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3266 I SÉRIE - NÚMERO 95

segundo as quais dever-se-ia avançar, até ao fim do ano, para formas de união política, na Europa, que a citada reunião europeia não consignou. Mas o Partido Socialista não diz uma linha sobre quais eram as suas propostas, anteriormente à última cimeira europeia, e, de novo, mistifica a opinião pública.
É que não se trata de saber se foi a posição portuguesa ou a francesa que ficou derrotada. A realidade é que aqueles que propunham a aceleração do processo da união política europeia ficaram substancialmente derrotados na última cimeira europeia.
Há ainda uma outra questão.
À saída das reuniões com o Sr. Primeiro-Ministro, o Partido Socialista diz que, nesta matéria, a posição portuguesa é consensual, admitindo que se verifica um consenso, quer relativamente às posições do Governo na Assembleia, quer aos debates entre o Primeiro-Ministro e a oposição. No entanto, posteriormente, no mesmo dia, através de um acto político cujo significado é de demarcação...
O problema está em que, de manhã, após reunião com o Primeiro-Ministro, os senhores podem dizer o mesmo que, de tarde, em conferencia de imprensa, mas quando realizam uma conferência de imprensa cujo sentido e apelo são distintos estão a afirmar algo diferente.
A realidade é que, em política, os actos têm um significado per si e o Partido Socialista tem flutuado sistematicamente.
Será que nos trazem uma dificuldade com esta vossa conduta? Trazem, sim!
É que em relação a tudo que digamos que o Partido Socialista afirmou, posteriormente, o Sr. Deputado António Guterres vem a esta Casa e diz que não o disse. Em relação a tudo o que o PSD diga que é a posição do Partido Socialista, mais tarde, nos debates nesta Assembleia, os respectivos membros vêm dizer: «Nós não dissemos isso, mas sim o mesmo que vocês estão a dizer.»
Ora, isto cria uma dificuldade objectiva ao debate. Chama-se a isto lançar a confusão sobre o debate.
Portanto, o Sr. Deputado António Guterres roais não veio aqui dizer do que aquilo que o Sr. Primeiro-Ministro já tinha dito relativamente as posturas do PSD, partido que, aliás, foi o primeiro a dizê-lo em público. Isto é, não aconteceu aquilo que o Sr. Deputado António Guterres afirmou na sua intervenção.
Criam-nos uma dificuldade? Pois criam! Porque apropriam-se de uma parte daquilo que foi discurso do Sr. Primeiro-Ministro como se fosse discurso do Partido Socialista!

Uma voz do PS: - Mas vocês não têm discurso!

O Orador: - Temos, temos!
Há uma grande diferença entre os nossos dois partidos. É que os senhores têm pressa, enquanto nós queremos andar devagar!

Risos do PS.

Mas, atenção: andar devagar em matérias tão delicadas quanto esta é a única maneira de chegar ao longe; ter pressa, implica uma responsabilidade especial. E os senhores têm de dizer-nos, claramente, para onde querem ir!
Ora, quando ficam silenciosos sobre artigos jornalísticos como o do Dr. Manuel José Homem de Mello, que diz, expressamente, que Portugal deixará de ser Portugal, que Portugal acabará por ser uma autonomia cultural ou regional, objectivamente, os senhores estão a deixá-lo afirmar isso sobre o vosso próprio silêncio.

Aplausos do PSD.

O Sr. António Guterres (PS): - Sr. Presidente, peço a palavra para uma interpelação à Mesa.

O Sr. Presidente: - Srs. Deputados, de maneira nenhuma deixarei «enxertar» um debate sobre a integração europeia na sessão de hoje.
Entretanto, permito que o Sr. Deputado António Guterres faça uma interpelação à Mesa com a duração de três minutos.
Tem a palavra, Sr. Deputado.

O Sr. António Guterres (PS): - Sr. Presidente, não demorarei sequer três minutos.
O Sr. Deputado Pacheco Pereira e o PSD fazem uma coisa a que, na minha terra, se chama «fazer a festa, deitar os foguetes e apanhar as canas». Aliás, trata-se de uma técnica de «agit-prop», própria dos partidos de extrema-esquerda e que, seguramente, o Sr. Deputado Pacheco Pereira transportou para o estado-maior do PSD.

Vozes do PS: - Muito bem!

O Orador: - Esta técnica é muito simples: inventa-se o que conviria que um partido tivesse dito, a seguir combate-se o que se inventou e depois vem tentar dizer-se que, ao dizer aquilo que verdadeiramente pensa, o partido pensa coisas diferentes daquilo que foi inventado!

A Sr.ª Edite Estrela (PS): - Muito bem!

O Sr. Silva Marques (PSD): - O que é, precisamente, aquilo que vocês próprios estão a fazer!

O Orador: - Ora, esclareçamos as coisas!
Em primeiro lugar, o que afirmou o Dr. Manuel José Homem de Mello foi dito pelo próprio e o PS não está de acordo com o que ele disse - ponto final!
Em segundo lugar, em matéria de união económica e monetária, aquilo que o PS disse foi sempre, sempre, coerente: nunca dissemos que deveríamos aderir já, mas dissemos - isso sim, e sempre! - que deveríamos estar em condições para aderirmos já, e que se não estamos a culpa é do Governo!

A Sr.ª Edite Estrela (PS): - Muito bem!

O Orador: - E mais: dissemos que deveriam iniciar-se já negociações e aplicar-se, imediatamente, um programa anti-inflacionista, elaborado através de um consenso entre o Governo e os partidos da oposição, a fim de que podermos aderir no momento certo, que, em nossa opinião, é durante o ano de 1991.
Peço desculpa, mas o Sr. Primeiro-Ministro nunca disse isto que acabei de expor!
O mesmo se passa em matéria de união política europeia. Isto é, o Sr. Primeiro-Ministro nunca disse o que eu próprio afirmei no debate respectivo nem aquilo que hoje aqui afirmei. Na verdade, ele nunca definiu nenhum modelo, pelo que, verdadeiramente, continuo sem saber o que é que pensa o Sr. Primeiro-Ministro, salvo