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21 DE JUNHO DE 1989 4633

posição política verdadeiramente inesperada face ao que aconteceu no dia 18 de Junho:
Depois de várias sondagens que indicaram o partido e o Governo a descer sistematicamente, depois de o próprio Primeiro-Ministro ter ido à televisão e de, num primeiro arroubo de bom senso, ter admitido que alguma coisa ia mal, seria sinceramente esperável e certamente que os eleitores da faixa sociológica onde o PSD se insere o esperariam - que aqui fosse feita uma análise serena e não emocional sobre aquilo que está mal, sobre aquilo que deve ser corrigido, por forma a que resultados desta natureza não se repitam.
O PSD não o fez e assume-se aqui como se nada tivesse acontecido, dizendo que é vitorioso: Aliás, vai até mais longe, pois atreve-se a bater quase impiedosamente nos abstencionistas, desconhecendo que, afinal, a maioria dos abstencionistas pertence ao seu próprio partido.

Vozes do PSD: - Ah!

O Orador: - Não é «ah», é perfeitamente verdade!
É estranho que assim tenha acontecido. Aliás; é estranho e preocupante paca todos aqueles que se não reivindicam do socialismo e que não querem vero nosso país regressar a tempos que ainda estão bem frescos na nossa memória.
Daí resulta que o CDS terá de seguir o método que gostaria que o PSD tivesse adoptado nesta discussão parlamentar. É o que seguidamente tentaremos fazer.
O CDS tem vindo a alertar o PSD e o seu Governo para os erros da gestão dos negócios públicos.
Na verdade, começámos por dizer que o Governo escolheu e adoptou uma postura política errada, da qual resultaram erros gravíssimos. E isto é tanto. mais criticável numa altura em que o Governo usufruiu de um clima político e económico de favorabilidade ímpar no panorama português.
Convém hoje recordar, uma vez mais, quais esses aspectos favoráveis: condições políticas ímpares; uma maioria absoluta monopartidária e, consequentemente, homogénea; a esperança, a confiança, o entusiasmo, da grande maioria das populações; uma paz social visível em todo o País no dia 19 de Julho de 1987 e nos dias subsequentes; e a solidariedade institucional, nunca desmentida, do Sr. Presidente da República, ao contrário do que tinha acontecido com outros governos. 15to para não falar já de condições económicas igualmente ímpares.
Em primeiro lugar, iniciou funções depois de uma fase de contenção, de rigor e de austeridade protagonizada pelo então ministro das Finanças Hernâni Lopes.
Em segundo lugar, beneficiou de uma conjuntura internacional extremamente favorável, de que o já tão falado câmbio do dólar e o preço do petróleo são claros paradigmas.
Finalmente - em ordem, que não em importância -, usufruiu de enormes recursos da CEE de que nenhum outro Executivo pode, até então, usufruir.
Estas condições de excepção - é bom que se diga com clareza - foram; em dois anos, praticamente desbaratadas.

Vozes do PS: - Muito bem!

O Orador: - Assim, e em primeiro lugar, o mito da infalibilidade do Sr. Primeiro-Ministro, aliado a uma quase ausência de projecto político, impediu que alguns dos erros cometidos em sectores cruciais da governação fossem emendados e as respectivas equipas ministeriais remodeladas.
Esse mesmo mito da infalibilidade impediu que se tivesse gerado um clima de cooperação e de diálogo útil entre o Governo e o Parlamento, capaz de dar ao Governo um suporte político consistente, mesmo a nível da sua maioria, e ao Parlamento o prestígio que lhe é devido constitucional e politicamente.
Ainda esse mesmo mito fez com que opções erradas, que teimosa e cegamente assim permaneceram durante este tempo, tivessem gerado um profundo mal estar entre largas camadas sócio-profissionais tradicionalmente apoiantes das forças políticas do centro e da direita: Com efeito, a agitação sócio-profissional dos médicos, dos advogados, dos magistrados e, recentemente, dos professores, não pode nem deve ser imputável ao PCP, mas sim ao Governo.
Finalmente, uma política económica financeira altamente gravosa para a generalidade dos cidadãos, que viram as suas legítimas expectativas frustradas sem explicação séria - por vezes até demasiado sorridente - nem utilidade visível. Essa mesma política, que se arrasta sem prestígio e que perde, às mãos dos índices da inflação, da despesa pública e do défice comercial, a pouca credibilidade que, porventura, ainda lhe restava.
Em suma, de um mandato de quatro anos que terá de cumprir...

O Sr. Silva Marques .(PSD): - Claro, claro!

O Orador: - ... ,o Governo esgotou dois ingloriamente.
Uma e outra vez, dentro e fora deste Hemiciclo, o CDS não se cansou de alertar o Governo e o PSD para este facto.
Com displicência e por vezes até com agastada sobranceria, era-lhe respondido que essa era a opinião de uma classe política desinformada, quando não despeitada. Porém, o povo pensaria de outra forma.
Tornou-se pois necessário que a expressão da vontade popular, inequivocamente manifestada, viesse confirmar, por enquanto, o desencanto e a frustração de que há muito o CDS vinha fazendo eco.
Está dito, já não só pela classe política mas pelo povo, soberano no seu julgamento - o que votou e o que se absteve, no seu pleníssimo direito de o fazer -, que o Governo tem de mudar de postura, tem de alterar políticas, tem de renovar a sua composição.
O Governo e o partido maioritário devem fazer uma leitura, não emocional, dias realista (portanto pessimista), destes resultados. Não podem continuar a insistir em que estão a fazer o bem do País, mas que o povo, impreparado e ingrato, não o entende.
Se este não é o momento de mudar de timoneiro, é, seguramente, o de alterar a rota escolhida. De outra forma, o Governo continuará a sacrificar o País e a comprometer o seu futuro nos dois anos que ainda lhe restam. Por isso, o CDS permite-se aconselhar o Governo e o partido maioritário a tomar, sem açúcar, a pílula amarga destas eleições.
Como oposição responsável que sempre tem sido, integrado num espaço sociológico próximo daquele que elegeu o Governo, o CDS desafia o actual poder a salvar, em dois anos de mandato, o que ainda lhe pode