O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

2800 I SÉRIE - NÚMERO 83

Tarefa ingrata e difícil em que o brilhantismo na forma, a que, alias, sempre nos habituou, não conseguiu disfarçar a falta de vontade ou a impossibilidade de falar no seu congresso e no programa do governo do seu partido. Assumiu, finalmente, submetido as perguntas, que não estava aqui para falar nem do congresso nem do programa do seu partido, mas para criticar o Governo. Confirmando as nossas suspeitas, vem criticar os outros, porque não pode falar de si.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - E que, Sr. Presidente e Srs. Deputados, o congresso do PS, para além da agitada disputa pelos lugares, bem pouco ofereceu ao País. Além disso, há uma vulnerabilidade que o Partido Socialista sabe ser inultrapassável e que radica na incoerência estratégica de dois discursos políticos diferentes, um para a Camara de Lisboa e outro para o Pais.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - O Partido Socialista contou, para Lisboa, com o Partido Comunista Português e conta com ele também para governar, mas tem de esconder essa estratégia aos Portugueses, porque sabe que eles não a aceitaram.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - Talvez também por isso Jorge Sampaio, logo a seguir ao congresso, se tenha refugiado num monologo televisivo, evitando o confronto político e a presença, cada vez, mais incómoda, dos seus parceiros comunistas, apesar das declarações reciprocas de grande simpatia, como aquelas que ainda ha pouco tivemos oportunidade de assistir.
Por outro lado, o Partido Socialista é poder em muitas câmaras ao longo do Pais e aí precede exactamente da mesma forma que crítica ao Governo: sem fundamento! Clientelismo, promessas não cumpridas, falta de decisão, adiamento das questões e uma vocação empregadora para os amigos do partido.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - Por tudo isto, o PS e o seu líder tem hoje um problema de credibilidade que nem a reconhecida capacidade do seu porta-voz, hoje, aqui, na Assembleia, conseguiu ultrapassar.
Quase três anos passados de governação pelo Partido Social-Democrata, feita a revisão constitucional em algumas matérias fundamentais, mau grado as resistências oferecidas, e graças a estabilidade governativa, o cumprimento do Programa do Governo tem permitido ao País uma evolução segura no sentido de uma sociedade mais moderna, mais prospera e mais justa.
Organizou-se o Estado e fortaleceu-se a democracia, modernizou-se o País e criou-se mais riqueza, promoveu-se o bem-estar e reforçou-se a solidariedade, tem-se preparado o future apostando nos Portugueses.
Mediante a aprovação e execução de um conjunto de reformas e medidas de fundo, indispensáveis a modernização, foi lançado o processo de modificação estrutural do Pais.
A sociedade civil passou a afirmar-se como algo de concreto, com resultados bem visíveis, em termos de desenvolvimento, denotando crescente dinamismo, mobilização e confiança, respondendo de forma muito positiva as exigências de desenvolvimento do País. Uma estratégia de desenvolvimento colectivo mobilizou os varies agentes económicos, sociais e culturais, partes activas do processo de modernização. Privilegiou-se o dialogo e a concertação social na prossecução de equilíbrios e consensos. Reforçou-se o prestígio do Pais na cena internacional, lendo-se traduzido num indiscutível sucesso a presença de Portugal na Comunidade Económica Europeia.
E o Partido Socialista como encara tudo isto? De forma ligeira, utilizando na sua crítica argumentos já gastos, alguns retirados da panóplia dos seus parceiros do lado. Fruto da conjuntura, demagogia, engenharia financeira, cosmética eleitoralista, são alguns desses argumentos com que qualifica aquilo que nunca soube, nunca quis ou não foi capaz de fazer.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - Ou então, num estilo mais recente, cada vez que o Governo anuncia uma medida, diz que a tinha proposto na véspera.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - É fácil ser oposição criticando e prometendo com leviandade, mais difícil e ser Governo cumprindo com competência e seriedade.
O que propõem o Partido Socialista e o seu congresso ao País? Uma mão-cheia de nada, traduzida num catálogo de generalidades e abstracções, de lugares-comuns e piedosas intenções, esperançosamente intitulado «Bases e princípios para o programa de Governo PS».
Compreensivelmente não se deram ao trabalho de aprofundar os temas. Não compensava tão grande esforço para um objective em que já só alguns acreditam, por dever de ofício dos cargos que desempenham.
Em tempos idos, o Partido Socialista teve algumas ideias mas nunca foi capaz de as pôr em prática quando teve oportunidade para tal. Agora, nem ideias tem, limitando-se a glosar temas de todos conhecidos, que genericamente abrangem toda a acção governativa - espante-se! - antepondo-lhes a palavra «mais»: mais progresso, mais concertação, mais emprego, mais justiça. Mais, mais e melhor, sem cuidar de dizer como!
Acaba por ser o reconhecimento do mérito do Governo, mas também a revelação de uma enorme incapacidade de encontrar alternativas exequíveis e de traçar políticas inovatórias.
E assim o PS, misturando alguns arremedos liberalizantes com concepções bolorentas de que se não pode livrar, a bem de Lisboa, produziu inextricáveis contradições como as que passo a citar: «As reprivatizações representam, pois, uma oportunidade de lançamento de grandes grupos privados e de desenvolvimento de grupos públicos fortes»; ou conclusões que, eufemisticamente, poderemos classificar de redondas, como a que se segue: «Não sendo um país rico, a verdade a que Portugal não deve ser considerado um país pobre.» Bom, o Sr. Deputado Almeida Santos teve a oportunidade de encontrar aqui um meio termo, suficientemente piedoso para não sermos tão punitivos em relação a este tão enorme lugar comum. Por menos do que isto foi um conhecido diri- [...]