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2990 I SÉRIE - NÚMERO 87

tornar-se uma vertigem que não dá oportunidade às inteligências e às sensibilidades para, face ao processo da redução de independência dos poderes político, institucional e financeiro, questionarem a vaguidade das fórmulas com que se pretende alimentar a apatia. A soberania terá de deixar de ser entendida na sua forma tradicional e impõe-se um novo conceito de independência." Estas são palavras do Comissário Cardoso e Cunha.
Assim será, mas tudo isto é servido como repasto mental aos apáticos para sua maior letargia, como se ideias, conceitos, crenças enraizadas secularmente nos espíritos, desde sempre encaminhados para o. culto da Pátria, se evaporassem, de um momento para o outro, sob o efeito da varinha mágica dos mandarins da "Europa unida jamais será vencida". Que bom que vai ser!
É claro que nada tenho contra a unidade europeia, desde que ela seja o uno que compreende o diverso. E aqui é que está..., porque as diversificações nacionais reflectem diferenciações culturais que subentendem a verdade do ser dos povos - energia indomável a imposição de modelos estrangeiros-, como temos agora testemunho na União Soviética, feita campo de incêndios ateados pelas nações culturais que a integram.
Ora, a Europa em que nos integramos não é a Europa do espirito mas a do culto de um mercado que só oferece o progresso da produtividade - nisto sigo a opinião dos maiores representantes da inteligência europeia-, que inquina a própria cultura na concepção e prática de indústrias culturais, o que conduz a um consumo passivo da produção cultural.
Se queremos então preservar a nossa identidade cultural, pois que só nela pode residir o tal novo conceito de independência, não nos falta seiva para a pôr a frutificar no que é hoje entendido como vanguarda, como saída para o futuro, pela filosofia, pela nova ciência e pela própria economia, que hoje se entrelaçam com os outros saberes - uma poética da cultura ou, repetindo as palavras do grande cientista Lewis Thomas, "os cientistas podem ajudar-nos a descobrir o caminho mais curto, mas para o percurso mais longo do futuro dependemos dos poetas". Ouçamo-los. Poesia é o que não falta neste país!
A demarcação do nosso território cultural e o que temos para oferecer ao desmaiado espírito europeu, nesta psicose apocalíptica do fim das ideologias, da filosofia, disto, daquilo e até da história, é o poiêo - esse fazer poético impregnado do sentido do porvir, que acende a estrela que nos guia no caminho para o futuro. Esta é a nossa cultura, matricialmente poética, a cultura da intuição, da emoção, florescência de velhas raízes mediterrânicas que devemos valorizar na assunção de uma mediterranacidade que, por sua vez, subentende a africanidade com que culturalmente nos entendemos e teremos de entender-nos.
Este é o pendão da nossa independência, que devemos arvorar na integração europeia. Mas onde está a vontade, os meios, os projectos para trazer à luz da Europa este tesouro? Não os vejo! E mesmo aqui, neste debate, a integração europeia, com rápidas referências ao relevo da dimensão cultural - o Sr. Deputado António Guterres acentuou o seu primado, mas o teor do debute atraiu-o para outras considerações-, é exaustivamente encarada numa perspectiva política de defesa e económica, como se política e economia não fossem os efeitos de influxos culturais!
Para terminar, direi aos senhores governantes, que no âmbito da integração concedem uma breve retórica à cultura, que não basta falar dela. Importa, sim, estimular os valores que, distinguindo-a ao se realizarem plenamente, fazem da cultura o ouro do espírito de um povo, porque quanto mais formos nós, mais europeus seremos - o contrário é que não é verdade!

Aplausos gerais.

O Sr. Presidente: - Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Ministro dos Negócios Estrangeiros.

O Sr. Ministro dos Negócios Estrangeiros: - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Pretendo fazer uma rápida intervenção, aliás na sequência daquela que há pouco fiz.
Gostaria, uma vez mais, de repetir que eu próprio e o Sr. Secretário de Estado da Integração Europeia temos estado permanentemente disponíveis para participar, quer na Comissão de Assuntos Europeus, quer na Comissão de Negócios Estrangeiros, Comunidades Portuguesas e Cooperação, ou mesmo na conferência de líderes.
Um segundo aspecto que gostaria de sublinhar tem a ver com os comentários que afirmam não ter o Governo iniciativa. No entanto, recordaria que os três debates que tiveram lugar na presente sessão legislativa acerca de matéria europeia foram sugeridos ou pelo Governo ou pelo PSD...

Vozes do PSD: - Exacto! Muito bem!

O Sr. Carlos Brito (PCP): - Essa agora...! Então e as nossas interpelações?!

O Orador: - Estou a falar nos debates gerais...
Finalmente, gostava de fazer um comentário, que, aliás, entronca num outro que fiz aqui há já algum tempo. É que um partido que se reclama de alternativa tem de fazer o trabalho de casa, tem de estudar, não podendo estar passivamente à espera de que um governo - muito embora constituído por vários professores - venha aqui explicar-lhe a lição!

Aplausos do PSD.

Na verdade, não chega, nem vale esconder-se atrás de debates amplos e de argumentos de que o Governo não informa, para ler intervenções que, salvo raras e honrosas excepções, se apresentam vazias de conteúdo, não trazendo, sobre as questões concretas em que assentam, qualquer tipo de inovação.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - É exactamente a intervenção da Sr.ª Deputada Helena Torres Marques que ilustra o que acabo de dizer!

Aplausos do PSD.

O Sr. António Guterres (PS): - Sr. Presidente, peço a palavra para exercer o direito de defesa da consideração.

O Sr. Presidente: - Bem, sem deixar espiralar e ir longe de mais a figura da defesa da honra ou da consideração, tem a palavra, Sr. Deputado.

O Sr. António Guterres (PS): - Sr. Presidente, usarei somente dez segundos e apenas para dizer à Câmara que