quer na desmobilização dos portugueses para o desafio da integração europeia, que vai marcar o futuro de todos nós, quer na falta de preparação para os desafios que a integração impõe nos mais variados sectores de actividade.
Por último, pensamos que o Governo não pode esconder a cabeça na areia como se nada tivesse acontecido. Tudo aconselha a que o Professor Cavaco Silva reflicta profundamente sobre as implicações do desaire eleitoral sofrido. O PSD já não tem maioria absoluta pelo que é de esperar que, na sua acção, o Governo assuma uma postura menos arrogante e mais dialogante com todos os parceiros e agentes do desenvolvimento económico e social do País.

Aplausos do PRD e do PS.

A Sr.ª Presidente:- Srs. Deputados, a Mesa informa que se encontram inscritos para pedir esclarecimentos os Srs. Deputados Duarte Lima, António Guterres, Carlos Brito e Dinah Alhandra.
Tem a palavra o Sr. Deputado Duarte Lima.

O Sr. Duarte Lima (PSD): - Sr. Deputado Marques Júnior, ouvi com atenção a intervenção de V. Ex.ª antes de mais começo por manifestar a nossa discordância em relação a algumas das suas interpretações.
«O resultado destas eleições é uma profunda derrota para o PSD e para o Governo». É claro, Sr. Deputado Marques Júnior, que nestas eleições não há vencedores nem perdedores absolutos, há ganhos e perdas relativas. O PSD perde relativamente, perde um deputado, o CDS perde relativamente, porque também perde um deputado...

O Sr. Narana Coissoró (CDS): - Ainda não se sabe!

O Orador: - Vai ser assim. V. Ex.ª sabe bem que vai ser assim.
A CDU e o PS ganham relativamente, porque ganham um deputado.

Vozes do PS: - Dois!

O Orador: - Não! O PS ganha um. Desculpe, vamos lá a fazer as contas como deve ser: VV. Ex.ªs tinham um somatório com o PRD que dava sete e agora têm um somatório com o PRD que dá oito. Não vale a pena estarmos aqui a fazer os golpes algébricos do Sr. Deputado João Cravinho. Têm apenas mais um!

Portanto, pergunto: o que é que VV. Ex.ªs, PRD, ganharam?
V. Ex.ª fala em profundas derrotas e em profundas vitórias, onde é que fica? Na profunda derrota ou na profunda vitória? VV. Ex.ªs tinham um deputado no
Parlamento Europeu e agora continuam a ter um. Portanto, V. Ex.ª apenas ganha a tristeza de ver a secundarização e a menorização dos candidatos e do seu próprio partido nesta campanha eleitoral, que aparece de uma forma envergonhada. Vi o meu amigo, eng. Herminio Martinho, desportivamente, num comício do Partido Socialista, subir ao palco de forma quase envergonhada, quando o chamaram, pois parecia que era quase um acto de misericórdia do Partido Socialista.
Não faça comparações, Sr. Deputado! V. Ex.ª apresenta aqui uma tese híbrida ao dizer que temos de comparar estas eleições não só com as eleições para o Parlamento Europeu mas, também, com as eleições para a Assembleia da República, em 1987. Sendo assim, pergunto-lhe: por que é que as não compara com as eleições autárquicas de 1986 e com as eleições presidenciais? Por que é que não faz aqui um «caldo» eleitoral total e faz apenas um «caldo» eleitoral parcial, Sr. Deputado Marques Júnior? Claro que não pode compará-las com as eleições para a Assembleia da República e não pode porque, desde logo, V. Ex.ª e o seu partido não assumiram nestas eleições a postura dê quem estava empenhado numa eleição para a Assembleia da República. Onde é que andaram os vossos candidatos, os vossos deputados? Nisso VV. Ex.ªs foram completamente secundarizados, varridos das campanhas eleitorais e a vossa participação foi menorizada. Seria esta a postura do PRD se fosse uma companha para a Assembleia da República? Não era!

O Sr. Silva Marques (PSD): - Se calhar até vai ser!

O Orador: - Por último, quero louvar e elogiar a atitude de dignidade de V. Ex. e pelos termos em que aqui se referiu à forma como foram tratados nesta campanha eleitoral. Penso que acima de tudo o PRD sai, depois da intervenção do V. Ex.ª, com uma posição de dignidade porque... não nos atirem areia para os olhos; não é, Sr. eng. António Guterres? Já não nos atiram areia para os olhos...
Vimos como, nesta campanha, VV. Ex.ªs, foram completamente secundarizados. De resto, eu já tinha dito numa altura ao eng. Hermínio Maninho - e peço-lhe, com muita amizade, que não me leve a mal. por lembrar-lhe isto - que este acordo eleitoral era um acordo tipicamente vicentino. Vicentino porquê? Como se lembram, nos Autos de Gil Vicente, normalmente, os males do mundo eram sempre pagos pelo agricultor. Ele pagava sempre tudo.
Na verdade, trata-se, tipicamente, de um acordo entre um advogado e um agricultor - sem maldade, perdoem-me por utilizar aqui esta expressão - e, mais uma vez, o agricultor saiu «tramado», porque o advogado o fintou: fez o acordo, a seguir a finta e depois pô-lo de lado. E pronto, hoje, aqui, emendou a mão como pôde, sobretudo através da intervenção do Sr. Deputado António Guterres. Mas o que é facto é que não se poupou à humilhação, quer durante a companha quer durante as eleições, pelo menos por parte dos três principais responsáveis do Partido Socialista.
Queria terminar esta minha intervenção felicitando-o pela bofetada de luva branca que V. Ex.ª deu ao Partido Socialista - penso que posso tirar esta conclusão -,repondo as coisas no seu sitio e fazendo valer para o PRD aquilo que realmente é do PRD.