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170 I SÉRIE-NÚMERO 5

perspectiva de grandes vitórias na negociação com os nossos parceiros, deixando de lado aspectos essenciais, como as acções pedagógicas e estruturais junto dos agricultores. E é mau, muito mau que assim seja e não só na região do Oeste, onde se produz cerca de 50% de maçãs e pêras e onde, infelizmente, a movimentação dos agricultores se tem processado a um ritmo desmedido, conscientes que estão de que ou se lhes dá uma ajuda, que passa pelo diálogo, ou o barco se afunda.
Não se julgue, porém, que são apenas os agricultores do Oeste que se sentem afectados e desgostosos com a acção do Governo. Permitam-me que cite o presidente da Associação de Fruticultores do Sotavento Algarvio, que se lia num semanário a semana passada: «É esta irresponsabilidade que nós não podemos continuar a tolerar dos responsáveis da agricultura deste país.»
Dirão os Srs. Deputados do PSD que o Governo tem levado a cabo alguns actos de formação junto dos jovens agricultores, o que é verdade. E os outros agricultores, que tom da agricultura um conhecimento empírico transmitido de geração em geração? Quem lhes fala e explica o que são os Regulamentos n.º 797 e 355, o PEDDAP e outras siglas intragáveis para acesso a fundos comunitários e à reestruturação e modernização agrícolas?
Não são, certamente, os cinco escassos minutos que a televisão nos oferece depois do Telejornal das 19 horas e 30 minutos, e muito menos o faraónico programa semanal TV Rural, com todo o respeito que o engenheiro Sousa Veloso me merece.
Na manifestação às portas de Lisboa e ao pedido de diálogo formulado pelos representantes dos agricultores viu-se o que se passou na tomada de posição do Ministério da Agricultura: «Que não, que não e que não! São manobras políticas do Partido Comunista e, claro, do comunista Júlio Sebastião.»
É, infelizmente, esta a actuação do Governo! Nega-se ao diálogo como gato a banhar-se mesmo em águas limpas, desconfio que aconselhado pelo Sr. Deputado Silva Marques, qual rato de biblioteca marxista-leninista-estalinista. O Governo escuda-se na velha tecla do tempo da outra senhora. Aliás, creio mesmo ser este o leitmotiv que, de algum tempo a esta parte, dá forma e conteúdo aos discursos do Governo e do PSD.
Imagine-se que o porta-voz da Pró-Associação dos Agricultores do Oeste, Júlio Sebastião, que já foi presidente da freguesia de Roliça pelo CDS, secretário da mesa da Assembleia Municipal do Bombarral pelo PSD, fundador da CAP, namorado assiduamente para fazer parte dos órgãos autárquicos destes partidos, nomeadamente pelo PSD, e só porque é escolhido pelos colegas como seu porta-voz logo é rotulado de comunista. «Que anti-comunismo tão pré-primário!», como disse há dias o meu camarada Almeida Santos.
Estou mesmo a ver o meu amigo José Guilherme, ilustre presidente da Câmara Municipal do Bombarral e do CDS, a levar o mesmo rótulo, já que tem acompanhado os agricultores na tentativa e expectativa de diálogo com o Ministério da Agricultura!
E o nosso colega, deputado Casqueiro, que, de quando em vez lá dá a sua ferroadazita no Ministério da Agricultura, nada perde em estar de sobreaviso, a menos que, estando ao lado e na mesma trincheira do partido do Governo, tenha o tratamento orwelliano do Animal Farm, na síntese das sínteses dos princípios por que se regiam os animais chefes da Quinta Manor.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: O que os agricultores querem é que se lhes ajude a resolver o problema da comercialização dos seus produtos; o que os agricultores querem é não ver fruta importada para fins industriais a invadir, depois, os mercados abastecedores; o que os agricultores defendem é o aproveitamento racional de estruturas servindo de mercados de origem, a protecção dos seus produtos e a penalização dos mixordeiros que, servindo-se dos seus rótulos de garantia de origem e de qualidade, tudo misturam e fazem chegar ao consumidor produtos sem condições mínimas e adquiridos a preços irrisórios; aquilo por que os agricultores lutam é por instalações dignas e dignificantes dos mercados abastecedores, onde a imundície, os produtos deteriorados e putrefactos e a invasão de insectos convivem com os seus produtos geralmente bem embalados e quantas vezes calibrados.
Aliás, não se percebe que tendo o Governo gasto tanto com anúncios defendendo a qualidade, não venha agora, a jusante desse mesmo acto, actuando perante os prevaricadores. Todos ganhávamos, certamente!
Não pactuando com todas as reivindicações e em nada com a linguagem ofensiva a terceiros, há muito que aproveitar das posições do porta-voz da pró-Associação dos Agricultores do Oeste. Assim, o Governo, e nomeadamente o Ministério da Agricultura, deixe a sua atitude de arrogância narcisista e tente baixar, como lhe compete, junto dos agricultores e das suas instituições representativas.

O Sr. Presidente: - Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Rogério Brito.

O Sr. Rogério Brito (PCP): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Depois de aqui termos assistido, na passada semana, à peça, em dois actos, do conto do Menino do Capuchinho Laranja e do Lobo Mau, ficámos com a ideia de que o Primeiro-Ministro Cavaco Silva deve ter ficado profundamente marcado na sua infância pelo temor infundido pelos seus papás ao ameaçarem-no de chamar, o lobo mau sempre que não comesse a papinha toda.
Hoje, traumatizado, mete-se na roupa do Capuchinho Laranja e vai de querer vingar-se dos seus medos de infância atirando para cima do PCP - foi quem ele escolheu para seu lobo mau - as suas maldades todas, assim como que a modos de menino rabino que faz as maldades e diz logo, de seguida, com um ar de Capuchinho: não fui eu, foi aquele menino!
No entanto, e embora compreendendo a razão de ser destas atitudes do Capuchinho, tem de convir-se que ele abusou e se espalhou, nas suas intervenções, no debate da moção de censura ao Governo. É que, se as suas maldades são tantas quantas as vezes que disse «não fui eu, foi o PCP» - que ele escolheu para seu lobo mau-, então não há pai-nossos nem ave-marias que cheguem para remir tantos pecados, seus e dos outros meninos que com ele estão na história, que é como quem diz no Governo.
Como se tudo isto não bastasse, surgem os imitadores do Capuchinho Laranja, como é o caso do Ministro Álvaro Barreto, que «descobriu», por exemplo, que os agricultores do Bombarral, assim como muitos outros que os precederam na contestação à política agrícola do Governo e nas reivindicações por medidas que respondam aos seus legítimos direitos, foram manipulados pelo PCP.