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990 I SÉRIE-NÚMERO 27

classes intermédias. A sua tese é um pouco, embora com uma nova linguagem, a mesma.
Sr. Deputado, os senhores mudaram mesmo de ideias ou foi uma distracção sua?

O Sr. Presidente: - Também para um pedido de esclarecimento, tem a palavra o Sr. Deputado Carlos Encarnação.

O Sr. Carlos Encarnação (PSD): - O Sr. Deputado Lopes Cardoso veio hoje trazer-nos, em primeiro lugar, mais uma reflexão sobre o resultado das eleições autárquicas.

VV. Ex.ª acusaram-nos durante muito tempo de termos falado dos resultados das eleições de 1987.º Agora é a vossa vez de falarem durante muitos meses dos resultados das últimas autárquicas. Espero que isso aconteça porque, na verdade, os resultados foram bons para vós.
Já na sessão plenária passada cumprimentámos o Sr. Deputado Jorge Lacão por esses resultados e cumprimentaremos sucessivamente todos os deputados do PS que aqui se aprestarem a defender esses resultados e a dizer que tiveram uma grande vitória eleitoral. Nada nos .custa admitir isso.
Não temos, como V. Ex.ª verifica, falta de humildade, não temos qualquer sobranceria, lemos, sim, uma grande humildade e sensibilidade democráticas. É exactamente por isso, por praticarmos a democracia, por vivermos num regime democrático, por o Governo ser aberto, por. o Governo nao manipular as consciências e por não fazer eleitoralismo, que V. Ex.ª tem a possibilidade de, pela única voz possível em democracia, que 6 a voz do voto, modificarem as coisas. Não lhe ficaria mal que também, num acto de humildade, reconhecesse esta virtude - digamos assim - deste governo. Nao lhe ficaria mal, como um exercício democrático!
É evidente que também não lhe ficaria mal reconhecer que é natural em democracia - como o é de facto - que haja, de vez em quando, remodelações governativas, que não ocorrem quando as oposições querem nem como as querem ou reclamam, mas que decorrem da capacidade de o Primeiro-Ministro, sendo responsável politicamente pelo Governo, as resolver. Com certeza V. Ex.ª nao esperaria que o Primeiro-Ministro reunisse com as oposições e combinasse com elas remodelação do Governo! A tanto V. Ex.ª, com certeza, não chegaria. Mas parecia-me estar subjacente nas suas palavras qualquer ideia destas.
Na verdade, há aqui uma questão que V. Ex.ª também já esqueceram ou parece terem esquecido. Sc é certo que este governo se remodela agora, todas as oposições já remodelaram há algum tempo atrás, ou estão em vias disso, a sua direcção política. Isto é, quem começou, de facto, a remodelar-se -e nisso temos de lhe dar os parabéns- foi o Partido Socialista; seguiu-se o CDS c; por fim, foi, ou esperemos que seja, o PCP, que já admitiu que teria de mudar de secretário-geral. Portanto; está tudo em vias de remodelação. Ainda bem!

O Sr. José Lello (PS): - Vocês mudam para pior!

O Orador: - O que quero neste momento salientar é que V. Ex.ª veio dizer-nos uma coisa que não esperava. Neste primeiro discurso de ano novo, julguei que nos vinha desejar a todos nós boas entradas e melhores saídas. Ao fim e ao cabo, acaba por desejar-nos más entradas e piores saídas! É exactamente nisso que a oposição se concentra, dentro do seu discurso político. A oposição, para além de dizer mal do Governo, o que é natural e fica-lhe bem -diria que, infelizmente, estamos habituados, enquanto povo que somos, a que tudo o que há a fazer seja desempenhado pelo Governo e que as «cantigas de escárnio e maldizer» sejam feitas pela oposição, vem ainda referir que quer que ainda seja pior. Diz que os ministros que saem são maus e vem logo dizer, antes que alguém o diga, que os ministros que entram são piores, sem cuidar de saber se são melhores ou não, sem cuidar de saber da sua actuação prática... Por uma questão de princípio, diz logo que os outros são maus e estes ainda são piores.
Isto não lhe fica bem, Sr. Deputado, porque, se encarar também com alguma humildade democrática a crítica política, esta não pode fazer-se desta maneira!
Fico, porém, contente com uma coisa: V. Ex.ª e o PS em geral mostram-se muito mais preocupados agora do que antes, quando eram governo, estão muito mais preocupados com a carga fiscal, com o desemprego, com a taxa de inflação, com a taxa de investimento... Quer dizer que V. Ex.ª, nesta altura, é que estavam em condições de ser governo ... ao nível da preocupação, porque quando o foram foi uma vergonha.
Admito que o Sr. Deputado diga «na verdade, o crescimento económico produziu-se, o desenvolvimento produziu-se e há desigualdade». Eu não vou repetir aquilo que disse o meu colega Silva Marques, mas o que V. Ex.ª queriam, certamente, era que o nível de miséria subisse, que o nível de coesão social se alterasse, isto é, que a taxa de desemprego subisse novamente, que houvesse maior conflitualidade social, por exemplo, ao nível básico da coesão social da taxa de desemprego... Se calhar, V. Ex.ª queriam isto... ou, então, entendem que é chegada a vossa altura de governar, porque o PS sempre foi um partido especialmente apetecido por uma questão essencial da governação, mas que é uma das questões essenciais ...

O Sr. Presidente: - Sr. Deputado, queira concluir, uma vez que já foi dada toda a tolerância possível.

O Orador: - Agradeço a sua bondade; Sr. Presidente. Concluirei imediatamente.

Como eslava a dizer, na verdade, o PS foi feito, historicamente, para distribuir. VV. Ex." entendem que este governo já construiu demasiado, já fez o País produzir demasiado e agora dizem «chegou a altura de irmos para o Poder para distribuir a riqueza que os outros criaram». É isto que querem fazer?! Pois bem, esperemos, para ver as vossas actuações práticas!

O Sr. Presidente: - Para responder, se assim o desejar, tem a palavra o Sr. Deputado Lopes Cardoso.

O Sr. Lopes Cardoso (PS): - Sr. Deputado Carlos Encarnação, há um ponto em que talvez tenha razão. Eu deveria, porventura, ter começado por desejar um bom ano a todos os parlamentares. Mas faço-o agora - mais vale tarde que nunca: desejo um bom ano para todos, sucessos pessoais, sucessos políticos para a minha bancada a minha hipocrisia não me leva a desejar-lhe sucessos políticos para a sua , boas entradas para o PSD e muito melhores saídas do PSD para bem de todos nós.

Risos gerais.