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14 DE FEVEREIRO DE 1990 1501

Por fim, o Sr. Deputado perguntou-me porque é que eu não sou candidato.
Não é por medo. Na verdade, se eu pudesse ser candidato era-o outra vez; não tenho é oportunidade disso. Porém, não fujo! Se eu não estivesse tão velho, politicamente tão gasto, e se os acontecimentos me viessem a proporcionar outra oportunidade de lutar politicamente pelo lugar de primeiro-ministro, eu concorria, não fugia!

Aplausos do PS e do CDS.

O Sr. Duarte Lima (PSD): - Não é verdade!

O Orador: - No entanto, estranho muito que o Sr. Deputado não viesse desta vez lembrar o que disse na televisão, isto é, que quando o PS disse que apoiava o Presidente da República ninguém bramou e agora que o PSD faz o mesmo toda a gente se escandaliza.
Sc o Sr. Deputado viesse lembrar isso, eu dir-lhe-ia - e digo-lho porque o senhor o disse - que se o PSD não consegue ver a diferença que há entre o apoio do meu partido e o seu próprio apoio a uma recandidatura do Presidente da República Mário Soares, então não há nada a fazer porque não sou oftalmologista!

Risos do PS e do CDS.

O Sr. Deputado Carlos Coelho afirmou que eu teria sido incoerente. No entanto, proeuro, em regra, não o ser, o que não quer dizer que, uma vez por outra, consiga um inteiro êxito ...
Pergunta-me se o PS recusa ou não uma presidência nacional? Mas então não seria bom que o Presidente fosse apoiado pelo maior número possível de portugueses? Sem luta não, Sr. Deputado! Um candidato único seria péssimo para a democracia! Provavelmente o que viria a acontecer é que ele teria 90 % dos apoios, embora com mais abstenções do que votos! Isso seria um desastre para a democracia e é provavelmente o que o Primeiro-Ministro quer quando vê os seus votos a cair, quer que o Presidente da República tenha menos votos do que ele!

Aplausos do PS e do CDS.

Questiona-me depois o Sr. Deputado no sentido de saber que presidência deve ser protagonizada, se esta ou outra diferente, e qual o perfil do próximo presidente.
Devo dizer-lhe que, como é óbvio, não vejo melhor perfil do que o do candidato Mário Soares. Agora o que espero é que o candidato Mário Soares saiba fazer o próximo mandato com a igual defesa do interesse nacional, com igual preocupação de equilibrar as instituições, mas à luz da nova situação criada depois das eleições legislativas. Portanto, que não copie o actual mandato, pois pode acontecer que a situação criada pelos próprios resultados legislativos não aconselhe, em nome do interesse nacional, uma cópia do mandato. Sinceramente, estou convencido de que o segundo mandato não vai ser tirado a papel químico do primeiro.

Vozes do PS: - Muito bem!

O Sr. Duarte Lima (PSD): - É uma demonstração de fraqueza!

O Orador: - Perguntou-me igualmente o Sr. Deputado se não acho que isto é, do nosso lado, uma confissão de fraqueza.
Bem, se é fraqueza defender a democracia tal como a entendo, então fiz um discurso fraquíssimo. Se defender a democracia é, apesar de tudo, uma posição de força anímica, de coerência ideológica, nessa altura eu fiz um dos mais fortes discursos que me foi dado fazer nesta Assembleia.

O Sr. Carlos Coelho (PSD): - Isso é fugir à pergunta, Sr. Deputado!

O Orador: - Então faça o favor de a reformular, que eu respondo-lhe já!

O Sr. Carlos Coelho (PSD): - Sr. Deputado Almeida Santos, eu não pus em causa nem as suas convicções democráticas nem a firmeza com que as soube defender ao longo destes anos. A questão que coloquei ia, tão simplesmente, no sentido de saber se a maneira como entendeu - a propósito daquela imagem de que o Dr. Mário Soares não vendia a alma - chamar exclusivamente ao PS os méritos de uma eventual reeleição, não era, à partida, uma confissão de fraqueza na incapacidade de o PS gerir, sob um ponto de vista liderante, as próximas eleições legislativas.
Na verdade, é esta a questão política que ressalta deste debate. É que, na minha opinião, a sua incomodidade resulta precisamente dessa confissão de fraqueza.

O Orador: - Sr. Deputado, se nem chamámos a nós o exclusivo mérito das eleições anteriores, apesar de estarmos sem voz, como é que íamos chamar agora o exclusivo mérito se o tivermos ao nosso lado? Não e isso!
A fraqueza que eu aqui vim denunciar foi a do Primeiro-Ministro: medo, pânico de contar votos! Portanto, não fale da minha fraqueza quando venho denunciar a fraqueza do Sr. Primeiro-Ministro!

Vozes do PS: - Muito bem!

O Orador: - O Sr. Deputado tem o direito de o continuar a considerar um valentaço, um «vai a todas». Porém, acredite: ele renunciou à luta pela primeira vez e isto vai sair-lhe caro; o povo não lho perdoará!

Aplausos do PS.

O Sr. Montalvão Machado (PSD): - Sr.ª Presidente, peço a palavra para exercer o direito regimental de defesa da honra.

A Sr.ª Presidente: - Tem a palavra, Sr. Deputado.

O Sr. Montalvão Machado (PSD): - Sr.ª Presidente, Srs. Deputados, Sr. Jovem Deputado Almeida Santos: O Sr. Deputado Almeida Santos é sempre jovem e o seu grupo parlamentar costuma utilizá-lo frequentes vezes como bombeiro. Não bombeiro para apagar fogos e muito menos para os atear, mas para ajudar a arrumar o entulho das derrocadas. Efectivamente, estamos aqui perante a derrocada de uma estratégia, tendo o Sr. Deputado Almeida Santos sido chamado para arrumar a casa depois da queda dos andares superiores.