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18 DE MAIO DE 1990 2527

O avanço da medicina criou, entretanto, falsas expectativas no público, dando lugar a frustrações, enquanto a utilização de conceitos abusivos, como o dos imperativos tecnológicos e o do "mito do poder ilimitado da ciência", vão criando situações de impasse económico a todos os governos de países desenvolvidos.
Perante estes factos, há consciência da necessidade de ajustar a educação módica a estas realidades.
As faculdades clássicas de Medicina mamem uma separação nítida entre ciências básicas e actividades clínicas: não tem viabilizado uma verdadeira selecção dos estudantes com o perfil adequado para se tomarem médicos; continuam a utilizar o peso da instrução didáctica sob a forma de aulas e prelecções a grandes grupos de estudantes; põem no professor a responsabilidade de tudo saber: o número de cadeiras vai aumentando progressivamente e as matérias dadas não constituem um todo coerente e organizado sob o aspecto pedagógico; não fomentam consensos relativamente às atitudes, aptidões e conhecimentos que todos os licenciados devem partilhar, independentemente da especialidade que vierem a optar, nem sobre a metodologia a seguir em cada matéria.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: Uma faculdade de Medicina nova estará porventura em melhores condições, à partida, de iniciar uma metodologia adaptada às realidades e à necessidade que o País, e o Norte do País em particular, tem de médicos virados para as comunidades que servem. Uma metodologia virada não só para a administração de conhecimentos, mas também para o encarar de atitudes e aptidões necessárias, bem como para pôr cobro ao acumular de informação acima dos limites recomendáveis e pôr em evidencia o que é essencial e o que é dispensável a cada momento. Uma nova escola de Medicina pode avançar para o princípio de que a educação médica de base é o início e não o fim do conhecimento que vai guiar a prática de cada médico. Os seus professores poderão definir o objectivo de ajudar os estudantes a cultivar atitudes e aptidões, que permitem a um profissional actualizar-se com eficiência ao longo da sua carreira. Um médico que respeita e cuida da independência e dignidade dos seus doentes ou utentes e também dos seus colegas. Um médico disposto a trabalhar com afinco, a vencer a fadiga e a enfrentar tão bem as situações fáceis como as mais penosas. Um profissional com espírito crítico capaz de pôr em dúvida qualquer explicação convencional e de utilizar o rigor e a exigência, passo a passo, na sua actividade diária, de utilizar sistemas de informação práticos não só no diagnóstico e tratamento, mas também na área de epidemiologia, gestão e de auto-aprendizagem. O curso de Engenharia de Sistemas da Universidade do Minho tem condições para apoiar acções determinantes nesse sentido.
Estando a medicina particularmente devotada às pessoas, utentes e doentes, a capacidade de comunicação com os outros torna-se uma área de eleição que até agora nenhuma faculdade valorizou. Outro espaço a preencher corresponde à visão da unidade entre três facetas dos seres humanos - como organismo vivo (Ciências Naturais), como membros de uma sociedade (Ciências Sociais) e como seres únicos e irrepetíveis (Humanidades). Com base neste paradigma, é possível criar licenciados capazes de exercer funções globais em todas as áreas da medicina, a começar pela área de Cuidados Primários, onde a maioria das situações - acções preventivas, pedidos de ajuda, diagnóstico e tratamento das patologias mais frequentes e sua reabilitação - pode ser enfrentada com sucesso.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: A Universidade do Minho tem espaço e tradição para levar os estudantes a assumir a responsabilidade pela sua própria formação, encorajá-los na sua participação activa, levá-los a aprender uns com os outros e com os seus professores.
A criação de mais uma escola de Medicina permitirá a redução do número de alunos para limites mais conformes com os requisitos pedagógicos elementares. Com menos alunos, acabam todos por se conhecer melhor. A expressão e consideração pelas diferenças de opinião torna-se possível; o envolvimento dos alunos é muito maior, a avaliação contínua torna-se credível; o ensaio da metodologia debruçada sobre problemas em contraste com a exposição detalhada de conhecimentos é viabilizada; a detecção e correcção de erros passam a ser encorajadas.
O capital que a saúde de um povo representa desafia as melhores previsões. A medicina pode tornar-se um investimento decisivo nesse capital desde que os seus profissionais tenham uma formação adaptada não só às necessidades individuais, como às colectivas.
As faculdades actuais tem experimentado dificuldades em satisfazer o perfil profissional requerido pelas sociedades modernas. É legítimo esperar essa satisfação na criação de uma nova escola inserida numa universidade virada para a área pedagógica desde a sua fundação, com departamentos que abarcam as três facetas anteriormente exercidas - Ciências Naturais, Ciências Sociais e Humanidades, fornecendo assim uma sólida base de desenvolvimento.
Se já em 1974 a "Faculdade de Medicina do Minho" devia ter-se tornado uma realidade, o ano de 1990 deverá ser o da recuperação dessa necessidade, para bem da região e do País.
Numa altura em que o Governo aposta decididamente na educação, em que as verbas afectas a este sector têm aumentado consideravelmente, a criação de uma escola de Medicina no âmbito da Universidade do Minho vai passar do plano das hipóteses a uma concretização a curto prazo, já que a Universidade e a população estão empenhadas neste projecto e o Governo não quer frustrar as expectativas daqueles que nele confiam e por isso também irá assumir a sua quota parte de responsabilidades para que este projecto seja uma realidade.

Aplausos do PSD.

O Sr. Presidente: - Sr. Deputado António Braga, pede a palavra para que efeito?

O Sr. António Braga (PS): - Sr. Presidente, para pedir esclarecimentos, utilizando o tempo disponível do meu partido.

O Sr. Presidente: - Supunha que o Partido Socialista estaria a guardar esse tempo para uma intervenção aquando do debate de um voto.

O Sr. António Braga (PS): -Sr. Presidente, com a natural tolerância da Mesa talvez possa fazer o meu pedido de esclarecimento.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra. Sr. Deputado.

O Sr. António Braga (PS): - Sr. Deputado Cerqueira de Oliveira, se percebi bem o conteúdo da sua intervenção, ela destinou-se a solicitar ao Governo, que o seu partido e o seu grupo parlamentar apoiam, a criação de