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6 DE ABRIL DE 1990 2147

Ouçam, que ainda não acabei a frase!
Mas vou tentar mostrar que é possível fazer de outra maneira e começo por descrever a sua intervenção com o título de um livro de uma poetisa: Uma Mão Cheia de Nada e Outra de Coisa Nenhuma. Vou tentar dizer o que é que está por detrás do teor fortemente propagandístico da sua intervenção, o que é que efectivamente a Sr.ª Deputada podia ter dito, mas não disse. Não disse que, ao falar sobre Lisboa, não quer falar sobre as dificuldades políticas que atravessa a coligação «Por Lisboa» na gestão da Câmara Municipal e que sabe que existem, pois são públicas, são conhecidas.

Vozes do PS: - E Loures?!

O Orador: - E já nem lhes falo, Srs. Deputados, das de Loures, que é para não terem mais vergonha do que aquela que já têm!

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - E não lhe falo daquilo que a Sr.ª Deputada quer ocultar! É que o Sr. Dr. Jorge Sampaio está a provar uma poção muito amarga do poder na Câmara Municipal de Lisboa, uma vez que, pela primeira vez, é obrigado a ter uma linguagem de poder.

O Sr. José Lello (PS): - Anda a treinar para o futuro!

O Orador: - Já lhe vou falar disso!...
Como ia dizendo, o Dr. Jorge Sampaio tem agora de tomar decisões com recursos escassos, tem de fazer escolhas, tem de aceitar decisões dos tribunais. Em suma, como presidente da Câmara da Lisboa, não pode ter o discurso meramente oposicionista que tem, conjuntamente com os senhores, aqui na Assembleia!

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - Portanto, é obrigado a estar com um pé no poder da Câmara de Lisboa, sendo por isso igualmente obrigado a justificar coisas como o Euromarché, como o «silo América» e como um conjunto de adiamentos das medidas de emergência prometidas para Lisboa, uma vez que, como é evidente, tem de tomar em conta o confronto entre palavras que proferiu na campanha eleitoral e as suas responsabilidades governativas em Lisboa. É exactamente este o problema que, como presidente da Camará de Lisboa, o Dr. Jorge Sampaio tem, assim como o tom os senhores do PS!
Como a imprensa já referiu, os senhores não podem, ao governar Lisboa, ler o mesmo discurso que usam quando atacam o Governo nesta Assembleia!

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - No entanto, e ao mesmo tempo - isso tem que ver com o tirocínio do Dr. Jorge Sampaio na Câmara de Lisboa para um eventual governo... -, tem de resolver um problema que o PS continua a ter. É que, por muito más que estejam as sondagens para o PSD, toda a gente sabe (é pena não se ter feito outro tipo de sondagem...) que o Partido Socialista tem um grande défice de credibilidade governativa!

O Sr. Alberto Martins (PS): - É o que diz o povo nas sondagens...!

O Orador: - Por conseguinte, o Dr. Jorge Sampaio... O Sr. Presidente: - Queira terminar, Sr. Deputado.

O Orador: - Eu gostaria de terminar, Sr. Presidente. Porém, o ruído é muito por parte da oposição...
Mas, como ia dizendo, o Dr. Jorge Sampaio tem de pôr vários chapéus ao mesmo tempo, tendendo assim a tapar grande parte da cara. Ora. é essa a dificuldade que os senhores pretendem encobrir com intervenções propagandísticas como as que fizeram hoje!

Aplausos do PSD.

O Sr. Presidente: - Srs. Deputados, vou dar agora a palavra, para um pedido de esclarecimento, à Sr.ª Deputada Natália Correia, terminando o período de antes da ordem do dia com as subsequentes respostas dadas pela Sr.ª Deputada Edite Estrela.
Tem a palavra a Sr.ª Deputada Natália Correia.

A Sr.ª Natália Correia (PRD): - Sr.ª Deputada Edite Estrela, eu afasto-me destas questiúnculas políticas, que nada tem a ver com a Lisboa que queremos salvaguardar, louvando a poetização da cidade com que a Sr.ª Deputada iniciou o seu discurso. Na realidade, apesar das palavras pouco simpáticas do apoélico Sr. Deputado Pacheco Pereira, a Sr.ª Deputada veio ilustrar uma riquíssima tradição poética citadina que teve o seu expoente no grande poeta Cesário Verde.

Vozes do PS: - Muito bem!

O Sr. Silva Marques (PSD): - Cesário Verde era do PSD?!

Risos.

A Oradora: - Julguei que ele era verde e não laranja! Risos.

Mas o que estão a fazer dessa Lisboa? Um incaracterístico lugar urbano de bancos e supermercados!
Pergunto-lhe: por que não conservar pequenos e pitorescos estabelecimentos lisboetas, que a civilização do gigantismo massificador está a abater, como as velhas mercearias, as velhas tendinhas? Onde estão as bibliotecas públicas nos jardins, que atraiam os jovens, em seu passeio, à leitura?

Aplausos do PRD, do PSD e do PS.

Acabam sempre por gostar de mim... Aplausos do PRD, do PSD e do PS.
Mas, como ia dizendo, tais bibliotecas proporcionavam igualmente esse prazer aos velhos que ali vão aquecer-se a uns raios de sol que a natureza, menos madrasta que a sociedade, lhes prodigaliza.
Srs. Deputados, há toda uma cultura tipicamente lisboeta que está sepultada nos arquivos das velhas sociedades de recreio e de cultura, como, por exemplo, os ensaios poéticos, em que participaram vultos da dimensão de um Gomes Leal. Do que é que se está à espera para se vir exumar essa riqueza da cultura especificamente lisboeta?!