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5 DE JANEIRO DE 1990 991

Sr. Deputado, quase era tentado a remetê-lo para a minha intervenção, porque o que estava em causa não era a remodelação em si mesma mas o conteúdo e o modo como ela se processou.
Esta nao é a remodelação possível, é uma remodelação que não abre perspectivas, nem alternativas, nem políticas diferentes. Nao sou eu que o digo e deixe-me acrescentar que nao o faço. Tive esse cuidado, porque entendia que não tinha o direito de fazer qualquer espécie de consideração acerca dos ministros que eventualmente irão ocupar as novas pastas, alguns conhecidos e outros que não sabemos ainda quem são.
Além disso, esta remodelação tem aspectos de telenovela: vão-se anunciando os próximos capítulos. Alguém dizia que durante anos se falou na revolução permanente; ora, a palavra de ordem do Prof. Cavaco Silva parece ser a da remodelação permanente. A ver vamos!
Quem falou, muito antes de mim, no empobrecimento deste governo por via dos novos ministros escolhidos foi o ex-Ministro Álvaro Barreto.

Vozes do PS: - Muito bem!

O Orador:- O Sr. Deputado considera que um ex-ministro do Prof. Cavaco Silva, que lhe mereceu os encómios públicos na nota de despedida - se são hipócritas esses encómios é um problema a resolver entre o Sr. Deputado e o Prof. Cavaco Silva, que é militante do PSD, é, de facto, alguém suspeito para comentar a remodelação?... Só vem confirmar que a cizânia se instalou nessa bancada e no seu partido!
Mas foi o engenheiro Álvaro Barreto o primeiro e remeto-o para as suas declarações ao Diário de Notícias- a dizer que os novos ministros não suo capazes de formar um governo susceptível de se constituir como alternativa e, longe de aumentarem a credibilidade no Governo, reduzem-na. E esta é, no fundo, a questão fundamental. Era o âmago da minha intervenção, a que o Sr. Deputado tentou habilmente fugir.
Mas essa questão continua em cima da mesa e permita-me que o remeta para a minha intervenção, se quiser ter a bondade de lê-la com um pouco de atenção.
Em relação ao Sr. Deputado Silva Marques, tenho imensa pena mas devo dizer-lhe que não sei se a Câmara ainda tem paciência... Sinceramente, Sr. Deputado, eu não tenho pachorra para os seus «números» e, pura e simplesmente, não lhe respondo.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente: - O Sr. Deputado Silva Marques pediu a palavra para que efeito?

O Sr. Silva Marques (PSD): - Para exercer o direito da defesa da consideração.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra, Sr. Deputado.

O Sr. Silva Marques (PSD): -Sr. Deputado Lopes Cardoso, admito que a Câmara já nao tenha paciência para as questões que levanto. De qualquer modo, desafio-o a responder às questões que lhe coloquei, porque são reais, sérias e fazem parte do debate de ideias.
Se considera que as questões que levantei não são especificamente do debate de ideias, gostava de ouvir as suas razões.
Abordei a questão das grandes divergências que têm atravessado as correntes políticas nos últimos anos. O Sr. Deputado sabe muito bem que uma dessas questões foi a da democracia. O Sr. Deputado sabe muito bem que uma das questões que dividiu o nosso país, que nos dividiu a todos nós - decerto cada um na sua boa fé -, foi a questão de saber o que é que está em primeiro lugar, se a democracia, se o socialismo.
O que levantei aqui, Sr. Deputado, foi uma questão de debate político, absolutamente séria, nao apenas livresca, mas vivida realmente por iodos nós, em que cada um tomou as posições que entendeu na sua consciência. Foi, pois, uma questão séria! E mais, Sr. Deputado, legitimada não apenas pelo debate de ideias em geral mas inclusivamente pelo seu discurso, que, em boa parte, tratou da vida interna do meu partido. Por isso, a justo título, chamei a atenção do Sr. Deputado para algumas questões que se tem levantado no seu partido.
Sr. Deputado, se estamos a tratar entre gente que se preza e que começa, sobretudo, por assumir o seu próprio discurso e as suas próprias lições, pode continuar a ter as respostas chocarreiras que entender que não me faz desistir. Fui um dos que não desistiu, Sr. Deputado!
Não desisti de assumir pública e frontalmente, na minha própria evolução, na minha caminhada política; não desisti de estar, nos momentos necessários, do lado da barricada em que entendi dever estar; estive do lado da Fonte Luminosa nesse momento de grande divisão e de grande debate político no nosso país; estive do lado daqueles que sobrepuseram a democracia ao socialismo e que aqui eram, não ainda há muito tempo, tratados de conservadores e reaccionários. O Sr. Deputado sabe muito bem que uma das críticas fundamentais a Mário Soares foi, por exemplo, o facto de ter metido o socialismo na gaveta...
Sr. Deputado, a minha intervenção foi um gesto de consideração por V. Ex.ª, porque não é outra coisa senão o aceitar o repto do debate político. Mas se V. Ex.ª não tem consideração pelas minhas questões e está no direito de assim proceder-, eu terei sempre consideração pelos seus discursos, pelos discursos com os quais eu concorde, por aqueles de que discorde e, sobretudo, pelos discursos e pelas questões que causam problemas àquele que procede à oratória. Caso contrário, Sr. Deputado, não estamos num parlamento, estamos numa sacristia.
Peço-vos desculpa pela minha imagem um tanto ou quanto anticicrical, mas é isso que se passa, Sr. Deputado. O que os senhores querem é que digamos «ámen» e, sobretudo, que nao vos coloquemos questões inconvenientes, não apenas no plano pessoal como no plano político.

O Sr. Deputado pode ter por mim e pelas minhas questões a consideração que quiser; eu terei sempre muita consideração pelo Sr. Deputado, desde logo por que o é e, em segundo lugar, porque lenho obrigação de assim proceder.

O Sr. Presidente: - Para responder, se assim o desejar, tem a palavra o Sr. Deputado Lopes Cardoso.

O Sr. Lopes Cardoso (PS): - Obrigado, Sr. Presidente, mas eu já respondi não respondendo.

O Sr. Presidente: - Gostaria de dirigir uma palavra de saudação ao Sr. Deputado António Bacelar, que regressou ao nosso convívio depois de um longo período de ausência por motivo de doença grave.

Aplausos gerais.